sábado, 9 de outubro de 2010

O Ovo da Serpente: Carta de um Professor da Amazônia

Conforme transcrita do blogue Vôo de Galinha.

Prezados (as) amigos (as),
Muito boa a mensagem pelo conteúdo, que é irretocável. Mas a mensagem não deve ser repassada às listas de jovens de 20 anos no tom em que está. Essa campanha do segundo turno será muito dura e o PSDB usará de todos os golpes baixos que dispuser. O jovem de 20 anos de hoje é muitíssimo menos questionador que os de 15 ou 40 anos atrás. Ele gosta de conteúdos já mastigados, do tipo que você encontra com facilidade na internete ou na revista Veja. Mas, como temos identificado, a história do Governo FHC e do Brasil todo o dia é reescrita de modo falseado por esses meios de comunicação, o que obriga-nos ao se tato na abordagem e no diálogo com nossos jovens sobre o assunto, pois em contrário será a versão reacionária que passará como fosse verdade nessas eleições e nos próximos anos.
Nós todos fomos contemporâneos de universidade no interregno entre a ditadura e a redemocratização do país. Vocês sabem que eu sou professor universitário federal de dezenas desses jovens e já participei da formação (técnica) de algumas centenas deles. Nesse contexto tenho escutado cada "verdade" sobre a era FHC que é necessário muitas vezes respirar fundo para contar aos alunos um pouco do que eu testemunhei e sofri, nesses anos em que estivemos sob governos neoliberais.
Mas a causa da conduta despreocupada de nossa juventude sobre as tensões políticas da atualidade, eu atribuo boa parte da CULPA à desatenção do GOVERNO LULA. Para situar essa questão, vou lhes citar apenas alguns exemplos que permitem melhor dimensionar essa crítica, elaborada a partir do contraste do que eu vivi quando tinha a mesma idade de meus alunos, e portanto logo após minha graduação na Universidade Federal do Pará:
1) Todos os engenheiros que formamos hoje, mesmo aqueles que foram alunos fracos, conseguem emprego facilmente. Pra que se preocupar com o desemprego, ele existe???
2) Todos os alunos de Mestrado ou Doutorado (em Engenharia) em dedicação exclusiva têm bolsas de estudos.
3) Boa parte dos jovens pode fazer faculdade hoje, mesmo em faculdades particulares, com oa instituição do Prouni no governo de Lula.
4) Para os jovens com escolaridade anterior ao nível universitário está sendo ofertada uma infinidade de cursos de nível técnico e auxiliar técnico, pois a verba para a oferta desses cursos cresceu exponencialmente nos últimos sete anos. Além do mais, a chance de absorção pelo mercado desses jovens, mesmos dos minimamennte capacitados, é inegavelmente altíssima.
5) Esses jovens mal se formam, e com emprego e crédito fácil vão comprando o seu carrinho financiado, entupindo as ruas e provocando os congestinamenos gigantes do trânsito de hoje.
6) Com emprego e algum dinheiro no bolso, eles aproveitam as facilidades de uma economia estável e começam financiar imóveis e até a planejar o futuro, palavra que para a minha geração de vinte anos atrás significava angústia e incógnita.
Essas farturas referidas, trouxeram o mal da inconsciência de que há bem pouco tempo atrás a promessa de paraíso hoje vivido, era o inferno marcado pela falta de perspectiva a curto, médio e longo prazos, pela regra de salários aviltantes, pela má distribuição de renda e pelo desemprego crônico. Não a toa alguém cantava que "a gente somos uns inúteis"... Ou que "os meus inimigos estão no poder"... Porque esses eram os sentimentos da época em que me graduei na escola em que hoje sou professor.
Sem consciência, portanto, não tem jeito!!! Pela primeira vez na história do país, eu devo admitir que mais oito anos de continuismo da política de governo que temos hoje, a mentalidade e o senso crítico e questionador dos nossos jovens estarão ANIQUILADOS como cidadãos construtores de um futuro para o Brasil. Num cenário de pesadelo, sou forçado a concluir que apenas pela volta de um governo neoliberal - ao modo como Collor praticou, como Itamar prosseguiu e como FHC consolidou -, pela perda do que temos e pelo sofrimento que derivará, poderemos devolver aos jovens o que foi perdido no Governo Lula: a apropriação consciente de que o atual progresso só faz sentido se compreendermos que ele é fruto de uma luta contra as dificuldades e a total falta de perspectiva de soluções, que eram rotinas na vida dos jovens de 10 ou 20 anos atrás.
É isto o que falta ao nosso jovem para resgatar o seu espírito crítico e um pensamento mais elevado, que permitam negar as propostas do atraso e chegar finalmente à compreensão das conquistas e valores do governo Lula. Agora, eu gostaria que vocês me ajudassem a comprender uma questão paradoxal que a nossa mídia deformadora colocou-me na cabeça:
Quando o Lula era candidato a presidente da República, a mesma mídia de hoje dizia que ele era burro, analfabeto e que não sabia expressar suas idéias. Tudo o que ele dizia não passava de mera repetição de textos e idéias de colaboradores altamente preparados tecnica e politicamente, como a Dilma Roussef. Agora que a técnica e a política Dilma é candidata à sucessão de Lula, nossa mídia vem afirmando que ela não tem expressão nem preparo, alegando que nossa candidata faz belos discursos e está muito bem cotada por conta de ser bem assessorada pelo "demonizado" Lula; sim, o nosso presidente que o abuso da liberdade de expressão vigente no Brasil antes linchara como bêbado e ignorante nos jornais, nas revistas e televisões brasileiras, e, inclusive, por tabela na mídia estrangeira fo NY Times!
A história é contada conforme a conveniência dos poderosos, sabemos. Mas, na falta de contra-ponto que construa a prova dos noves, os mais jovens, cada vez menos questionadores da realidade em que vivem, assimilam facilmente as "verdades" narradas pelo filtro dos interesses inconfessáveis da mídia e das elites brasileiras. Tolerar esse fato, fazer de conta que tal gravidade não é importante, ao meu ver é o verdadeiro ovo da serpente que poderá nos levar à perda, ou fazer retroceder mais uma vez o bonde da história.

Um abraço,

C.

M. Sc. Ph.D

8 comentários:

Francisco Rocha Junior disse...

Caríssimo,
Poucas vezes li um texto escrito por um philosophus doctor com tantos erros de português, sem coesão lógica entre seus parágrafos e tão preconceituoso com os jovens de hoje em dia. E pra que o anonimato?
Não gostei.

Itajaí disse...

Francisco,
1) Não menospreze. As vezes até mesmo o bom Homero cochilou, registra a História. Portanto, não sejamos tão verdugos de idéias pela lâmina do Português, porque o risco de nos machucarmos será sempre grande.
2) O uso do anonimato é direito do autor e não deveria aqui ser questionado à vista da notável tolerância do Flanar com anônimos. Inclusive quando aqui comparecem para esculhambar impunemente integrantes do blogue.
3)Desbastados esses somenos das alegações iniciais, afirmo-lhe que não vi nada de preconceituoso no texto. Trata-se de análise que corresponde a uma inquietação sobre realidade que está longe de ser adequada, e que, sim, contem riscos a serem considerados por quem desempenha o papel de educador.
4)Nesse sentido estimulo que tenhamos a gentileza de comentar a carta sem derrapar deliberadamente na epiderme dos rótulos. Pois só pelo debate de idéias teremos a chance de avaliar a pertinência da análise do professor sobre o atual papel do aparelho formador da consciência crítica da juventude - a escola, a família e a sociedade.

Zé Gondim disse...

O que me intriga nesse comentário PhD, é a contradição do raciocínio de que o governo Lula - ao elevar o nível de "fartura" dos jovens (mais possibilidade de entrar na universidade, maior mercado de trabalho, melhor nível de consumo...), o que faz parte de qualquer programa de governo - tirou deles a possibilidade de ter consciência política. Não consegui chegar... Quer dizer que o único jeito dos jovens de hoje abrirem suas cabeças para a realidade, é o Serra ganhar? Juro que isso me deixou "pasmo"!!! Uma luz, por favor, Itajaí...!

Itajaí disse...

Zé Gondim,
O autor da carta nos chama a atenção de que não podemos dissociar o progresso material do fortalecimento de uma consciência crítica, que permita ao jovem compreender o papel que possui no processo histórico do país. Para o autor da carta, evoluímos e descuidamos de dar aos jovens os instrumentos necessários para compreender nosso presente como fruto de um embate ideológico recente com os governos neoliberais - corretamente citados pelo missivista, inclusive no que respeita ao papel e a responsabilidade de cada um.
Ao termos assim procedido, chegamos ao nonsense de só nos apropriarmos do valor do governo Lula pela perda do que foi conquistado; esse cenário de feitura surreal - mas aproximado do real - teria como elemento ordenador uma negação acrítica, que possibilitaria o apoio de uma proposta de governo que ideologicamente defende os princípios fundamentais do neoliberalismo: a preponderancia do mercado sobre as relações sociais e o enfraquecimento do estado como provedor de direitos, que bem podem ser expressos simbolicamente na decadência e na precariedade das relações de trabalho verificadas nos governos de FHC e no recente de Serra, em SP.
Vejo também na carta uma preocupação em discutir uma consciência crítica como forma de dignificar o progresso, que não deve ser reduzido ao individualismo, ao charme yuppie e ao consumismo desenfreados que temos observado especialmente na classe média. Proceder assim é fortalecer uma sociedade injusta e desigual. É por aí.
Obrigado pela contribuição.

Francisco Rocha Junior disse...

Caro Itajaí:
1. O exercício da crítica não significa menosprezo. Ao contrário: um MSc e PhD, que tem mais letras nos títulos que no nome que assina, deveria ser o primeiro a dar o exemplo no uso escorreito do português;
2. O Zé Gondim matou a charada no que chamei de falta de coesão lógica entre os prágrafos do texto. Também não consegui compreender como o professor usou os termos de seu discurso para chegar à conclusão que enuncia;
3. O uso do anonimato é estranho quando o cidadão usa do que parece ser um argumento de autoridade - sobrepõe sua formação acadêmica ao próprio nome - para dar uma opinião que, se não ele mesmo não entendeu como preconceituosa (como a mim me pareceu ser), não teria razão para não assinar;
4. Em complemento ao argumento anterior, não estou comparando ou defendendo o uso do anonimato por uns e outros, sejam serristas ou dilmistas, sejam esculhambadores ou elogiadores do blog. Fazendo a autocrítica (mas não o autoelogio, por que não sei se isso é bom ou ruim), Creio ser o mais tolerante aos anônimos de nós todos. Não seria eu a criticá-los pelo simples fato da não-assinatura;
5. Finalmente, pareceu-me preconceituoso o comentário pela comparação. Se há importância histórica na geração de 1960 e como ela pensava, há na de 1980, 1990 e, evidentemente, na dos anos 2000. A forma da crítica lembra o discurso do centralismo democrático e daquilo que levou à formação do Politburo e da Nomenklatura soviéticos. Neste pensamento, há uma elite pensante que precisa manobrar o resto dos concidadãos na direção daquilo que eles, os "eleitos", julgam ser o correto. Para não ficar na crítica à esquerda e não ser mal compreendido, como no golpe de 1964 e na manutenção longeva de uma ditadura de direita no Brasil.
Abs.

Itajaí disse...

A mim pouco importa o uso correto de português em escrita coloquial na internete; importa o conteúdo. Ainda hoje li uma intervenção do prof. Emir Sader no tuíter, em que o Português não era escorreito. Nem por isso arroguei-me o direito de sair desqualificando o texto dele por esse viés, pois sei que há muito mais coisa entre uma maiúscula que inicia uma oração e um ponto que a finaliza.
Contudo, esclareço-lhe que essa não é uma guerra de gerações, ao modo como você aprendeu que existiu nos anos 50/60. O que o professor aponta é mais atual. Trata-se da falência das gerações que vem construindo a chamada Nova Repúblican - a minha, a dele e a sua; aponta para uma espiral de consumo e satisfação nunca dantes vista neste país, que de par com um progressivo distanciamento crítico da realidade pode arriscar escolhas arriscadas para a democracia. Não tem nada de grupo A, grupo B, de fulano ou sicrano fazer cabeça de D, de E, ou de Y.
E em tempo, para saírmos da ditadura do rótulo e não caírmos na fabulação fácil: o professor nunca teve qualquer vínculo c/ partidos comunistas e nem sequer é marxista; não cabe nessa conversa, portanto, relacionar a análise dele ao comunismo russo, o que seria absolutamente incorreto com a motivação do texto.

Francisco Rocha Junior disse...

Caro Itajaí,

Não menosprezei, nem desqualifiquei o MSc/PhD pelos erros de português, nem me arroguei o direito de fazer correções no texto. Simplesmente critiquei o fato de se tratar de um texto com tantos problemas de português (que não se resumem a pontuação ou falta de maiúsculas), escrito por quem seria o menos indicado a cometê-los. Criticar é possível, nesta terra de liberdades democráticas.

Também critiquei o embricamento lógico entre os termos que ele propôs e a conclusão a que chegou, exatamente e pelos mesmos motivos como o Zé Gondim o fez. Tua intervenção não me convenceu, idem.

Finalmente, tomei a cautela de fazer a crítica à direita justamente para evitar teu comentário final, sobre comunismo e democracia. Como não parece ter ficado claro, reafirmo, então: a crítica que fiz não vincula o professor a qualquer matiz ideológica. Até porque o modus operandi proposto pelo professor não é exclusividade nem de um lado, nem de outro.

Itajaí disse...

Obrigado, por sua participação, caríssimo.