Think before you think.
(Stanislaw Lec)
Enquanto em países que legalizaram a pena de morte o ofício dos atiradores de elite (sniper) é cercada de sigilo de segurança e por motivos éticos óbvios, aqui no Brasil é o contrário. Além da notícia com a identidade do atirador, acompanha a foto. Está na hora de limparem a imprensa deste país das pocilgas que circulam aqui com esse nome!
4 comentários:
Devemos ter cuidado com aquilo que desejamos. Eu pergunto, quem você acha que está a altura dessa tarefa?
Não que eu discorde de você quanto a irresponsabilidade da divulgação da identidade do sniper. Mas permita uma ressalva, tudo indica que ele mesmo concedeu entrevista e talvez tenha até se deixado fotografar. Como fazer então nesses casos?
O P.I.G atua, mas precisamos cuidado para não generalizar. O problema me parece um pouco mais profundo e parte dele está enraizada na alma da sociedade brasileira.
Olá, ASF.
Não há dúvida; o sniper concedeu que revelassem a identidade dele.
Entretanto, antes de redigir a matéria caberia ao repórter alguns questionamentos que, a seguir, nomeio:
1) A publicização da identidade policial poderia contribuir para o fortalecimeto da conduta da polícia carioca, conhecida pela prática de atirar primeiro e perguntar depois?
A resposta óbvia seria um talvez, mas um talvez fortalecido no contexto das relações polícia e crime numa cidade como o Rio de Janeiro. Se fosse um pouco mais perspicaz, o repórter lembraria de Mariel Mariscot, um dos homens de ouro da polícia civil do RJ nos idos 60-70, tão incensado pela imprensa à época, que acabou derivando para o lucrativo crime de extermínio, entre outros, antes de ser ele próprio executado no centro do Rio, quando ia se reunir com bicheiros.
A duas outras perguntas
2) Dizer quem é o sniper, apontá-lo, interessa a sociedade?
3) A revelação tem importância para a susbtância da notícia?
Essas duas últimas perguntas têm respostas claramente negativas e seriam suficientes, mesmo sem o contexto da primeira, para que não constasse da matéria a identidade e a foto do policial.
Quanto a quem está a altura da tarefa de disciplinar o abuso da imprensa, no meu ver, é a sociedade brasileira que deve se organizar e sensibilizar as autoridades para que estabeleçam limites éticos para a produção de informação.
O governo Lula tentou uma iniciativa no sentido de disciplinar os abusos nessa atividade de interesse público. Contudo, como não havia organização suficiente da sociedade para reagir à resistência dos cardeais da imprensa brasileira, a idéia terminou naufragando para alegria do PIG.
Se ajuda ao excelente debate iniciado, gostaria de lembrá-los que, nos países onde se adota a pena de morte, os executores são severamente protegidos de identificação. O cuidado é tanto que, quando da aplicação da injeção letal, p. ex., três dispositivos são acionados simultaneamente, cada um por uma pessoa diferente. Ninguém fica sabendo qual deles apertou o botão que efetivamente matou o condenado. Assim como não sabemos quem acionou a eletricidade, nas execuções na cadeira elétrica. Mais recentemente, surgiram artefatos mais avançados, que restringem a atuação humana. Tudo isso para que não se saiba quem foi o funcionário que matou o condenado, preservando-o de riscos. Afinal, sempre se pode descobrir a identidade de quem atua nessa função. Se esses nomes vierem à tona, ainda assim não se saberá quem eles mataram ou, até, se efetivamente mataram.
E estamos falando de uma morte resultante de condenação definitiva, de acordo com as leis legitimamente vigentes no país.
Mas isso ocorre em sociedades que preservam e respeitam as suas instituições e as pessoas que as fazem funcionar. Muitíssimo distante do Brasil.
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