segunda-feira, 4 de maio de 2009

Dias de Hipocrisia

Do blog do Noblat, pautado pelo Quinta Emenda:

"Ainda vou criar o Dia da Hipocrisia", debochou Lula do auê em torno do uso ilegal por parlamentares de passagens aéreas pagas pelo Congresso.
Tolice.
O “Dia da Hipocrisia” é todo dia. E Lula, que chegou ao poder apontando o Congresso como reduto de 300 picaretas, é forte candidato a sair de lá como um caro símbolo da hipocrisia nacional.
Fernando Henrique Cardoso não sugeriu certa vez que esquecessem parte do que escrevera no passado?
Pois bem: ou Lula retira sua famosa crítica aos picaretas do Congresso que “só pensam nos seus próprios interesses” ou escuta calado que ficou com a cara deles.
O poder cobra um preço alto aos que o exercem.
Para governar, Lula escolheu se aliar aos picaretas do Congresso, satisfazer seus desejos e até a sair em sua defesa. Foi o que fez novamente na semana passada sem trair o menor sinal de vergonha.
Depois de o Senado e da Câmara dos Deputados reconhecerem que a esbórnia por lá estava demais, e de anunciarem algumas providências para contê-la, surgiu Lula a destilar um monte de sandices.
A primeira, por esperteza, a seu favor: “Não acho um crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir a Brasília”. Ele já deu.
A segunda em favor dos seus sócios: “Graças a Deus, nunca levei nenhum filho meu para a Europa. Mas um deputado levar a mulher para Brasília, qual é o crime”?
O crime é o seguinte, presidente. No Direito Privado, tudo o que a lei não proíbe pode ser feito. No Direito Público, só pode ser feito o que a lei expressamente permite.
E a lei não permite o uso por particulares de passagens aéreas fornecidas pelo Congresso a senadores e deputados para viagens regulares entre Brasília e seus Estados – com uma passadinha no Rio de Janeiro, é claro, que ninguém é de ferro.
Quem paga as passagens somos nós, pagadores de impostos.
Entendeu, presidente? Ou quer que desenhe?
Pouco importa que o desrespeito à lei fosse antigo.
A antiguidade não desidrata o desrespeito nem absolve o crime cometido.
Senadores e deputados se dizem perplexos com a reação da sociedade às suas velhacarias.
Coitadinhos... Morro de pena deles.
Não se deram conta a tempo de que a sociedade está mudando - mais devagar do que seria desejável, mas está. E que agora presta atenção ao que antes desprezava.
Levem a internet a sério, seus estúpidos. Metade – ou mais - dos brasileiros está ligada nela.
Lula assegurou seu lugar na História por uma série de bons motivos.
Evitou inovar em matéria de política econômica. O país cresceu. Pos os pobre em definitivo na agenda nacional. E se conformou com os dois mandatos consecutivos previstos na Constituição.
Mas é fato que também passará à História por ter sido um presidente tolerante, relapso e até mesmo cúmplice em episódios que só serviram para aviltar a política e seus principais atores.
Exemplos?
Poupem-me. Eles existem a mancheias.


Junte-se mais esta declaração infeliz (para dizer o mínimo) do presidente Lula àquela feita em Paris, há uns quatro anos, sobre a normalidade da ocorrência de recursos não contabilizados nos caixas de campanha dos partidos e se tem uma clara ideia de como funciona a cabeça dos políticos brasileiros.

Como disse o próprio presidente, ao beijar a mão de Jader Barbalho na campanha de 2006, isto é que é aula de Ciência Política.

5 comentários:

Anônimo disse...

E mais grave, tem gente que acha isso bonito. Lula é o supra-sumo da imbecilidade.

Francisco Rocha Junior disse...

Mas não é bonito mesmo, das 18:24. Mas a conclusão a que se chega é justamente o contrário da sua: Lula é muito esperto, para o bem e para o mal também. Imbecil? Nem um pouco.

Anônimo disse...

Caro Francisco, se o comportamento do Lula é de uma pessoa esperta, eu prefiro ser o maior imbecil da face da terra. Com todo respeito, a mim ele nunca enganou. No mínimo, ele é um grande crápula que se faz de leso é os comparsas riem de suas ignorâncias.

Francisco Rocha Junior disse...

Das 8:35, opinião é que nem bunda: cada um tem a sua.
No entanto, é impossível um imbecil chegar à presidência da República, mormente com níveis tão altos de popularidade.
Se ele se faz de leso, então mesmo é que não é um imbecil; a ser verdade o que você diz, ele tem um foco nesta pantomima e, pelo que se vê, dá certo. Lesos somos nós, ou pelo menos cerca de 70 a 80% da população, pois não?
Mas o foco da postagem não é este, ainda que o debate aqui seja livre. O que quis evidenciar é o cinismo que, espertamente, todos usam - Lula ou qualquer outro político - para defender seus interesses patrimonialistas. É que isto o que deve ser destacado negativamente, no meu entender.
Obrigado pela contribuição. Venha sempre.

Lafayette disse...

Quando o Lula ganhou a primeira, dias depois da posse eu estava em Sampa.

Batendo papo, numa mesa de espera-de-mesa, com um dos maiores e "mais grande" dos advogados daquelas plagas (e do Brasil, pois sim), que tenho a honra de ser amigo, fiz um provocação (a conversa foi mais ou menos assim):

-O Lula finalmente levou. Só neste Brasil que um cara burro leva o cargo máximo da nação (ps.: só provocação pois nunca pensei isso do cidadão).

Meu amigo, do alto de seus 70 anos me olhou, riu fácil e disse:

-Caro amigo, conheço o Inácio (ele o chama assim) desde sempre. Sempre fui advogado do empresariado da Fiesp.

-Vi ele nascer na política sindical. Sentei várias vezes em mesas de negociações coletivas. Ele lá, com sua equipe, e eu cá, com a minha. Ele matava a pau!

-Com uma palavra, com um gesto, com um espirro, ele comandava, no ato, uns 200 mil empregados, que nem queriam saber do que se tratava. Ele mandava, eles faziam. Cruzavam os braços, faziam piquetes e tudo mais. O Inácio fará da presidência, seu sindicato maior.

E, finalizou: -Quem foi presidente dos sindicatos do ABC, pode ser tudo, menos burro!

Tomei um gole do café, e fomos direto pra mesa liberada.

gablog