quarta-feira, 28 de março de 2012

O inominável

Como não gosto de escrever sobre algo de que todo mundo está falando, calei minhas impressões sobre o caso BRT da Prefeitura de Belém, mas antes que eu tenha um câncer preciso registrar algumas linhas.
O projeto municipal de BRT é um símbolo do que foi a gestão Duciomar Costa, essa pessoa tão peculiar, mas tão peculiar que não se pode dar exemplo de algo parecido. Veja: após se eleger graças ao apoio da dobradinha PSDB-DEM (um verdadeiro crime de lesa-pátria do qual essa cambada hoje alega arrependimento, mas pela qual há de queimar no inferno), porque a candidatura de Zenaldo Coutinho não deu nem para a saída; após se reeleger graças a um sem-número de obras de fachada, que nunca existiram ou não foram concluídas, acompanhadas de um impressionante derramamento de material na cor laranja por toda a cidade; após estabelecer a mais indecorosa relação de servilidade que o Poder Legislativo desta cidade já teve em relação ao Executivo; após o mais extraordinário número de escândalos na administração, que levou a incontáveis ameaças de suspensão de repasses federais, notadamente na área da saúde, bem como diversas ações judiciais; após se tornar o primeiro prefeito de Belém réu em uma ação penal por atos de malversação de recursos públicos (o processo aguarda julgamento perante o Tribunal Regional Federal da 1ª Região), o senhor em questão não pode mais concorrer, então precisa fazer um sucessor.
Para tanto, a estratégia - o mais certo seria dizer o golpe - nada tem de novidade: basta recorrer às obras de ocasião. Observem como em vários cantos da cidade os postes de iluminação pública estão sendo substituídos  por outros, novos e enfeitados com a indefectível cor laranja. Não deixa de ser sintomático que, em locais como o cruzamento das avenidas Dr. Freitas e Brigadeiro Protásio, enquanto se maqueia o que vai por cima, por baixo a rua alaga a cada chuva, num ponto da cidade onde, uns anos atrás, não havia esse tipo de problema.
Mas uma eleição não se ganha só com isso. Então é preciso uma obra de impacto, algo grandioso e inesquecível, algo que supere em muito o Pórrrrrrrrtico Metrópole e sua feiúra incompetente (não resolveu os problemas do tráfego no perímetro, criou um problema grave para ciclistas e, já no primeiro mês, ficou com elevadores inoperantes). Então apareceu o BRT, incidindo sobre um dos problemas mais críticos da cidade. Uma obra para mais de 300 milhões de reais, algo para fazer qualquer empreiteira e qualquer contratado muito feliz.
Veio uma licitação suspeita, que já ensejou até uma decisão liminar da Justiça Federal, proibindo repasses de recursos pela União. Mas parece que o prefeito precisa honrar o resultado da licitação e, contra tudo e todos, como de hábito, lá está a suposta obra, que até aqui não passou de uma retirada de faixas de asfalto em vias já congestionadas, sem qualquer preparação para minimizar os impactos.
Com sua insuperável capacidade de fingir que nada está acontecendo, o prefeito ignorou os protestos e apelos do governo do Estado, que possui há duas décadas um projeto muito mais amplo e racional. Na semana passada, os dois chefes do Executivo se reuniram com a titular do Ministério das Cidades e lá o inusitado aconteceu: o governo federal concorda em dar dinheiro para a obra! Desde que as perlengas sejam todas eliminadas. Não houve acordo: Duciomar deixou a sala dizendo que faria a sua obra de qualquer jeito, em apenas sete meses. Ao menos foi o que declarou um perplexo Simão Jatene, através da imprensa.
O prefeito diz possuir 60 milhões de reais em recursos próprios, para tocar a obra este ano. É o caso de perguntar: como esse dinheiro foi economizado? Não teria sido oportuno investi-lo na saúde pública, nos últimos anos? Outra: se gastarmos todo esse dinheiro numa obra que ficaria com menos da metade concluída, e supondo que não haja investimentos estaduais e federais, isso na prática não implica em ter jogado esse dinheiro fora?
Meses de caos no trânsito, dinheiro empregado num elefante branco, num ano eleitoral... Só há uma conclusão possível, a meu ver: parar Duciomar Costa, o quanto antes. Pará-lo enquanto é possível prevenir um pouco de toda a tragédia que esta cidade já sofreu, a ponto de hoje quase não possuir mais autoestima.
Lembremos que ações judiciais não bastam. Duciomar não toma conhecimento de decisões judiciais. Ele não as cumpre e sequer se justifica. Vive em uma realidade paralela, talvez à conta de algum transtorno mental que ainda precise ser descrito, em qualidade ou intensidade. Vive com seu séquito, seus seguranças, seus vereadores de estimação.
É preciso não eleger ninguém que tenha o menor traço de relação com Duciomar Costa, ao Executivo e ao Legislativo. E apoiar amplamente, não apenas na mídia, mas nas nossas ruas, nos nossos bairros, nos nossos núcleos de convivência, todas as ações tomadas pelas autoridades para conter esse descalabro. E cobrar dessas mesmas autoridades que ajam e com pressa.
Não é só o tempo que está acabando. Belém está se acabando.

PS - O acordo fechado entre o governo do Estado e a prefeitura minimiza, porém não resolve o problema. O apelo em torno da não eleição dos apoiadores de Duciomar permanece.

10 comentários:

Pedro do Fusca disse...

Com o Duciomar não pega nada, desde quando ele se passava por médico oftalmologista sem nunca ter passado pelo menos na porta da Faculdade de Medicina. A justiça sempre está ao seu lado, ele ganha todas e faz tudo o que quer. Ele é 10 quando os assuntos são romanices e barbalhices!

André Batista disse...

Yúdice
As pessoas que conseguem ver para além do que é mostrado na mídia, terao que trabalhar essas angústias sozinhas, infelizmente. Parece que nao adianta ministério público e outros mecanismos que poderiam conter essa máquina de transformar Belém no mundo encantado das aberrações.
Duciomar parace ter ser um personagem torto do Ítalo Calvino.
Espero que, quanto ao tal BRT, haja maneira de contornar a situação quando essa administracao acabar. SE bem que é provável que, seja lá quem ganhe, nao continue a obra por puro "brio" político. Daí ficaremos mais pobres e com mais um transtorno pra administrar.

Francisco Rocha Junior disse...

Meu querido Yúdice,

Faltou dizer que o huno, como bem o cognominou o blog do Espaço Aberto, foi reeleito não somente "graças a um sem-número de obras de fachada, que nunca existiram ou não foram concluídas, acompanhadas de um impressionante derramamento de material na cor laranja por toda a cidade", mas também pelo apoio indecoroso e explícito da gestão Ana Júlia Carepa.

Esses também hão de arder no mármore do inferno até o fim dos tempos, apesar do arrependimento que também dizem sentir - inclusive em blogs e perfis de redes sociais de deputados neófitos e quetais.

Ou seja, nessa história não tem santo. Nem aqueles que se autoproclamam aureolados.

Abraço.

Anônimo disse...

Vou morrer cobrando a responsabilidade do povo (sem prejuízo da responsabilidade de todos os agentes políticos, de DEM/PSDB a Ana Júlia), pela eleição e reeleição de Duciomar Costa.

O povo sabe ir na lan house ver fofoca da novela e do Big Brother na internet. O preço de computador e acesso a internet barateara de um tal jeito que o Brasil se tornou um dos 5 países mais conectados do mundo. Existem outros blogs que denunciam as mazelas e malfeitos do Duciomala. Todo o povo sabe que ele foi condenado por uso de diploma falso, só não foi pra cadeia porque a ação prescreveu.

Então, não foi por falta de informação que o povo votou no Dudú do Diploma Falso, foi por achar que ele é bom pra Belém. Se o povo se enganou ou foi enganado, teve tempo e razões de sobra pra se espertar antes da reeleição. Teve informação à disposição também, se não soube (ou não quis) buscar são outros quinhentos.

Ora, se o povo, que anda nas ruas, pega ônibus e sofre na pele os problemas da (falta de) gestão do Duciomala, se o povo não consegue ver a diferença de andamento entre a propaganda da TV e as obras nas ruas, de fato, então, meu caro Yúdice, sua luta é válida e justa e merece meu apoio total, mas é inglória!

Outra coisa que me pergunto: Duciomala responde a 9 ações de improbidade na Justiça Federal. O que está faltando pra algum Juiz Federal decretar o afastamento dele do cargo, com base no art. 20, parágrafo único, da Lei nº 8.429/92?

Que se decrete o afastamento dele, de qualquer jeito! O Duciomala que recorra da decisão, mas que os juízes chamem pra si essa responsabilidade, em respeito ao dinheiro público! Pelo menos uma vez os juízes tem que abandonar esse garantismo perverso, maniqueísta, que transforma o réu em vítima e coloca os direitos de um acima do bem-estar de toda uma cidade; que impõe o sofrimento diário a quase 2 milhões de pessoas por respeito ao direito de má-gestão de um sujeito como Duciomar!

Concordo contigo, Yúdice, é preciso parar Duciomar Costa, antes que ele provoque danos mais irreversíveis ainda que os atuais. Mas esse freio ao alcaide deve ser cobrado de todos, dos juízes à população, inclusive daqueles que nunca farão nada - os políticos que elegeram Dudú e os vereadores - mas que nós não podemos deixar de colocar o dedo na cara desses irresponsáveis também!

Edyr Augusto Proença disse...

Faltou dizer que, infelizmente, nós somos os culpados. Fomos nós que o elegemos, reelegemos, por conta de nossas briguinhas paroquiais, nossos ódios particulares, na base do eu morro mas todos morrem. Há quantos anos prefeitura e governo do Estado estão brigados? Como pode dormir um prefeito que sabe que mais de 90% da população não tem esgoto, saneamento, serviços essenciais? Não, somos nós os culpados.

Marise Rocha Morbach disse...

Yúdice, acabei de chegar da rua com todos os sentimentos que você descreve: perplexidade, indignação e ódio; ódio real. Esse cara destruiu Belém e se mantém com a maior tranquilidade. É um canalha, um cara de pau. Não podemos apoiar ninguém que esteja diretamente ligado a esse cara; e se o Almir Gabriel vier é o atestado definitivo da canalhice dele, também.

. disse...

Basta ler dois parágrafos pra sabermos que se trata de um texto do Yúdice, né?
Como gosto!

Yúdice Andrade disse...

Estou acompanhando todos os comentários e, de modo geral, concordando com todos. Agradeço os adendos, que reforçam a ideia do texto.
E muito obrigado pela gentileza, Waleiska.

Carlos Barretto  disse...

Exatamente, Waleiska.
E nem precisa chegar até o "Pórrrrrrrtico Metrópole".
Rssssss

Yúdice Andrade disse...

Verdade, Barretto. O "Pórrrrrrrtico" já virou uma idiossincrasia minha... ;)