sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Mulher líquida



Curioso que nunca fui amante de textos poéticos. Não me parecia coisa de gente forte. Leitura, sim, mas aquilo me levava à realidade bruta, cotidiana, fálica. Ai, nosso mitos de cada dia... Da leitura para minhas experiências de vida, ou vice-versa, um passo. Identificações são assim mesmo. E senti que me pregaram uma peça. Não sei quem. E não importa quem. E é em momentos como esses que fica mais claro que não temos lá tanto controle e autonomia sobre nosso “destino”.



Explico melhor o motivo de achar isso tudo curioso: ano passado, me vi deixando fluir fantasias para a concretude possível das palavras escritas. Uma surpresa que não reprimi e que vazaram para meu facebook (se ele der bug, perco tudo), numa interação com as pessoas no mínimo interessante. Me recuso firmemente a admitir que é arte. Relendo-os, encontro doçura, amargura, desejos, ódio, frustrações, desilusões, erotismo. Erotismos. Me permiti contemplar a mim mesma, um movimento que sempre me seduziu, mas de mim para os outros, não de mim para mim.



Contemplar a produção alheia continua a me envolver. E meu anseio tende para aquilo que é cúmplice do funcional. Restos, resquícios das ilusões que se fissuram. A produção de Isabela do Lago, por exemplo, me captura, em especial a nova produção que ela tem trabalhado, as pinturas em portas (como na imagem acima, cedida por ela).



Já estou animada para ver o projeto Mulheres Líquidas, uma coletiva que ela agendou com outras companheiras de viagens para julho deste ano, na galeria Theodoro Braga. Ah! Quem quiser doar portas para a artista, não tema. Ela é capaz de carregar até as que ela encontra rua, ao léu, imagine o que for doado para seu deleite. Tim-tim!

6 comentários:

Scylla Lage Neto disse...

Super-legal!
Eu sempre tive fixação por portas e janelas e provavelmente vou amar a exposição.
Um abraço.

Unknown disse...

Sempre achei que a obra de arte tem o poder de dialogar, individualmente, com a subjetividade de cada espectador/leitor/ouvinte. Ou seja, não há uma mensagem universal na obra de arte, mas ela pode atingir a qualquer pessoa, cada uma vendo nela o que pode, precisa ou quer, independentemente do que quis o artista ao fazê-la. O olhar da Monalisa, por exemplo, pode ser de acusação, cinismo, felicidade, malícia, piedade e uma infinidade de interpretações possíveis.
Quando leio teus escritos, Érika, pode ser que eu me enxergue ou pode ser que eu te enxergue, mas não necessariamente da maneira que te enxergaste ao escrevê-los. É a experiência subjetiva da arte que vejo neles, daí a insistência pra que penses em uma publicação. Porque não importa de que maneira eles atinjam os leitores, o importante é que nos identificamos com eles, num processo que é individual e que não está sob o teu controle enquanto escritora.
No mundo do facebook, em que imagens e textos são cada vez mais uniformes, com suas mensagens universais de auto-ajuda atribuídas canalhamente à Clarisse ou a Caio Fernando Abreu, encontrar textos como os teus é dar um pouco mais de fôlego pra nossos próprios "eus", enquanto fugimos dos "compressores de identidade" tão fortemente estabelecidos em nosso imaginário social.
Por isso, escreva. Nós precisamos disso.

Erika Morhy disse...

Sério, Scylla? São curiosas nossas fixações. Também acho que vou gostar da expô. Abs

Erika Morhy disse...

Ai, Jones, você sempre derretendo meu coração, menino. Mas, olha, NÃO SOU ESCRITORA! Não é só medo do título, é também respeito com quem considero escritor.
E, sabe, acredito que meu único possível leitor que temo e que me faz recuar da possibilidade que nunca passou pela minha cabeça (a de publicar) é meu pai.
Obrigada pelo seu olhar delicado.

Marise Rocha Morbach disse...

Que medo da autoria em escritora, rsrsrsrss. Vai dar tudo certo, bj.

Erika Morhy disse...

E não é, Marise? rs
Vai dar, sim. Obrigada. bjs