O problema dos regimes autoritários - ou melhor, um deles - é que tudo é questão de Estado. O que ajuda bastante a imprensa a dar continuidade a sua campanha contra a China. Veja-se o estardalhaço em cima da cantoria infantil na abertura das Olimpíadas de Beijing. Quem se apresentou foi Lin Miaoke (9). Era visível que estava dublando, mas eu, em minha ingenuidade, supus que ela tinha gravado a canção ("Ode à Pátria", tema recorrente em regimes autoritários) e, na hora H, dublasse para não haver risco de erros. Esse procedimento é comum em eventos grandiosos. O problema foi a revelação posterior de que a dona da voz era Yang Peiyi (7), que cantou, mas não podia aparecer, pelo singelo motivo de ser gordinha, feinha e ter dentes desalinhados.
Já seria muito feio reconhecer que a menina foi rejeitada porque os organizadores do evento queriam passar uma imagem de "perfeição" - inclusive no sentido étnico, bem entendido. Mas tratar isso como assunto de interesse nacional, é demais. A pobre Peiyi deve ser hoje, com todo esse salseiro, a criança mais deprimida e sem auto-estima do universo. E Miaoke, por sua vez, corre o risco de ficar conhecida como bonitinha, mas sem talento. No final das contas, as duas se deram mal, a menos que tenham presença de espírito para pular a fogueira que os adultos, com suas maluquices, acenderam.
Boa sorte para as duas.
5 comentários:
Como você saberia desta ridícula "questão de Estado", sem a imprensa?
Eu não saberia, claro. Afinal, não consegui encontrar meu ingresso para a cerimônia de abertura, que eu julgava ter posto no bolso do paletó, e por isso não estava lá.
Pelo que entendi, você já se ofendeu porque fiz uma alusão à sacrossanta imprensa. Mas eu só disse que existe uma campanha contra a China! Vai me dizer que não existe? Li um excelente artigo - de um jornalista, diga-se de passagem - sobre essa campanha, que motivou a alusão. Tentarei encontrar o link para divulgar aqui. Mas foi só isso.
Caso não tenha percebido, a postagem deixa claro que não tenho grandes simpatias pelo regime político chinês. Por sinal, o mote é justamente tratar-se de uma "questão de Estado" ridícula.
Deixa eu ver se entendi: você condena o regime chines por tudo o que leu na imprensa. E lamenta a burrice dos chineses em fornecer munição para a imprensa continuar sua campanha contra a China.
A culpa é do mordomo!
Não, anônimo, você definitivamente não entendeu. Aqui vai uma dica: eu jamais formulo uma opinião sobre nada com base no que leio na imprensa.
Você não se baseou na noticia da pequena cantora chinesa para fazer seu comentario?
Você não comentou que a noticia "ajuda bastante a imprensa a dar continuidade a sua campanha contra a China"?
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