Assisti o filme A Fita Branca, candidato ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, dirigido pelo austríaco Michael Hanecke. Foi filmado preto e branco, com fotografia que transporta o espectador à atmosfera algo sombria e claustrofóbica das residências do início do século passado, quando os ambientes eram iluminados por velas, candeeiros e lâmpadas mortiças. De alguma forma o filme, nesse aspecto, lembrou-me a infância passada em Belém num casarão estilo português, mobiliado com móveis maciços que hoje fazem a alegria dos antiquários. Naquela época não tínhamos a exuberância tecnológica das lâmpadas modernas de hoje e a cidade confirmava o ditado que se de dia faltava àgua, à noite pedíamos luz.
A Fita Branca pretende discutir a gênese do mal e sua transcendência cultural e histórica. Ambienta-se numa pequena cidade da Alemanha às véspereas da Primeira Guerra Mundial e é narrado por um dos seus personagens em tempo já distante dos acontecimentos. O mistério é articulado do jeito whodunit (quem fez?), relacionado a uma série de atos de violência, tortura e assassinato de adultos e crianças que de modo algum são menos brutais que outras práticas da pequena cidade, onde as instituições e ninguém parecem ser exatamente o que são quando se deslocam entre os espaços privado, público e institucional, mesmo que à luz de enganosa respeitabilidade.
A idéia em si não é original, posto que foi antes desenvolvida em filmes como O Jovem Törless (dir. Volker Schlöndorff, 1966) e, claro, o Ovo da Serpente (dir. Ingmar Bergman, 1977) e o monumental Berlim Alexanderplatz (dir. Werner Fassbinder, 1980). Em termos norte-americanos quem a explorou, por exemplo, foi David Lynch em Twin Peaks (1980). O fato, sem diminuir o valor de A Fita Branca, antes o torna obra digna da companhia desses clássicos. Afinal são poucos os dramas humanos originais, ainda que infindáveis sejam suas combinações e variáveis para transcendê-los em constante atualidade. Aliás, alguém escreveu, a vida é bela, brutal e breve.
A Fita Branca pretende discutir a gênese do mal e sua transcendência cultural e histórica. Ambienta-se numa pequena cidade da Alemanha às véspereas da Primeira Guerra Mundial e é narrado por um dos seus personagens em tempo já distante dos acontecimentos. O mistério é articulado do jeito whodunit (quem fez?), relacionado a uma série de atos de violência, tortura e assassinato de adultos e crianças que de modo algum são menos brutais que outras práticas da pequena cidade, onde as instituições e ninguém parecem ser exatamente o que são quando se deslocam entre os espaços privado, público e institucional, mesmo que à luz de enganosa respeitabilidade.
A idéia em si não é original, posto que foi antes desenvolvida em filmes como O Jovem Törless (dir. Volker Schlöndorff, 1966) e, claro, o Ovo da Serpente (dir. Ingmar Bergman, 1977) e o monumental Berlim Alexanderplatz (dir. Werner Fassbinder, 1980). Em termos norte-americanos quem a explorou, por exemplo, foi David Lynch em Twin Peaks (1980). O fato, sem diminuir o valor de A Fita Branca, antes o torna obra digna da companhia desses clássicos. Afinal são poucos os dramas humanos originais, ainda que infindáveis sejam suas combinações e variáveis para transcendê-los em constante atualidade. Aliás, alguém escreveu, a vida é bela, brutal e breve.
6 comentários:
Delicioso post, Itajaí
Thanks
Caro,
Vi em dias seguidos, no Carnaval, A Fita Branca e Guerra ao Terror. Ainda que aparentemente não haja nexo entre um e outro filme, salvo a temática bélica - sendo que no primeiro ela ainda não começou e, no outro, ela está em curso -, um aspecto dos filmes me fez pensar: o que representa para um país a experiência da guerra? O que é, para um povo, sofrer com parentes, amigos, vizinhos que viveram o horror?
Esta pergunta martelou minha cabeça durante dias. Fiquei imaginando o que seria do Brasil se a vivência da guerra fosse efetiva no país; se até hoje tivéssemos parentes que tivessem vivido bombardeios, a experiência das trincheiras, o dia-a-dia dos tiroteios. Falarão da vida nos morros cariocas, mas será isto a mesma coisa? Na guerra, falamos de uma geração que viveu uma experiência única, o assombro de um país inteiro. A Europa passou pela experiência da guerra em seu próprio território; impressiona ver, em qualquer cidadezinha do interior da França, da Itália ou da Alemanha, principalmente, um monumento em homenagem aos mortos na II Guerra. É muito presente, ainda, esta realidade. Imagine=se a mistura que decorre da proximidade territorial entre pessoas cujos parentes, até 70 anos atrás - o que é muito pouco -, estavam matando uns aos outros.
Os Estados Unidos, por sua vez, vivem a experiência da guerra de 15 em 15 anos; no século XX, o mais sangrento da saga humana sobre a Terra, vivenciou uma guerra a cada 15 anos, pelo menos, e em todas houve tropas (e consequentemente baixas) americanas: 1a Guerra, 2a Guerra, Vietnam, Bálcãs, Iraque, Afeganistão... O que isto traz de consequência para a sociedade que a vive de perto?
Engraçado que passei semanas formulando esta ideia, com a intenção de tranformá-la em um post, motivado pelos dois filmes, mas não os conclui; havia rios de dúvidas e considerações na minha cabeça. Daí tu vens, com uma grande lucidez, e fomentas a discussão. Excelente, o post. Minha cabeça fica ainda mais confusa...
Val-André, minha postagem, superada pela do Itajaí, começava com um repto pra ti: eu dizia que discordava veementemente das tuas considerações sobre os filmes oscarizados deste ano. Os concorrentes, na minha opinião, iniciam a década muito bem.
Noto ainda que Avatar, apesar da história bobinha, tem a maravilha tecnológica do 3D a seu favor. É a Matrix dos anos 2010. Oxalá venham muitos outros do estilo.
Finalmente, se Avatar for muito intragável pro teu gosto, esquece-o. Tenho certeza que se assistires à Fita Branca e a Guerra ao Terror - bastam esses - vais mudar de ideia sobre a qualidade deste Oscar.
Abraços.
Francisco confesso que não assisti os dois filmes em questão. Adianto, no entanto, que sou fã de filmes de guerra e dos absurdos humanos transformados, não raro em lições de tolerância e cooperação entre os povos, após o estresse de tanto sofrimento e perdas.
Sobre Avatar, sustento minha opinião. O roteiro é um absurdo e a qualidade técnica é outro tema.
Estou escrevendo uma crítica sobre Avatar para posterior publicação.
Os demais filmes que assisti não gostei.
Estou muito curioso para ver "A Fita Branca", que está passando aqui há varios meses. Aliás os filmes do Michael Haneke são fantasticos, e espero que ele fature o Oscar hoje a noite.
Outro filme dele maravilhoso é "Cache", com Daniel Auteuil e Juliette Binoche. Pelo que ouvi falar, "A Fita Branca" segue um pouco linha iniciada por "Cache", de questionar o impacto humano das guerras, seja este impacto causador ou decorrência das mesmas.
No caso de "Cache", o foco é no impacto humano do colonialismo francês e da guerra da Argelia.
Oi, Raul!
Desculpe a demora. Espero que passe por aqui o Cache. Nesse caso, nem adianta buscar na internete, pois meu francçês é menos que básico.
Mas o tema é interessante. Acho que o último que assisti sobre o assunto foi aquele do Pontecorvo, a Batalha de Argel. Aliás, um clássico do cinema político italiano.
Quanto ao Fita Branca apenas concorreu.
Abs.
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