Ontem à noite eu assistia a uma apresentação, em uma de minhas turmas, sobre a lei de entorpecentes. Isso me fez lembrar um devaneio que tive, há algum tempo, a respeito de métodos de combate ao uso de entorpecentes.
Numa explicação altamente singela — que poderá ser melhorada pelos editores médicos deste blog, notadamente o nosso querido Scylla, o homem do cérebro —, as drogas causam dependência porquem atuam sobre o sistema nervoso, ativando as áreas do cérebro relacionadas ao sentimento de recompensa. Salvo engano deste leigo, trata-se do sistema límbico, responsável pelas emoções, induzindo a liberação do neurotransmissor dopamina.
Sendo assim, poderíamos especular sobre o desenvolvimento de uma substância que — estou receoso de usar termos inadequados — invertesse a polaridade: faria as moléculas da droga perderem a "afinidade" com a área do prazer. Essa reprogramação seria lida pelo cérebro como aversão e, com isso, o indivíduo perderia o interesse em consumir a droga. Ou ao menos assim suponho. Talvez não funcionasse, sei lá, com pessoas masoquistas, no sentido psiquiátrico da palavra, porque não se importariam em sofrer. Mas se funcionasse com a generalidade das pessoas, poderia ser criada uma espécie de vacina contra a dependência química. Ou ao menos contra este ou aquele tipo de droga, já que cada um possui uma estrutura molecular própria.
Caso isso ocorresse, seria possível implementar a única política de combate ao consumo de entorpecentes realmente eficaz: uma que eliminasse a ponta do fluxograma, o usuário. Sem consumo, não há venda. E sem a venda, não há o dinheiro que financia a aquisição de armas e de munição ou os diversos outros crimes que circundam o mundo do narcotráfico. Sem dinheiro, estaria quebrado o vínculo espúrio dos narcotraficantes com as forças policiais, porque não haveria meios de sustentar o indústria da corrupção, que fecha os olhos e deixa o crime ocorrer, quando não o auxilia efetivamente.
Numa explicação altamente singela — que poderá ser melhorada pelos editores médicos deste blog, notadamente o nosso querido Scylla, o homem do cérebro —, as drogas causam dependência porquem atuam sobre o sistema nervoso, ativando as áreas do cérebro relacionadas ao sentimento de recompensa. Salvo engano deste leigo, trata-se do sistema límbico, responsável pelas emoções, induzindo a liberação do neurotransmissor dopamina.
Sendo assim, poderíamos especular sobre o desenvolvimento de uma substância que — estou receoso de usar termos inadequados — invertesse a polaridade: faria as moléculas da droga perderem a "afinidade" com a área do prazer. Essa reprogramação seria lida pelo cérebro como aversão e, com isso, o indivíduo perderia o interesse em consumir a droga. Ou ao menos assim suponho. Talvez não funcionasse, sei lá, com pessoas masoquistas, no sentido psiquiátrico da palavra, porque não se importariam em sofrer. Mas se funcionasse com a generalidade das pessoas, poderia ser criada uma espécie de vacina contra a dependência química. Ou ao menos contra este ou aquele tipo de droga, já que cada um possui uma estrutura molecular própria.
Caso isso ocorresse, seria possível implementar a única política de combate ao consumo de entorpecentes realmente eficaz: uma que eliminasse a ponta do fluxograma, o usuário. Sem consumo, não há venda. E sem a venda, não há o dinheiro que financia a aquisição de armas e de munição ou os diversos outros crimes que circundam o mundo do narcotráfico. Sem dinheiro, estaria quebrado o vínculo espúrio dos narcotraficantes com as forças policiais, porque não haveria meios de sustentar o indústria da corrupção, que fecha os olhos e deixa o crime ocorrer, quando não o auxilia efetivamente.
Atividade clandestina, violenta e largamente combatida, capitaneada quase sempre por indivíduos sem a menor capacidade intelectual, sem dinheiro o narcotráfico não é nada. Tivemos pálidas demonstrações disso durante operações especiais realizadas no Rio de Janeiro, p. ex. durante a Eco-92 e a Rio+10, quando tanques do Exército assumiam o policiamento das ruas. E em outras ocasiões, quando as forças de segurança tomavam os morros, impedindo os playboyzinhos de chegar às bocas de fumo para comprar todo tipo de bagulho. Recordo-me de reportagens nas quais se afirmava que os criminosos estavam realmente acuados, pela impossibilidade de exercer o seu comércio.
Como seria um mundo em que não houvesse dependentes químicos? Ou, digamos, um mundo em que pudéssemos eliminar o consumo de pelo menos um tipo de droga, digamos que a cocaína e seus derivados? O cenário ficaria muito diferente.
Em meu devaneio, imagino campanhas públicas de vacinação, voluntárias. Imagino uma lei obrigando toda pessoa presa por envolvimento com entorpecentes a se vacinar. Imagino os adeptos de um pozinho se recusando a tomar o medicamento. Imagino os que já caíram em si buscando na vacina uma forma de salvação. Imagino a indústria farmacêutica lucrando horrores, como sempre. Imagino juristas enchendo o saco com aquele papo furado de violação à liberdade de autodeterminação e à dignidade humana. Mas, sobretudo, imagino as polícias fazendo de tudo para impedir a disseminação da vacina. Imagino gente graúda dentro dos governos trabalhando com afinco pela subsistência do tráfico.
Que mundo seria esse?
13 comentários:
Considerar que a atividade é capitaneada por indivíduos sem capacidade intelectual é verdadeiramente um devaneio, como admites. A proibição das anfetaminas também causariam muito rebuliço dentro dos plantões médicos e haja vacinas pros homens "de branco" não dormirem pelos corredores. Consulte o editor e outros médicos.
Das 13h37, observe que o texto diz "capitaneada quase sempre por indivíduos sem a menor capacidade intelectual". Quase sempre. E assim é. O único narcotraficante culto que conheço é o Marcola. Os demais podem ser famosos e mortíferos, mas são uns cabôcos sem estudo e sem leitura, incapazes de montar estratégias que excedam à violência pura e simples. Se você conhecer outro, por favor me informe.
A postagem fala sobre o consumo de entorpecentes num meio menos sofisticado, anônimo. Sei do problema dos médicos, assim como há o dos caminhoneiros, também. Mas a despeito de todo rebuliço que uma medida assim causaria nos plantões, não creio que a conclusão seja deixar tudo como está. Ou é?
Yúdice.
Vc está sendo compreensivo com o cidadão aí. Mas se vc me permite, pretendo tomar caminho diferente. Tenho algumas suspeições. Vou aguardar a tréplica deste elemento. E dependendo, dar-lhe-ei a macacaúba na medida exata do seu cometimento.
Abs
A tréplica: outros muitos traficantes estão em Brasília (e não adianta dizer que não há provas)e no meio empresarial com bastante suporte intelectual e financeiro. Cargas camufladas em exportação de madeira exigem grandes estratégias e financiamento, além da conivência das vigilantes autoridades oficiais. Ao contrário, sem esforço intelectual, as anfetaminas estão ali no armário à disposição dos doutores.
Double tréplica: e eu meter-te-ei a madeira.
Caro Yúdice.
Minhas desculpas. Mas não posso deixar de me manifestar.
Como já li a suposta "tréplica" do idiota que aqui comparece para fazer generalizações, e acredito que vás moderar positivamente um comentário que desde o início já acreditava ser evidentemente preconceituoso, vou logo deixando a opinião pedida pelo bobalhão. Uma macacaúba com cara e assinatura. E esta pega com jeito, pelo simples fato de ser assinada e identificada. Aliás, como tudo o que produzimos por aqui, é identificado e assinado. Já a devia ter deixado, pelo simples fato de que a suposta "tréplica" em nada me surpreendeu ou acrescentou.
Ao contrário deste safardana, que claramente aqui comparece (e já compareceu outras vezes) supostamente para "dar opinião". E como não tem coragem, "nem madeira", apenas se rasga.
Mas vou apenas dizer o seguinte. Imagine se eu dissesse que TODO anônimo que aqui comparece, é um energúmeno, um covarde, um idiota! Imagine?
Seria uma mentira e uma deselegância. Um despautério. Muitos aqui comparecem para discordar e nem por isso, vão além do limite que todos respeitam e gostam.
Conheço médicos que passaram a vida ao lado destes armários (que na verdade não possuem anfetaminas e sim hipnosedativos e anestésicos) e nunca tiveram qualquer tipo de envolvimento com drogas de nenhuma espécie. Conheço uma montanha deles. Arriscaria dizer que a esmagadora maoria. Agora comprometer todos estes, calcado na suposição, na ilação ou mesmo em um fato concreto, afeito a alguns, é demais.
Em outras palavras, não acredito, não gosto e não aceito generalizações. Quem o fizer, contra médicos ou advogados, ou contra qualquer outra categoria profissional, sem as devidas ressalvas, não contará com meu apoio. Menos ainda, de forma anônima, quando então, protegido pelo anonimato, muitos safardanas que de fato, se incluem naquilo que acusam, podem querer dar uma de bacanas.
Por isso, ao anônimo, antes de pensar em "meter a madeira" em quem quer que seja, vejamos então se, primariamente, além de se rasgar, vc consegue dizer quem é. E também, nominar quem exatamente se inclue naquilo que afirma.
Só isso.
Caro Yúdice, gostei muito da sua postagem: sincera, direta, sonhadora e realista ao mesmo tempo.
Lamentavelmente a neurobioquímica cerebral é de tal complexidade que não consigo vislumbrar a vacina nas próximas décadas.
O antidepressivo mais antigo, imipramina, com mais de 50 anos de comercialização, tem até hoje o seu mecanismo de ação... desconhecido!
Ele provoca uma "bombada" em tantas áreas, envolvendo tantos neurotransmissores, que o que sabemos constitui apenas um punhado de fragmentos de um grande mosaico.
E assim é com a maconha, a cocaína e derivados, a heroína, as anfetaminas, etc.
A propósito, com 25 anos de formado, eu NUNCA identifiquei um médico viciado em anfetaminas. Em opióides, diazepínicos e agentes anestésicos, sim, conheci e conheço alguns.
As anfetaminas destroem de tal forma conexões-chaves que envolvem memória, atenção, concentração, humor, afetividade, inteligência, que em não muito tempo a profissão de médico, advogado, engenheiro, e tantos outras seriam inviáveis, absolutamente.
Aliás, a "distimia" do anonimato mencionado já pode ser um sinal psicopatológico, o que me leva a ignorar provocações.
Um grande abraço.
Meu queridíssimo amigo virtual Yúdice, que mundo seria esse?
Sabe que eu nem consigo imaginar? Quem sabe meus tatatatatatatataranetos um dia se beneficiem desse mundo?
O que o Yúdice propõe é o desenvolvimento de uma molécula do tipo antabuse. O antabuse é uma substância, antes muito usada no tratamento do alcoolismo, administrada sem que o paciente soubesse o que estava ingerindo (a ética descia ao inferno, claro). Se o paciente bebesse, e fatalmente ele beberia, a combinação desencandearia um conjunto de sintomas acompanhados da sensação de morte iminente que o levaria a abandonar o alcoolismo por associação lógica. Era dessensibilização na marra, que não considerava outros aspectos importantes para a motivação ao vício. No alegado sucesso da terapia cavalar, haviam como esperado os casos em que o resultado do abandono do álcool derivava da substituição por outra droga que garantisse ao usuário alcançar o paraíso artificial.
Do ponto de vista molecular, não seria impraticável modificar a estrutura dessas substâncias ilícitas pelo acréscimo de elementos químicos, ou mesmo alterando-lhe o arranjo de sua arquitetura. A exemplo, foi isto feito para gerar as chamadas "drogas de laboratório", como é o caso do Ectasy. Contudo, nada garante que a assimetria molecular resultante não gerasse molécula com efeitos antes não existentes e até mais perigosos.
Além do mais, os segredos incontáveis da fisiologia do Sistema Nervoso ainda seriam talvez o fator mais importante para levar efetivamente os resultados de pesquisa pré-clinica ao desenvolvimento de uma inovação segura para uso de humanos.
1. A manifestação do Itajaí me deixou muito feliz, por dar uma linguagem técnica à hipótese que formulei tão precariamente. Folgo em saber que há precedentes mais ou menos adequados (abstraindo-se o aspecto ético, é claro).
2. Apesar de anterior, a manifestação do Scylla serve como um complemento, destacando as dificuldades práticas de levar adiante uma tal pesquisa.
3. Quanto aos comentários do anônimo provocador, respondo a parte útil:
a) Realmente, não pensei na hipótese formulada, que me parece adequada. Provavelmente, isso se deve ao fato de que meu foco estava nos narcotraficantes típicos, indivíduos em situação de grave adversidade social, e não nos indivíduos que, tendo enormes possibilidades na vida, enveredam pelo crime por safadeza, pura e simples. Mas ok, eles se tornam traficantes. Aceito a advertência.
b) Não entendo, entretanto, porque fui alertado que não deveria dizer que não existem provas. E por acaso eu diria isso? Por que eu defenderia os criminosos de Brasília?
c) Pensei que a "double tréplica" fosse uma indelicadeza, uma grosseria impensada, mas pelo visto entrei na linha de tiro de algum antigo desafeto alheio. Diante disso, só posso dizer ao anônimo que pegue a mandeira ele mesmo e se divirta com ela.
4. Barretto, se bem entendi, há um conflito pessoal aí pelo meio. Lamento se minha postagem acabou atraindo aves de rapina para o blog, mas não era a intenção. O objetivo era discutir uma questão científica, como o Scylla e o Itajaí demonstraram ser possível.
Tens a minha solidariedade e admiração, como sempre.
5. Ana, espero que algumas gerações antes disso nossos descendentes possam viver num mundo alguma coisa melhor.
É exatamente isso, Yúdice.
E vc jamais precisaria se desculpar por nada.
Mas é que este "bunda mole" eu já conheço. E já tentou frequentar o blog em outras oportunidades, sempre com a mesma "assinatura". Comenta em posts alheios para atingir um outro alvo. Certamente já teve fortes interesses contrariados aqui. O mesmo aconteceu há tempos, num post do Roger, quando ele entrou para desqualificá-lo como profissional.
Enfim, como vc já bem disse, a estas alturas, ele já deve estar se divertindo com a macacaúba.
Que faça bom proveito dela. Afinal, anonimamente e entre 4 paredes, cada qual se diverte como desejar.
Abs
Espero que ele se divirta porque, que me conste, a macacaúba é duuuura...
Hehe!
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