Hoje é um dia triste na vida de muita gente: 30 de abril, o prazo fatal para a declaração de ajuste anual com o detestável Receita Federal, assim como para depositar o dinheirim do governo, se você não é daqueles privilegiados que conseguem restituição. Também é dia de azáfama na Internet e na vida dos contadores – estes, os únicos com alguma propensão de felicidade nesta data, seja porque aumenta o faturamento devido ao maior atendimento a clientes, seja porque conhecem os meios para que esse faturamento não escoe pelo sumidouro que é a fazenda pública.
Admiro os contadores. Sujeitos afortunados, eles! E um ilustre membro dessa categoria me provou como tenho perdido dinheiro nos últimos anos, por não saber preencher uma declaração que preste! E, por favor, não estou falando em sonegação, mas em usar os mecanismos legais que nos permitem economizar, mecanismos dos quais eu não tinha a menor ideia.
Este ano, minha declaração não ficou para a última hora. E a tristeza de ter que pagar imposto, além do muito que já me foi roubado na fonte, é compensada pelo alívio na intensidade do prejuízo, sensivelmente reduzido em relação aos anos anteriores. Afinal, este ano tenho uma dependente! E além do desconto geral com ela, ainda contam as despesas médicas. Afinal, bebês consomem uma fábula com as vacinas dos primeiros meses de vida. Além da satisfação por saber que garanti a imunização de minha filha, ainda posso comemorar a aplicação do dinheiro: melhor gastar o meu com uma clínica do que com o governo. Aliás, dar dinheiro para qualquer picolezeiro de rua é melhor do que dá-lo para o governo, porque sabemos para onde vai e usufruímos dele, de algum modo.
Quanto à revolta pelo que se faz com o produto da arrecadação neste país de corruptos, cansei de falar disso. Só consigo me recordar da canção O leão, gravada por Fagner para o musical que a Rede Globo exibiu no dia das crianças de 1980, A arca de Noé, com composições de Vinícius de Moraes, de onde extraí o verso que dá título a esta postagem.
Com efeito, a goela da Receita Federal é uma fornalha insaciável e perversa. E assim como o leão retratado na canção assiste placidamente à luta entre um tigre e um leopardo, até que os dois se cansam para então matar um com cada mão, o Leão do governo passa o ano inteiro assistindo ao brasileiro trabalhar, esfalfar-se para ganhar o seu salário, para sobreviver, para tentar crescer, e quando chega esta época mata cada um de nós com uma titânica mordida.
Na imagem, uma representação simplificada do sistema tributário brasileiro, mostrando o governo e você, contribuinte.
E aí, Leão, foi Deus quem te fez ou não?
3 comentários:
Como já andei dizendo por aqui e em outros blogs, deve ser por isso que alguns flanares andam com um certo "hiato criativo".
Deve ser sim.
Rsssss
Égua, isto que poderíamos dizer, e digo:
MÉRRMÃO, QUE CARCADA!!! rsrsrsrs
excule*
*não digo que estes caracteres nos dizem algo... rsrsrs
A época do imposto de renda, que emenda daqui a 15 dias com o IPVA, provoca-me hiatos, sim, Barretto, mas não são criativos. Melhor nem comentar.
E é assim que me sinto, Lafa. Exatamente assim.
Postar um comentário