sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Geir, a Poesia por Ofício

Quase já não se fala de Geir Campos (1924-1999), que foi poeta da geração de 45. Outro dia, contudo, reencontrei sua poesia vigorosa, enroupada de novo em sóbria antologia (Léo Christiano Editorial, 2009). Vêm dela esses poemas, que lhes transcrevo como notas para o final de semana.

Resíduo

Tanta cal, tanta cinza, tanto incenso
e o vôo impraticável e o pesado
projeto de cruzar o rio a nado
e o caminhar feito um esforço imenso.

Raro sujeito monstra-se propenso
a alar as rédeas do seu próprio fado;
objeto, o mais geral aceita alheado
toda a cal, toda a cinza, todo o incenso.

Contra a revolta, a paina da rotina;
há aquele gesto ou grito que termina
trocando uma bandeira por um lenço,

e então seguir é ir carregando a estrada
nos ombros - e com ela carregada
vai a cal, vai a cinza, vai o incenso.

(do livro Metanáutica, 1969)

Alba

Não faz mal que amanheça devagar,
as flores não têm pressa nem os frutos:
sabem que a vagareza dos minutos
adoça mais o outono por chegar.
Portanto não faz mal que devagar
o dia vença a noite em seus redutos
de leste - o que nos cabe é ter enxutos
os olhos e a intenção de madrugar.

(do livro Canto Claro, 1957)

5 comentários:

Carlos Barretto  disse...

Já estou meio desconfiado desta minha fase ETC.
Mas fiquei profundamente comovido com estes versos, Itajaí.

Thanks

Val-André Mutran  disse...

"Alba" é sensacional!
Brigadú pela dica Itajaí.

Itajaí disse...

Barretto, solte suas feras... caia na gandaia... entre nessa festa! Rsrsrsrsrs.
Vamp, valeram as fotos de quase matar saudades de Moscow.

Carlos Barretto  disse...

Bem entendi sua brincadeirinha. Sempre bem vinda, aliás. Mas com toda franqueza, penso que devo mantê-las sob um certo controle em busca da leveza da liberdade e da autenticidade de novos horizontes ricos em felicidade verdadeira. Sem canalhices ou egoísmo irresponsável que subverte banaliza e reduz os novos encontros em tédio e linha de montagem de frustrações. Nada fácil para um sujeito como eu.. Desacostumado com novos potencidis relacionamento., fiz muitas bobagens impublicáveis aue nâo pretendo repetir .

Itajaí disse...

É nas portas de Tebas que o homem confronta seus caminhos, e eles são diversos e arriscados.
Meu caro argonauta, cuide-se vigilante com as águas. Use dos ventos na bujarrona e se aqueça no leme rumo à terra-firme.
Abs.