domingo, 21 de dezembro de 2008

Devo, não pago, nego enquanto puder

Situação 1: Você estaciona o seu carrinho - comprado em longas e penosas prestações - em uma rua qualquer da cidade. Vem uma das chuvas típicas de Belém e um imenso galho da árvore ao lado, digamos que sem o devido tratamento por parte dos técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, despenca sobre o seu veículo, afetando a estrutura do habitáculo. Conserto inevitável e caro. Você exige da prefeitura a reparação do dano. O pedido é negado administrativamente. Você ingressa em juízo e, anos mais tarde, consegue uma sentença favorável, que demora outros tantos para transitar em julgado. Quando finalmente a requisição de pagamento é expedida, a prefeitura anuncia que não vai pagar "este ano". Pura e simplesmente.

Situação 2: Técnicos da Secretaria Municipal de Saneamento fazem um serviço na rua de sua casa. A partir daí, o esgoto que antes fluía normalmente começa a retornar. Sua casa vira, literalmente, um monte de merda. Você pede providências e os técnicos até retornam ao local, mas dão respostas evasivas e não resolvem o problema. Você gasta do próprio bolso e manda fazer uma perícia, cujo resultado confirma que um erro na execução da obra pública é a causa do seu infortúnio e que as suas instalações estão corretas. Você exige da prefeitura a reparação do dano. O pedido é negado administrativamente. Você ingressa em juízo e, anos mais tarde, consegue uma sentença favorável, que demora outros tantos para transitar em julgado. Quando finalmente a requisição de pagamento é expedida, a prefeitura anuncia que não vai pagar "este ano". Pura e simplesmente.

Situação 3: Um parente seu passa mal e é levado ao Hospital de Pronto Socorro Municipal. Lá, a despeito de seus veementes apelos, não recebe atendimento e morre à míngua, sofrendo. Há inúmeras testemunhas da omissão. Você ingressa em juízo - para isso nem pense em medidas administrativas - e consegue uma indenização por danos morais, após alguns anos. Mais uns tantos anos e a sentença trasita em julgado. Quando finalmente o precatório é expedido, a prefeitura anuncia que não vai pagar "este ano". Pura e simplesmente.

As três situações acima são tão hipotéticas quanto plausíveis, no contexto das reclamações que a todo momento escutamos contra os serviços públicos municipais. O que há em comum entre elas? É que não adianta você ter sido prejudicado, não adianta você estar no seu direito - inclusive reconhecido pelo Judiciário. Você não vai receber o seu dinheiro este ano. Simples assim. O motivo? Prefiro não comentar.
Só lembro que os governos federal e estadual (este último desde o ano passado) anunciaram que não dariam calote e estão cumprindo a promessa. Só o Município de Belém, com a marca da qualidade e do caráter que lhe foi dada, passa um drible no cidadão prejudicado, não explica nada e fica por isso mesmo. A informação do calote, publicada pela imprensa, foi confirmada por um conhecido que ocupa alto cargo na Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos. "Não vamos pagar nada." E riu.
No próximo ano, o prefeito será o mesmo. Quem sabe os credores recebam. Graças a Deus, eu não sou um deles.

4 comentários:

Anônimo disse...

Meu Nobre, eu venho falando há tempos sobre a situação, o fato é que o Judiciário paraense não funciona, isso serve para tudo,para casos de violação de seus direito, nós não temos aonde recorrer. Eis uns dos fatores da violência desenfreada em nosso Estado. É a certeza da IMPUNIDADE, se o sujeito tivesse a certeza da punição, mesmo que pequena, pensaria dez vezes antes do cometimento de qualquer delito. As pessoas invadem as casas dos outros, não pagam compromissos,e, sabe o que esses cometedores de coisas falam "Procura teus direitos" Onde meu deus. Eis o grande fato gerador de violência é a preguiça do judiciário.

Anônimo disse...

Simples assim, não ? Esse rizinho ofensivo está virando moda por aqui. Quando não há argumentos justos, mas muita cara de pau, é nele que os improbos se escudam. Oh! céus.

abs

Anônimo disse...

Beuno blogging!

Yúdice Andrade disse...

Agradeço as manifestações, sobre as quais não faço nenhum comentário específico por se alinharem com o pensamento reinante na postagem. Voltem sempre.