Há quem afirme que a saúde pública em Belém ainda não chegou ao caos, pois ainda pode piorar. Claro que pode piorar. Sempre pode. Todavia, do jeito que se encontra, já merece o epíteto. Isso se comprova pela ausência geral de infraestrutura. Tanto é verdade que, com o incêndio do Pronto Socorro Municipal da 14 de Março, a necessidade de transferência dos pacientes causou pandemônio nos demais hospitais.
A morte do agricultor Antônio Ferreira Chaves, de apenas 37 anos, portanto jovem e produtivo, serve de síntese para a conjuntura, que se arrasta de longuíssima data. Vejamos:
1. Ele veio de Mãe do Rio, porque em sua região não teve acesso a tratamento adequado. Exprime o êxodo sanitário que pressiona Belém, já que o interior do Estado vive ao Deus dará.
2. O paciente recebeu alta após uma semana, sem estar recuperado. É provável que o motivo seja a necessidade de liberar o leito. Despacham-se pessoas doentes para poder tratar de outras, mais doentes. Isso, contudo, tende a não resolver o problema de ninguém.
3. Retornando ao PSM em mau estado, não recebeu o tratamento adequado, somente o cala-boca dos pobres: soro e "observação". Ou seja, não são praticadas condutas eficientes para debelar o mal que acomete o doente.
4. Foi acomodado num leito improvisado sobre duas cadeiras, apoiando a cabeça com uma sacola de roupas. Nem sequer uma simples maca ou um travesseiro estava a sua disposição.
5. Passando muito mal, vomitando sangue, nem assim foi atendido. Os funcionários do PSM, como de praxe, mantiveram os familiares à espera. Parecem estar convictos de que, se tudo é caótico, não há que possam fazer. Então espere a sua vez. O tempo que for necessário. Essa é a síndrome do não posso fazer nada, que caracteriza os serviços públicos em geral.
O caso de Antônio Chaves é uma espécie de raio-X. Tudo falta, inclusive sensibilidade em relação ao sofrimento de seres humanos.
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