terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Que o Muro Separa, uma Ponte Une?



















M.Gorbachev, Angela Merkel, L. Walesa na comemorações da Queda do Muro de Berlim.
(Fonte El País. com)


Em razão das comemorações da Queda do Muro de Berlim, a imprensa realizou entrevistas com personagens relacionados diretamente com o episódio histórico, que, por diferentes razões, simbolizou o fim do comunismo soviético e, claro, da Guerra Fria.
Duas entrevistas considerei importantes por evidenciarem diferentes pontos de vista de um mesmo problema, e por ilustrarem o tipo de personalidade dos personagens que as concederam. Para melhor ilustrar o que digo, pinço dali e dacolá alguns trechos ilustrativos, observando que o conteúdo integral foi publicado no El País.com (aqui e aqui).

Lech Walesa - líder do Sindicato Solidariedade (Polônia)
La democracia se compone de tres elementos. Uno es que la ley defienda principios plurales. El segundo, que la gente saque ventaja de esas leyes. El tercero, que la cartera de la gente sea lo bastante grande como para beneficiarse de la democracia. En Polonia tenemos los fundamentos legales de la democracia; sin embargo, no hemos demostrado ser expertos en sacar ventaja de todo ello. Y la situación de nuestras carteras es cada vez peor.
(...)
Nuestro objetivo no era reemplazar el comunismo, sino el desarrollo de algo más. Actué contra mis propios intereses, no podía desempeñar mucho más tiempo el papel del "gran Walesa". No quise que mi nombre llegara a ser equiparado a los de Kim il-Sung o Lenin.

Mikhail Gorbachev - Último secretário-geral do Partido Comunista Soviético, presidente da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e líder da Perestroika, abertura política que levou a extinção da URRSS e do chamado comunismo soviético no Leste Europeu.
Os que colocaram suas objeções a tempo (da reunificação alemã) foram o presidente francês, François Mitterrand, e a primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, mas depois ambos assinaram todos os acordos e não se manifestaram contra. O que queriam era utilizar a União Soviética e Gorbachev para que as tropas interviessem e impusessem a ordem.
(...)
Mitterrand dizia que gostava tanto dos alemães que queria duas Alemanhas e Thatcher tinha medo deles. Hoje a Alemanha sente sua força econômica, mas não é uma ameaça e se comporta de forma responsável na política mundial.
(...)
Há outras coisas que não posso contar, mas nesse tema não há nenhum segredo e considero que é um dos exemplos de maior êxito da política mundial. Discutimos muito sobre os perigos, mas tudo transcorreu de forma ideal.
(...)
O principal erro do Ocidente é acreditar que venceu a Rússia, e que o fez sem disparar um tiro nem gastar um centavo.
Mas, a impressão que fica, depois de lermos essas e outras entrevistas, é a constatação de que nem sempre uma ponte une o que algum dia um muro separou. Escrevia o filólogo Victor Klemperer, nos idos anos 40 do nazismo alemão, que a Europa é um conceito. Setenta anos depois, a argumentação permanece válida.

2 comentários:

Anônimo disse...

Enquanto isso, Israel levanta um muro criminoso contra o povo palestino...

Itajaí disse...

Os piores muros são os não corpóreos, que dividem pelo esquecimento da tragédia.
São muros que existem e são mantidos à sombra pela mídia e à margem do discurso politiqueiro, sempre interessado em usar de causas que lhe deem não só notoriedade, mas, principalmente, lucro pecuniário.
Quando você for protestar contra o "muro criminoso de Israel", lembre-se, com a dignidade dos justos, dos muros impostos ao povo cubano pelos EUA, dos muros que segregam os povos cigano, armênio, ruandês e sudanês; dos muros da indiferença mundial que tornam os países da África Sub-saariana o inferno na Terra.
Lembre-se também do muro da miséria, da fome de Banglagesh, que continua lá, intocada, apesar do mega-show promovido nos anos 80, com estrelas do mundo pop, tão sinceras em propósitos, como George Harrison.
Lembre-se da canção We are the world; singela e inútil porque vivemos do espetáculo das atitudes e não de atitudes espetaculares, entre as quais é simbólico o movimento pelos direitos civis nos EUA, na década de 60, que tirou os afro-americanos do gueto e permitiu-lhes eleger quarenta anos depois o presidente Obama.
Mas não esqueça dos nossos muros nacionais. Do muro da violência que divide uma cidade chamada Rio de Janeiro, em que os governos acreditam que a solução é mandar bala e acumular cadáveres anônimos de negros, ou quase negros, ao modo como Caetano e Gil cantaram a chacina do Carandirú (SP), mas que serve também para descrever a da Candelária (RJ), a de Eldorado dos Carajás ou aquela que vitimou trabalhadores paulistas à ocasião da repressão policial à rebelião do Comando Vermelho, também em São Paulo. E se você gostar de estatística, lembre-se, nessa ocasião, de que esse muro carioca mata e aleija por ano mais do que mata o conflito palestino-israelense, porque as armas utilizadas são armas de guerra.
Por fim, como brasileiro, recorde da outra parte do sangue que corre nas suas veias. Indigne-se com os muros de centenária invisibilidade que nós, brasileiros civilizados, letrados bacharéis, ajudamos a construir em torno das aldeias indígenas, de que é exemplo a desgraça ou extermínio que levamos aos povos tupinambá, mura, crichaná e guarani entre outros.
Pois ao lembrar-se disto tudo, perceberá o quanto, na grandeza do anonimato, somos pequenos para dar lições de moral em Israel.