Rua do Amparo, centro histórico de Olinda, Pernambuco. Em pleno Carnaval de 1996, tive o privilégio de bater papo com um dos mais inovadores artistas do Brasil em todos os tempos. Ele se chamava Francisco de Assis França, mas todo mundo o conheceu como Chico Science. Entre um bloco e outro, Chico contava que estava escutando carimbó. Tinha garimpado em sebos de discos alguns LPs de Pinduca. Sabia que Mestre Lucindo era "o cara" e planejava uma viagem ao Pará. Ele dizia que o carimbó era primo do maracatu e que a mistura poderia dar um "bom samba". Chico lembrava com carinho o show do CD "Da lama ao Caos" que tinha feito poucos anos antes no African Bar, em Belém - apresentação que tenho na minha lista Top 10 das mais impressionantes performances que tive a sorte de testemunhar. Nessa mesma lista está também o show de lançamento do CD "Afrociberdelia", dele e da Nação Zumbi, neste mesmo fevereiro de 96, no Festival Recbeat, em Recife.
Um ano mais tarde, no dia 2 de fevereiro de 1997, os tambores pernambucanos silenciaram. Chico morreu num acidente de carro na rodovia entre Recife e Olinda. Os historiadores da cultura brasileira dizem que ali terminava a safra da melhor música do Brasil dos anos 90. O desaparecimento de um dos criadores do Movimento Mangue Beat interrompeu a linha evolutiva da música verde-e-amarela de qualidade. Chico era o digno herdeiro do Antropofagismo de Osvald de Andrade, e do Tropicalismo de Gil, Caetano, Tom Zé, Torquato Neto & Cia. Mas ele era aquele herdeiro que não desperdiça a herança. Pelo contrário, aumenta o patrimônio que herdou.
Aquele 2 de fevereiro nos privou de um gênio que há 14 anos nos faz e nos fará falta para sempre.
Salve Chico Science!
2 comentários:
Otima lembrança, Edvan. Chico Science deixou uma grande, inestimavel (e impossivel de ser preenchida) lacuna na musica brasileira :(
Que maravilha Edvan.
Chico é estupendo. Sou fã pra caraio!
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