segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A rede social

Vi durante o final de semana o filme que está chamando a atenção por aí: A rede social (The social network, dir. David Fincher, EUA, 2010).

Zuckerberg (o terceiro, da esquerda para a direita):
movido a raiva e necessidade de aceitação -
como quase todo adolescente.
 Em síntese, o filme tem sido descrito como uma espécie de cinebiografia de Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, uma das ideias mais bem sucedidas da Internet. Mas uma sinopse dessas comprometeria o trabalho, porque gente menos propensa ao deslumbramento poderia simplesmente não se interessar pela vida de um moleque hoje com 26 anos por quem a maioria das pessoas se interessa não por seu intelecto (extraordinário, não se pode negar), mas por ser o mais jovem bilionário do mundo. E a tchurma adora louvar gente rica.
O filme vai além e retrata com competência o período de desenvolvimento do Facebook e as crises decorrentes, notadamente os processos sofridos por Zuckerberg — um, movido pelos irmãos Cameron e Tyler Winklevoss e por Divya Narendra, que se julgavam donos da ideia; outro, movido pelo ex-melhor amigo brasileiro Eduardo Saverin, que financiou a empresa em seu nascedouro. Alternando, na edição, cenas da vida dos personagens com os dois litígios, o brilhante Fincher retrata muito bem o modus vivendi dos universitários de Harvard em 2004, uma elite que se acha no dever de mudar o mundo com alguma criação acadêmica, mas que passa boa parte do tempo (se não a maior parte dele) enchendo a cara e fazendo merda, como p. ex. se submetendo a diversos tipos de humilhação só para ingressar em uma das fraternidades da honorável instituição.

Uma empresa avaliada em 26 bilhões de dólares.
 Aliás, ficamos com a sensação de que Zuckerberg se tornou o que é por conta de sua obsessão por ingressar em alguma das mais sofisticadas dessas fraternidades. Nerd e certamente sofrendo de transtornos comportamentais, o sujeito é um desajustado social e, ironicamente, virou um fenômeno promovendo a interação entre pessoas. Não sem, claro, dar sucessivas mostras de sua agressividade e desprezo por tudo que não fosse espelho. Ele não é retratado como um vilão de novela global. Não é a personificação do mal: é apenas um grandissísimo babaca, só que genial o bastante para comprar uma boa fatia do mundo e colocá-la no bolso.
Construído sem intenções bajulatórias, A rede social é um filme sério, agradável, com bons momentos de humor, mas sem comprometer a sua proposta de contar uma história que, convenhamos, dispõe de elementos para prender a atenção de gente comum como nós. Vale a pena ver.

PS — Há mais ou menos sete anos alguém me mandou um convite para ingressar no Orkut. Aceitei, fiquei meio viciado e, hoje, raramente passo por lá. Mas mantenho minha conta, porque me permite reencontrar velhos amigos, manter alguns contatos, lembrar alguns aniversários, compartilhar um pouco da vida de pessoas queridas. De lá para cá, recebi alguns convites para ingressar em outras redes sociais, inclusive o Facebook. Ignorei todos sumariamente. Recuso-me a participar de mais de uma rede e pouco me importa se o Orkut é a mais interessante ou a pior delas. A adolescência já ficou para trás faz tempo e não tenho nenhuma necessidade de caçar falsa popularidade por aí. Nada contra quem tem, mas já me sinto contemplado em minha moderada necessidade de exposição.

Um comentário:

Edyr Augusto disse...

Yudice,
Concordo com seus comentários sobre o filme, mas confesso que não achei tão agradável assim. Não considero que o roteiro tenha um desenvolvimento de ações razoáveis. Ficou tudo estático. Afinal, o brasileiro Eduardo tem ou não suas razões? E o nerd, à parte ser um gênio, é mau caráter ou não? E o cara do Napster? Acho que vou ler o livro para entender melhor.
Abs
Edyr