quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Diz-me em quem votas...

Triste realidade.

O assunto já é antigo, mas volta e meia retorna à baila. A história narrada pelo professor Fábio Castro em seu blog espelha bem o estado de coisas em que vivemos:

Quanto custa a honra de um político?

Um amigo, jovem advogado, pagou R$ 720,00 por um dvd com a gravação que mostra um político local roubando material de construção de um vizinho. Meu amigo mora no mesmo condomínio. Foi procurado por um funcionário de lá, sujeito que se frustrou tentando fazer a primeira chantagem da sua vida. O pobre obteve a gravação e a ofereceu para o político ladrão por R$ 20 mil, mas o político disse que era muito. Baixou para R$ 10 mil e depois para R$ 5 mil, mas o político, que tinha topado de má vontade, acabou desistindo de comprar a própria honra, dizendo que a gravação “nem tinha atos libidinosos”. Bom, sexo, como se sabe, paga sempre mais. O chantagista, frustrado, ameaçou botar o vídeo da internet, coisa e tal. "Pode botar, dane-se, disse o político". Nestes dias de crise e criatividade, a honra de um sujeito está valendo mesmo pouco. Meu amigo, sem ter projeto de uso para o dvd, arrematou-o por R$ 720,00. Seria só 700, mas o chantagista frustado, antes de sair, perguntou se não ir rolar “o do Círio”.

É comum dizer que os Parlamentos e a Administração Pública refletem a ética do eleitorado. Se os eleitores são aéticos, os políticos o serão, porque representantes daquilo que é, de fato, a sociedade. O post de Fábio Castro exemplifica o conceito de modo insofismável. Teremos sempre este tipo de representação, se não nos submetermos a uma mudança radical de modelos de comportamento, que só um choque educacional e cultural permite.

2 comentários:

Prof. Alan disse...

Dr. Francisco, Colega de Profissão e de Blogosfera, há algum tempo, no blog da Waleiska, fiz o seguinte comentário: quando alguém fala que vai votar em fulano (algum político safado), eu respondo: "olha, eu sou servidor público concursado, bem ou mal vou continuar comendo, andando de carro e pagando minhas contas (a Unimed e a escola das crianças inclusive)".

Quem tem que pensar nas consequências é quem depende de ônibus, escola e hospital público...

E aí acontece o seguinte: eu, que tenho carro, plano de saúde, escola particular (em resumo: não dependo tanto assim do governo) voto com o maior cuidado, pra não votar num safado - pelo menos não num notório...

E a d. Maria e o seu João, que dependem de busão, escola e hospital público, votam conscientes e de cara limpa num safado conhecido e rematado, que vai ferrar ainda mais a vida deles...

É isso que tem que mudar. Quando penso que o Amapá deu 16 anos de mandato pra um Sarney que não fez absolutamente nada por eles... Cara, chega me dá uma revolta, um sentimento ruim! Que votassem a primeira vez eu entendo, no primeiro logro a safadeza é do político. Mas do segundo em diante é burrice do eleitor...

E nesses tempos de internet, lan house a 1 real a hora, com a TV presente em 98% das casas na zona urbana e 78% na zona rural, ninguém venha me dizer que não sabe dos malfeitos do Sarney...

O voto no político safado é um voto consciente. Advogo essa tese já tem algum tempo. E a cada dia mais eu me convenço, desgraçadamente, que estou certo...

Francisco Rocha Junior disse...

Meu caro Alan,

Como diziam os romanos, est modus in rebus, ou seja, há de haver um meio termo nestas tuas ponderações.

Para o miserável - e ainda que muitos tenham deixado de sê-lo, no Brasil do Lula - não há alternativa: ele vota em quem resolve seus problemas imediatos. O asfalto, a cesta básica, a internação para a cirurgia de catarata, o favor assistencialista, enfim, tudo é moeda de troca na compra do voto do eleitor que é efetivamente pobre, que não pode fazer prestação de TV ou rádio, a quem o real da lan house faz falta, que vive na insalubridade. Estes ainda são muitos.

Outros realmente há (como diria Mestre Yoda) que sabem da safadeza do político, mas nele votam de qualquer maneira. Estes são, perdoe-me o termo, os analfabetos políticos funcionais: não têm a real consciência do poder de seu voto ou da representatividade popular que, por exemplo, as entidades do terceiro setor possuem, se bem administradas. Votam em que está na frente das pesquisas, ou naquele que rouba, mas faz.

A um e outro, ratifico a receita que, creio, seja a solução: precisam de um choque de educação - educação formal mesmo, cidadania ensinada na escola - e cultura - esta, um pouco mais complicada de alcançar, mas para a qual a escola também tem um papel fundamental.

Nesta revolução, é óbvio, há espaço para a construção de uma nova elite, que não seja predatória e que tenha consciência de futuro e de nação, para usar seu peso a favor do país. É nisto que acredito.

Abração.