Pernas de fora, linguagem coloquial, suor na testa, postura largada na cadeira, piadinhas... Foi uma festa popularesca o anúncio da instalação da siderúrgica de Marabá. Lula, Ana Júlia e o generosíssimo Roger Agnelli nunca foram tão amigos de infância. Agnelli, por sinal, deve ter nascido com a bandeira do Pará tatuada no peito, de tanto que nos ama e se importa conosco.
Lendo as matérias sobre o convescote, pensei nas inúmeras entrelinhas que o discurso desenvolvimentista certamente continha. Pelo menos um aspecto não ficou nada subliminar: alegadamente, Agnelli atendeu a um pedido de Lula para antecipar a entrada em operação da siderúrgica em um ano. Mas aí se virou para Ana Júlia e lembrou-a que só pode cumprir o prometido se o licenciamento ambiental for logo concedido, sem os postergamentos que incidem, por exemplo, sobre o projeto de exploração de níquel no Rio Vermelho.
Recado dado, recado entendido. Para essa tchurma, licenciamento ambiental é apenas uma chatice burocrática. Sabemos que nossos órgãos públicos são pródigos em ineficiência desde que o Brasil é Brasil e a Secretaria de Meio Ambiente jamais foi modelo de rapidez. Todavia, o que não pode ser esquecido é que, muitas vezes (para não dizer na generalidade dos casos, posto não dispor de dados para corroborar minha suposição), os projetos são de fato muito agressivos ao meio ambiente e o licenciamento fica condicionado à proposição de medidas mitigadoras viáveis. Estas, contudo, são odiadas pelos proponentes, porque decerto implicam em maiores custos de instalação e provavelmente em menores lucros. E isso não pode ser admitido. Aí os projetos empacam e, não, a culpa não é do governo.
Vale lembrar, sem trocadilhos, que a mineração é uma das atividades econômicas mais destrutivas e, por isso, o seu licenciamento deve ser muito bem pensado. Não é apenas uma questão de tempo.
Seja como for, agora que a Vale decidiu, finalmente, destinar uma fraçãozinha do seu lucro para investimentos no Pará, a politicalha local vai colocá-la no lugar mais caricioso do coração. E todos ficarão felizes. Todos, claro, que estejam em cima do palanque.
Nenhum comentário:
Postar um comentário