sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Peguei um busão no Norte

Sob o título acima, segue a crônica do bem-humorado advogado Lafayette Nunes, dono do Xipaia. Além da crítica, pertinentíssima, o texto é muito bacana:

Desde meus tempos de universitário não “pegava um ônibus”. Faz tempo. Uns 13, 14 anos. Hoje, de manhã, vim para o escritório num busão!

Três coisa, apenas, mudaram de lá pra cá. O resto continua a mesma coisa. “Ê, ê, ê, ê, ô, ô, ô… vida de gado, povo marcado, êê… povo feliz(?)!”

Primeira mudança é a entrada e a saída. Ou melhor, o fluxo do gado. Agora, entra-se por onde se saía, e, sai-se por onde se entrava. A outra é um maquininha que fica ao lado do cobrador. É a “roleta da meia-passagem”. De cada dez, oito o leitor não funcionava direito. E, aí, era uma tal de “passar a tarja” no uniforme, na calça, no cabelo, e… pííííí! Liberado.

Mas o resto é ainda o resto, na melhor e na pior interpretação da sentença. De manhã e o ônibus já estava uma bagaça. Imundo, sujeira pra todo lado. E antes que se coloque o usuário como culpado, estou falando de sujeira perene, encruada, fixa e imutável. O barulho do motor, no “pé-do-ouvido” do motorista, e este, por sua vez e participação na tortura, continua parando antes da parada, depois da parada, longe da parada e nem parando na parada. Para o motorista, parecia que ponto de ônibus era coisa de desocupado. Parar pra quê?

Coitados do estudantes. Estes continuam tendo o mesmo tratamento de sempre. Ou seja, nenhum tratamento. Deu pena. Passamos por uma escola - ps.: e olha que militar - ps2: putz, e daí?! - o motorista nem parou direito. Continuou movimentando o ônibus e as crianças (crianças mesmo, de 10, 12 anos, no máximo) se virando (nesta hora pensei em meter o bedelho, mas o motorista tinha uma capanga suspeitíssima do lado, na janela. Acovardei).

A suspensão dos ônibus continua “batendo seco”. O cóxis acusa o baque. As janelas continuam tocando samba desafinado. Todas frouxas. O cobrador continua trepado e mal-acomodado, e descontando em quem passa na sua frente. Ou seja, todo mundo. E sem troco, como sempre, como nunca.

Uniforme para o motorista e cobrador? Para quê? São todos ricos. Recebem altos salários. Que utilizem suas roupas de grife. Rasgou? Gastou? Vão correndo comprar no shopping mais perto. Uns fanfarrões!

“É duro dar mais do que receber”. Olhando as caras, percebi que Belém-longe-da-propaganda-e-da-política continua a mesma e todos indo para lugar nenhum.

E a terceira novidade é uma involução. No vidro dianteiro direito, escrito com uma espécie de pincel e tinta branca, do tipo “transporte clandestino”, o nome de um banco, de uma loja de roupas e de Icoaraci, para “posicionar” o usuário acerca do itinerário. É de pasmar e esmorecer!

Em Fortaleza, os ônibus têm visor luminoso digital e animado na frente. Dizem que em Manaus, os ônibus têm ar-condicionado.

-Táxi!

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