Sempre tive horror a votos brancos e nulos e era, também eu, um desses moralistas que metem o dedo na cara dos outros, dizendo que eles são obrigados a escolher um candidato. Que alguém será eleito de qualquer modo, que quem não votou não tem o direito de reclamar, que isso e aquilo. Claro que, para defender tal ideia, eu precisava assumir o discurso de procure o candidato menos pior, que é de difícil demonstração e que vem se tornando uma empreitada inviável neste país.
Os anos se passaram. Não sei se foi a idade ou a experiência, ou se foi apenas uma conjuntura tétrica, mas no ano passado eu me vi, nas eleições municipais, entre Duciomar e Priante. Então caí na real e derrubei todas as últimas resistências que tinha ao reconhecimento dos votos nulo e branco como expressões legítimas, respeitáveis e responsáveis do eleitor, caso se visse completamente sem opções. Nem o candidato menos pior. Continuo achando que votar no NONONO deve ser o último recurso do eleitor, mas passei a respeitar essa alternativa, embora não desejando ter que repeti-la, pessoalmente falando.
Por isso, para as eleições gerais de 2010, eu realmente queria ter candidatos. Tenho sentido muita falta de me importar com o resultado das eleições. De viver esse momento único em que o brasileiro comum vale alguma coisa. E como tenho aversão absoluta à direita, fico cavucando candidatos supostamente à esquerda, aqueles que eu pudesse considerar menos piores.
Minha ojeriza ao PSDB e asseclas não me permite votar em ninguém que tenha a menor relação com eles. Por isso, considerando as opções disponíveis, cogitei de votar em Dilma Rousseff. Contudo, estamos apenas no aguardo de que a convenção do PMDB — o partido dos cargos e das permanentes negociações com os governos, quaisquer que sejam — confirme Michel Temer para a vice-presidência. Como, hoje, não há partido que eu considere mais deletério ao Brasil do que o PMDB, só me resta aceitar que essa chapa jamais receberá o meu voto.
Aqui no Pará, juro que pensei em votar em Ana Júlia, mesmo ciente do desastre que é o seu governo. Considero o retorno dos tucanos um desastre maior. Mas quando soube das negociações entre o PT e o DEM — o DEM!!! —, ficou claro para mim que o inferno é aqui. Aguardava o resultado dessas articulações do mal, porém nem preciso mais esperar. Se o vice de Ana Júlia será Anivaldo Vale — da curriola de Duciomar Costa, o mesmo sujeito que inventou do nada um domicílio eleitoral em Belém para se tornar vice-prefeito —, então mais uma vez decidiram por mim.
Ainda tentarei arrumar candidatos a deputado federal e estadual, porque para senador também não vai dar.
Eu agora sou 00, XX, NONONO, do contra e tudo mais que se puder cogitar nesse sentido. Só uma coisa não muda: eu continuo sendo Brasil.
9 comentários:
Caro, também tinha esse pruridos. Mas de um tempo pra cá, é NONO para quase todos.
Nosso modelo de representação política está esgotado. As gerações que se seguem macaqueiam aquilo que já não prestava décadas atrás. Não vejo ninguém com chance de mudar "isso que está aí".
Para quem não fez opção pela política partidária, como nós, resta continuar gritando, estrilando, escroteando, para usar um português chulo.
Vou parar por aqui porque minha pressão agora deu para subir.
Abraços.
Mas, FRJ. Umas cervejinhas podem baixar a tua pressão. Rssss
Beber com um médico do lado é um verdadeiro plano de saúde! Hehehehe...
Só não queira me fazer detonar o algoritmo de reanimação. O "bafo" não compensa.
Rssssss
Vai rolar respiração boca a boca, rapazes? É por essas e outras que eu não bebo! Ahahahahahahahah
Quanto ao mérito, Francisco, parece que estamos na mesma sintonia.
Estou em total assincronismo com os ilustres amigos advogados. E não poderia ser de outro modo, porque sempre tive partido desde que fui universitário.
Decepções não se localizam só na política, encontramo-as na vida, na profissão, no trabalho, na religião, no amor e até infelizmente, para alguns, na família.
Daí que não acredito em sociedade, política ou partidos como linearidades históricas, como se a história e Inês fossem mortas, mas como processo de permanente construção histórica.
Não reconheço assim qualquer relação com minha história de vida o ato de votar nulo. Além do mais, nunca soube de tal fato acontecer na minha família.
Com essas palavras de modo algum pretendo abrir um debate sobre a decisão pessoal do Yúdice e do Francisco. Respeito-as e ponto final.
Agora, tem um coisa, viu, Barretto: eu sei que tu nunca votaste nulo, mas nem por isso concordo que tentes embebedar o Francisco e levá-lo para votar. Saiba que sou contra essa história de título de porre não ter dono.
Por que prurido? O voto nulo é, sim, um posicionamento político, cidadão. Não aceitar nenhum dos nomes impostos é desmascarar a farsa dos partidos, todos voltados para a defesa de seus interesses e pela detenção do poder, nunca com idéias de melhorar a qualidade de vida da coletividade. Uma bela soma de votos nulos pode desqualificar uma eleição, pode balançar a sanha interesseira dos eleitos, pode trazer mudanças no nosso sistema político.
Votar no menos pior é que demonstra a submissão a um sistema falido, a vontade de permanecer como está.
Alguém aqui escreveu que o voto nulo não é um posicionamento político, ou ato próprio de párias que estão à margem da sociedade? Nunca.
Mas, há atitudes políticas e atitudes políticas. Você as escolhe e defende conforme o seu arbítrio, e com ele assume as consequências da escolha.
Por favor, meça as palavras antes de escrevê-las; ou melhor, antes de aqui vir se coçar.
Dr, é preciso repensar esta posição, até pq o blog flanar influencia pessoas com suas críticas, análises etc e tal. Fico triste c o inteiro teor da postagem. Entendo sua indignação, mas sempre há uma opção!
Postar um comentário