Imagine-se na seguinte situação: em algum momento, em algum lugar uma pessoa ao seu lado perde a consciência e cai. Quem tem o mínimo conhecimento de Reanimação Cardiorespiratória já deve saber os primeiros passos sobre o que fazer: checar a consciência, checar a respiração e checar o pulso. Se não existirem batimentos cardíacos, o que fazer?
Para nós médicos, não há nenhuma dúvida. Mas este texto é dirigido ao leigo, elemento fundamental na cadeia de sobrevivência, iniciada a partir do primeiro segundo de uma Parada Cárdiorespiratória em ambiente extra-hospitalar.
Os passos seguintes seriam, a compressão cardíaca externa e a chamada ventilação boca-a-boca. Mas o fato é que muitos, só se sentem inclinados a fazer alguma coisa, se não tiverem que executar a ventilação boca-a-boca. Diante desta realidade, desde 2008 as diretrizes da American Heart Association (AHA), já aceitavam que a população em geral ao menos priorizasse a compressão cardíaca externa, feita de maneira correta e no ritmo certo. O Dr. Benjamim Abella, que ajudou a desenvolver as diretrizes da AHA 2008, justifica a recomendação: "Nosso ponto fundamental era de que fazer alguma coisa é melhor do que não fazer nada".
A novidade é que agora em julho, 2 trabalhos com um número significativo de casos, publicados no prestigiado The New England Journal of Medicine, parecem apoiar fortemente a idéia proposta pela AHA. Quem desejar, pode ler o resumo dos trabalhos aqui e aqui.
Mas é preciso muita cautela com a recomendação que parece emergir destes trabalhos. De fato, ambos os estudos avaliaram uma população predominante de adultos. E a ventilação boca-a-boca continua sendo indispensável para crianças, vítimas de afogamento, asmáticos e portadores de doença pulmonar crônica.
Concluindo, agora não há mais justificativa para o leigo deixar de fazer alguma coisa nestes momentos sempre tão difíceis. Cheque a respiração, cheque o pulso. Não havendo batimentos cardíacos, inicie a compressão cardíaca externa da maneira correta e no ritmo certo, com 100 compressões por minuto.
Deve ser feita com a palma da mão, posicionada no terço inferior do osso esterno (veja a imagem sobre a correta posição das mãos). Lembrando que devemos fazer com força suficiente para deprimir o tórax no máximo 5 cm, com a vítima posicionada sobre superfície rígida (pode ser o chão e não vale a cama). Percebam que deprimir o tórax apenas 5 cm, não deve exigir uma força descomunal e brutal, que inclusive deve ser evitada. E não esqueça de manter os braços esticados enquanto executa as compressões torácicas. Se vergá-los, você tira efetividade das compressões. Não vale também abanar, gritar, e nem fazer movimentos circulares como se fosse "massagem" de relaxamento. Em outras palavras, você tem é que tomar uma atitude pontual e fazer o que tem que ser feito da maneira correta.
Quanto ao ritmo, a AHA também já tratou de encontrar uma maneira de popularizar este conhecimento. São 100 compressões por minuto. E o ritmo, é o mesmo da música no vídeo acima, que convenientemente, se chama Staying Alive.
Então não existem mais razões para alegar que nada pode fazer. Não esqueça de um detalhe muito importante. Antes de dar início a manobra, peça para alguém chamar uma ambulância. Mas não pare de fazer o procedimento. Se cansar, chame outra pessoa, oriente e ensine-o a fazê-lo. Alternem-se nos esforços. Mas não parem.
Resumo do Algoritmo:
- checar a consciência - chame a vítima, movimente-a em busca de algum sinal de consciência; Caso não responda -->
- chamar 192 - peça para alguém ao seu lado utilizar o telefone e chamar o SAMU; -->
- checar respiração - encoste seu ouvido próximo a boca da vítima e verifique se há respiração; Caso ausente -->
- checar o pulso; Caso ausente-->
- iniciar compressão cardíaca externa.
[Via CNN]
9 comentários:
Excelente a postagem: didática para nós, leigos. Nada como dar, enfim, uma passadinha na rede e encontrar informações úteis.
Obrigado, amigo. Pessoalmente, tenho sentido muito a sua falta por aqui.
Bom final de férias!
Na próxima semana, reassumirei também os batentes blogais (mais neologismos...). Abraços.
Cidadão Carlos Barretto,
Muito obrigado, mas muito obrigado mesmo pela orientação.
Espero que ela ajude a vencer preconceitos e salvar vidas.
Todos nós podemos fazer um esforço de nos colocar no lugar de quem precisa da ventilação boca-a-boca e pensar que teríamos máximo interesse em ser socorrido com esse procedimento quando dele precisássemos.
Uma pergunta de leigo: será que o uso de alguma coisa parecida com um protetor bucal descartável ajudaria a vencer ou aumentaria o preconceito contra a respiração boca-a-boca?
Obrigado pela gentileza, nobre.
Na verdade, este dispositivo existe e se chama Máscara de Laerdal. Depois, me estenderei mais sobre seu uso, que na verdade, exige um certo treinamento, o que acaba saindo um pouco do espírito da coisa, digamos. Por ora, vou estraçalhar um carneiro aqui na Cantina Italiana.
Abs
Caríssimo Alencar
Voltando ao batente, após emergir do extraordinário e crocante carneiro da cantina, acrescento as informações devidas.
A Máscara de Laerdal é de fato uma alternativa para ventilação artifical em Parada Cardíaca. Contudo, além de exigir treinamento em seu uso, custa caro e seria impensável imaginar as pessoas comuns andando por aí transportando-a. Mas ainda assim, é utilizada por algumas equipes de paramédicos em atendimento pré-hospitalar no Brasil.
Sendo assim, penso não existir maneira mais prática, eficiente e exequível do que a ventilação boca-a-boca, no atendimento destas emergências.
Abs
Ah! A Máscara de Laerdal pode ser vista aqui:
http://www.laerdal.com/doc/8695273/Laerdal-Pocket-Mask.html
Olá, Carlos.
Excelente postagem. Parabéns!
Reunir tecnologia - sua praia - e saúde - seu "oceano", ou o inverso - e teremos uma enciclopídia sobre tecnologia em saúde.
Parabéns!
Obrigado, anônimo.
Este de fato era um tema que há muito eu estava devendo ao blog. Tomara que muitos e muitos leigos leiam e aproveitem também.
Abs e obrigado pela visita
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