Fui voluntário durante quatro anos no Hospital Ophir Loyola. Participava de um grupo que fazia recreação com as crianças do setor de Oncologia, nas tardes de domingo. Todas as tardes de domingo. Nesses anos, foram poucas as tardes que faltei. Foi uma atividade que proporcionou sentimentos diversos e bastante intensos: alegria, alívio, reconhecimento da própria sorte, de um lado, e de outro raiva, indignação, tristeza, impotência.
A impotência talvez fosse o sentimento mais singular de todos. Apesar de trabalhar porque gostava, incomodava-me profundamente não poder ir além de uma hora de brincadeiras, histórias e músicas. Eventualmente, alguma doação. Mas éramos todos um punhado de jovens roçados. As doações também eram muito modestas, apesar de que às vezes cruciais, como remédios (que faltavam no hospital!).
Sempre quis uma tarefa que me permitisse modificar de verdade a vida de alguém. Acho maravilhoso sair de casa para distribuir sopa aos indigentes, mas eles continuarão indigentes. Faria com prazer essa atividade, mas sei que, com o tempo, a amargura me invadiria. A menos que a intenção final fosse inseri-los no mercado de trabalho.
Uma atividade que sempre me chamou a atenção foi atender menores em situação de risco. Porque nesse caso podemos trabalhar pela reconstrução dos vínculos familiares ou em algum ambiente saudável, onde o abandono e a violência sejam gradativamente substituídos por oportunidades de recomeço. Gostaria tanto de fazer isso que nem sei explicar por qual razão não aderi a grupos que atuam na atividade, aos quais eu teria acesso. Sempre deixamos para depois, não?
Vendo a cobertura sobre a tragédia no Haiti, reconheço no voluntariado surgido em torno a possibilidade de trabalhos realmente capazes de mudar a vida de quem precisa. Neste momento, sair dos escombros faz toda a diferença. Tratar das lesões, recuperar a saúde, encontrar um abrigo, reconstruir uma casa.
Em um dos jornais de ontem, nem me recordo qual, vi um empresário paranaense que fabrica máquinas de cortar concreto e aço. Há 24 anos, ele quis doar máquinas para ajudar as vítimas de um terremoto. A burocracia foi tanta que ele decidiu levá-las pessoalmente. Uma vez no local, começou a ajudar. Tomou gosto. Daí por diante, onde há um desastre semelhante, lá vai ele com sua maletinha mágica, pagando tudo do próprio bolso. Já embarcou para o Haiti. Espera ainda ter condições de retirar dos escombros ao menos uma pessoa. Se tirar uma, já terá valido a pena. Mas prefere que seja ao menos "meia dúzia". Uma pretensão plausível para um homem só. Um homem bom, que aprendeu a ser solidário com os pais (que auxiliavam comunidades indígenas) e repassou esses valores ao filho.
Isso que é uma corrente do bem.
2 comentários:
Fui voluntario durante muitos anos ajudando os leprosos num Vila paupérrima, na minha cidade de Marabá.
Faz bem a alma e nos coloca diante da realidade das misérias humanas.
Só faz bem para a gente ser voluntário.
Agora, atuo no Rotary Internacional.
Sei que construí coisas importantes para minha vida devido a essa experiência, Val. E espero ter ajudado alguém.
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