sábado, 16 de janeiro de 2010

Simples e eficientes

Todos os dias, várias pessoas pobres são vítimas da violência urbana. Normalmente, ficam relegadas às sanguinolentas e repulsivas páginas policiais dos jornais. Para ganhar mais destaque do que isso, só por alguma razão particular, como a especial brutalidade do crime.
Vez por outra, pessoas de condição social mais elevada sofrem o mesmo revés. Neste caso, a repercussão tende a ser maior, com a exploração do caso pela imprensa televisionada, p. ex. O delito é noticiado na imprensa escrita, mas frequentemente fora das páginas policiais, às vezes no primeiro caderno, muito mais limpo, onde se destacará o perfil da vítima e a indignação dos familiares. É possível que se fale em mobilizações de segmentos da sociedade civil. Com certeza, haverá uma cobrança bem mais aguda de responsabilidades. Nessa hora, por incrível que possa parecer, o criminoso fica em segundo plano: a indignação desaba mesmo nos costados do poder público. Merecidamente, é claro.
Ontem, uma tentativa de assalto levou à perda de mais uma vida. Um dentista, trabalhador honesto, pai de família e pagador de impostos. À imagem de um familiar em estado de choque junto ao carro onde houve o crime seguiu-se a de um amigo, destacando os predicados da vítima e as culpas do poder público. E quem sofreu o julgamento, desta vez, foi um velho conhecido nosso, o tal prefeito de Belém. Afinal, a inexistência no mundo real das tão propaladas obras estruturantes, que ninguém fora do Mundo de Oz conhece, explica - ao menos como um dentre outros fatores - o transbordamento de um canal e a inundação de uma via importante, forçando os motoristas a reduzir a velocidade ou até a parar, deixa para que os assaltantes façam a abordar. Ao acelerar o carro, o dentista foi alvejado. Não fosse o alagamento, é provável que o assalto nem houvesse ocorrido. Motorista do perímetro afirmou que esses ataques são rotineiros quando chove.
Duciomar, portanto, tem culpa da morte de Modesto Nahum Pantoja Júnior. Mas, se quisermos ser justos, cada indivíduo que joga lixo no canal tem lá a sua parcela de culpa, também. Assim como, provavelmente, os familiares de um adolescente que confessou sua participação no crime, apesar de seu desespero no momento da descoberta. Afinal de contas, não é possível que a família seja absolvida, num caso em que um adolescente já sai de casa armado e, sem mais, aceita o convite de um cara que conhecera na véspera para fazer "umas paradas". E claro que o autor do disparo é o outro.
Nesta história, os únicos que se deram bem foram os habituais defensores da redução da maioridade penal, da pena de morte e do Direito Penal do Terror (desde que para os outros, é claro). Estes vão bamburrar. Mas a cidade continuará alagada e as pessoas morrendo. A menos que cada protestante resolva assumir a própria responsabilidade e tomar algumas medidas simples, porém eficientes: votar melhor e não jogar lixo na rua. E outra nada simples, porém muito mais eficiente: educar os jovens.

5 comentários:

Ana disse...

e que o próximo não seja ninguém da sua família. Caso fosse, o seu discurso mudaria um pouco.

Yúdice Andrade disse...

Mudaria, né? Este é um argumento sempre e sempre e sempre utilizado nestes casos. É exaustivo. Querem me convencer de que partir para a porrada é a melhor solução porque assim pensaria uma pessoa transtornada?
No dia que o mundo for governado pelas pessoas transtornadas, será o nosso fim. Não conte comigo para essa empreitada.
Desculpe, mas já não tenho paciência para conduzir a conversa por esse rumo, daí que não me prolongo.

Anônimo disse...

Prezado Yúdice,
Respeitando seu ponto de vista, mais uma vez opino em seu blog meu pensamento relativo aos bandidos juvenis, se a justiça dos homens é demorada, que se acelere a justiça divina. Não desejo em nenhum momento que ocorra uma desgraça para que vc mude de opinião, esses FDP não respeitam a vida de seres humanos e o estatuto que os protege, é o grande incentivador da impunidade.

Yúdice Andrade disse...

Não, não é para você deixar de opinar. Pelo contrário. Apenas realmente não pretendo seguir por aquele rumo. Mas agradeço, desde logo, a sua boa educação, serenidade e, sobretudo, o seu desejo de que essas tragédias não cheguem até mim. Tomara que não cheguem para mais ninguém!
Mas devo dizer-lhe, ainda, que é errado pensar que a culpa do que está ocorrendo é do Estatuto da Criança e do Adolescente, como se adora propalar por aí. Leis são abstrações e possuem menos influência sobre a vida das pessoas do que se pensa, principalmente no que diz respeito a crimes graves.
Ao seu lançado, o ECA foi considerado a melhor lei do mundo do gênero, na opinião de observadores internacionais. O problema não é ele, mas a sua aplicação. Entenda que o grande incentivador da impunidade não é uma lei, que não é um ser pensante, e sim a dobradinha Estado criminoso e sociedade depravada. É com isso que devemos nos preocupar.

Maryhelen Benjamin disse...

A lei é protecionista para alguns e em casos específicos.Já que a lei insiste em dizer que deve ser dado tratamento igual aos iguais e desiguais aos desiguais(dentro de suas desigualdades,em que justiça e suas possíveis implicações devo acreditar?Muitos crimes me causaram dor,mas nunca essa extirpação que hoje sinto por terem tirado o direito de viver de Modesto Nahum Pantoja Júnior.Meu amor,meu amigo,meu companheiro e minha vida.Sim,seu caso está sendo de grande repercussão por ele fazer parte da sociedade que possui melhor condição financeira.Mas isso não abstem ninguém de sua culpa.Se há culpados?Sim e muitos e, bem sei que ninguém pagará verdadeiramente por isso.A devastação que fica,não há lei,poder público,educação e/ou indenização que apague.Deus proteja cada vez mais a todos os SEUS filhos para que a ausência de um ente querido não mate todo uma família e amigos.