segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Transporte Público

Após três semanas na Europa, duas das quais como usuário assíduo do transporte público, meu apreço e admiração por trens, ônibus, bondes e afins nunca estiveram tão em alta. Em países como a Holanda, Bélgica e Alemanha, e também em outros que visitei em verões passados como a Dinamarca e a Suécia, as vantagens "adicionais" do transporte público vão muito além das vantagens mais óbvias, como redução da poluição e de congestionamentos.

Nestes países, e presumo que em muitos outros "desenvolvidos", o transporte público é na verdade um modo de vida todo próprio, que estimula cidadãos a envolverem-se na vida da cidade, já que eles acabam vivenciando a cidade de uma forma muito mais direta e interativa. Depois de 24 horas bicicletando por Bruges, Bélgica, minha visão da cidade e de seus habitantes foi totalmente transformada. O mesmo aplicou-se a cidades como Amsterdam e Colônia, onde a minha "reliance" no transporte público me fez interagir com a cidade e seus habitantes de uma forma muito mais rica, direta e urgente.

Outra vantagem que eu vivenciei foi a democratização do espaço público proporcionada por bondes, metrô e ônibus urbanos. Cidadãos que usam estes meios de transporte diária e assiduamente, estão muito mais inclinados a desfrutar, apreciar e cuidar do espaço público do que outros que, como acontece aqui na California, mal se apercebem da paisagem urbana da janela de seus solitários automóveis.

Também percebi no transporte público daqueles países uma tendência a funcionar como grande equalizador na sociedade. Diferentemente do que acontece em países como o Brasil, o transporte público nestes locais coloca todas as camadas da população em direto contato. Nos países que visitei, todos são iguais dentro do metrô ou ônibus. Acho que a longo prazo, isto também contribui para formação de uma sociedade mais igualitária e democrática.

Outra vantagem que percebi foi a interação direta entre as pessoas. Aqui na California, todos reclamam da distância entre as pessoas, do fato de que só se interage com alguém em circunstâncias comerciais, de compra e venda. O transporte público nos força a estar cara a cara com nossos vizinhos e com completos estranhos. Desta interação, penso que também nasce uma apreciação completamente diferente por quem está a nossa volta.

2 comentários:

Anônimo disse...

Raul , teu post deveria ser matéria de capa na grande mídia da caótica São Paulo , aqui no metro da Sé as 18:00 hs o "estar cara a cara com seus vizinhos" pode acabar em hospital.Enquanto a frota de novos carros aumenta em 40% e triplica-se a marginal para o Mr.carro estar em primeiro lugar e para satisfação do bolso das grandes montadoras e dos que vivem deste modelo falido e enquanto isso para ir de busão de casa pro escritorio vencendo 8 km , tenho que pegar 2 onibus cheios e metro.
O engenheiro que calculou linhas de onibus/metro em sampa ganha qq concurso Dumb Got Talent , fácil.
Abraços
Tadeu

Raul Reis  disse...

Tadeu: obrigado pelo comentário muito a propósito. Concordo: tanto no Brasil como aqui nos EUA, tem-se que repensar completamente esta questão do transporte urbano. Principalmente pq o Brasil vai ter que estar muito mais preparado neste quesito pra Copa do Mundo e Olimpíadas... Abs.