A Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará anunciou salários mensais de oito mil reais, para a contratação de médicos pediatras, e que os buscaria em outros estados. Do noticiado deduzo que a reserva desses especialistas no estado está esgotada e não mais atende as necessidades do Sistema Único de Saúde. A jornalista Franssinete Florenzano vem acompanhando o assunto em seu blogue e, em visita recente ao Flanar, perguntou-me qual seria a saída para a crise.
Na minha opinião, como ex-funcionário do Hospital da Santa Casa, instituição a que dediquei boa parte de minha juventude e energia, penso que a atual direção estará corretíssima na medida anunciada, mas desde que a considere relacionada as demais categorias previstas em seu Plano de Cargos, Carreiras e Salários. Do contrário, ao modo de despir um santo para vestir outro, seus dirigentes estarão elaborando uma tremenda crise com as demais especialidades médicas do corpo clínico, além daquelas representativas da enfermagem e dos técnicos em geral. Não há porque ao resolver uma crise, abrir uma outra agenda ou outras agendas de crise, numa instituição com o porte estratégico da Santa Casa para o SUS-Pará.
Entretanto, o problema é de âmbito nacional e o sofrido pelo Pará, nesse contexto, é apenas um reflexo agudizado. A solução requer, portanto, que a sociedade civil reconheça por suas instâncias de representação a gravidade do assunto, organize-se e cobre dos poderes executivos ajustes na política de formação e remuneração de pessoal para a saúde, para contrapor as situações de escassez de mão de obra, antes limitada a algumas especialidades, que agora vemos chegar as chamadas especialidades básicas para proteção da saúde da população. As medidas reclamadas não constituem nenhuma novidade para quem está nas secretarias de saúde e nos ministérios da Saúde e da Educação. Entretanto, para sua efetiva implantação, é imprescindível contar com a vontade política de prefeitos, governadores e respectivos legislativos.
4 comentários:
Caro Itajaí, acredito que isso é possível -- a mobilização da sociedade -- desde que surja no meio desse funil, a velha conhecida vontade política.
Veja bem que, a partir da própria compreensão da governadora Ana Julia Carepa ao declarar, em entrevista a duas excelentes jornalistas que a questão da Saúde extrapolou, sob o ponto de vista político de governabilidade, acertos intra muros, -e, que agora, segundo, Carepa, a Saúde Pública do estado que governa, não mais pertence, ou seja, não mais será moeda de acomodação de interesses partidários; penso que nossa governadora, finalmente, começou a palmilhar um caminho para a superação das pedras deste árduo e metamoforseante caminho.
Há carência nacional para esta e outras especialidades médicas Brasil afora.
Há, no entanto, de se encontrar, uma fórmula que contemple os interesses da sociedade desvalida, que não tem a quem recorrer, e a equalização necessária para calar a boca imunda dos que torcem pelo fracassso que, se triunfar, levará, ao chão, nossa alto estima por um Pará melhor.
É o que penso e me coloco, desde já, para contribuir com qualquer campanha para resgatar a normalidade da Santa Casa de Misericórdia.
Perdoe-me se fui prolixo.
Prolixo nada, Val-André. Foste lúcido e penso que esse assunto deve ser animado nas pautas do Congresso.
Há também uma coisinha que me preocupa nesta história. Há que se fazer alguma coisa para despertar o interesse nas "faculdades de medicina" pela residência em Pediatria. No Barros Barreto, são poucos os candidatos a esta especialidade, em seu nível mais elementar. Menor ainda na área de Terapia Intensiva Pediátrica. A péssima remuneração pode ser apenas uma das pernas do problema. Em outras palavras, ousaria dizer que a qualidade do ensino médico como um todo, ainda deixa a desejar. E a Pediatria, é apenas a primeira a se sacrificar.
Estive conversando com alguns médicos sobre o tema, da maior importância para que nossas crianças mais pobres tenham alguma expectativa de vida.
O que ouvi corrobora o que vocês dizem: estão sobrando vagas nas Residências para Pediatria, os salários são muito baixos e o estresse é imenso numa UTI neonatal.
Precisamos colocar este assunto em evidência para que o poder público aja enquanto é tempo.
Beijos para vocês.
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