quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Cinelândia

A área de cinema em vídeo anda animada nesses últimos tempos. Clássicos como O Poderoso Chefão (The Godfather, 1985) está no mercado com uma cópia primorosa que promete trazer o virtuosismo cromático do original. Quem assistiu os dvdes em alta resolução diz ser uma experiência imperdível para o cinéfilo. Ainda na seqüência comemorativa dos 25 anos do filme, a editora alemã Taschen publica The Godfather Family Album, volume de grande formato, com 440 páginas de texto e fotos raras da produção do filme. O livro tem edição especial constituida de 1000 exemplares assinados pelo Steve Schapiro, fotógrafo do set, e 200 igualmente autografados e enriquecidos com duas fotografias originais. Por essa razão mesmo o preço da edição mais comercial é dos mais salgados: EU$700.
Na esteira das homenagens aos grandes mestres do cinema, chega ao mercado brasileiro Berlim Alexanderplatz (Versátil), a monumental obra de Rainer Werner Fassbinder. A recuperação dessa obra com 16 horas de duração, distribuidas em 13 capítulos e epílogo foi produto da parceria entre a Fundação Rainer Werner Fassbinder e várias instituições culturais internacionais. Uns bons anos passados, vi alguns episódios do filme na televisão brasileira, sofrendo com as limitações da transmissão e, claro, os comerciais. Pretendo assim vê-lo de novo, na íntegra e em condições tecnológicas mais avançadas, ainda que nada se compare a riqueza de matizes que a cópia de 35 mm traz para os olhos do espectador, na penumbra da sala de projeção. Contudo, perdi a projeção no Cine Bombril em São Paulo, outubro passado.
Berlim Alexanderplatz é monumental não pela duração da narrativa. Também pela dificuldade de adaptar-se para o cinema a polifonia narrativa do romance de Döblin e sobretudo porque se trata do melhor registro da ambiência social alemã nos anos entre guerras, e de suas conseqüencias no empobrecimento material, moral e político que os levou à tragédia do nacional-socialismo e a divisão territorial que perdurou até 1989, quando então ruiu material e politicamente o Muro de Berlim. Toda a obra de Fassbinder, integrante de uma geração torturada pelo passado recente e por um presente sombrio, traz em diferentes planos essa tensão metafísica, uma dor moral transcedente. Para alguns Belim Alexanderplatz representa o testamento político desse notável realizador, falecido aos 37 anos em decorrência do uso de drogas.

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