sábado, 17 de julho de 2010

Equidade Antes Que Tarde









Você tem fome de quê?
(Comida, dos Titãs)
E os barracos
Na beira do abismo
Deslizam no cinismo
Da Vieira Souto
Meus sonhos são outros
Enquanto não durmo...
(Tempestade, de Zélia Duncan)

Não, leitores e leitoras do Flanar, a imagem aí de cima não foi fotografada na periferia de uma cidade brasileira, nem nos morros do Rio de Janeiro. Trata-se de registro de uma revolta popular, ocorrida na última sexta-feira em um subúrbio pobre da bela Grenoble. O tumulto foi iniciado após a polícia francesa matar um jovem assaltante, membro da comunidade árabe local.
A partir daí, a gravidade dos protestos obrigou o ministro do interior do governo Sarkozy a se deslocar para aquela segunda maior cidade francesa, localizada no sopé dos Alpes e sede de importante universidade, que em 2003 visitei como coordenador nacional do Ministério da Saúde, para definir os fundamentos do projeto que implantou o SAMU nos municípios brasileiros e a Política Nacional de Atenção às Urgências.
A França hoje possui um caldeirão de desigualdades sociais em fermentação nos subúrbios dos seus maiores centros urbanos. Fato parecido ao de Grenoble aconteceu há poucos anos atrás em Paris, o que confirma que os governos neo-liberais não passam para uma ação portadora de futuro, quando se trata de efetivamente reverter o ciclo vicioso ou geracional da pobreza, de exclusão social e de violência.
Preferem chamar à polícia e lotar prisões, o que, passados 221 anos da Revolução Francesa, atualiza o conselho extravagante atribuído a Maria Antonieta; o de ofertar brioches para saciar a turba faminta e enfurecida que para o Palácio de Versailles se movera não obrigatoriamente nessa ordem, posto que lá não foram reclamar remédio para miséria de fome única.
A cobertura do Le Figaro está aqui.

4 comentários:

Scylla Lage Neto disse...

Itajaí, conforme a profecia de Jack London no seu livro O TACÃO DE FERRO, "o povo dos abismos" começa a emergir também no hemisfério norte e não haverá como contê-los.
Abs.

Francisco Rocha Junior disse...

Itajaí,
Foi em Grenoble que morei, por três anos, quando preadolescente estive na França.
Do que lembro, nem havia núcleos árabes na cidade (alguns indianos e persas, talvez), que àqueles tempos - nos idos dos anos 80 -, estavam restritos ao sul do país, Marseille e arredores.
Grenoble era pacata, uma cidade com história ligada aos dauphinois, locais com vínculos italianos.
Realmente, como se vê, os franceses não se prepararam para a diversidade populacional e para aquilo que dela decorre, em especial as exigências de 2as e 3as gerações originadas de imigrantes, que são tão cidadãos franceses quanto aqueles nascidos de famílias antigas do Massif Central.
Abs.

Itajaí disse...

É verdade, Scylla. Mas assim caminha a nossa humanidade, ou seja, da nossa geração que se propôs faze-la de um modo diferente. Como diz o quase lugar comum - rsrsrsrs: A luta continua!

Itajaí disse...

É preocupante, Francisco. Apesar da notícia se referir a França, sabemos que esse problema afeta igualmente outros países europeus, no que concerne não só às minorias procedentes do Magreb (Norte da África), mas também de países do Leste Europeu, que antes integravam a extinta URSS.