sexta-feira, 1 de junho de 2012

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"Professores universitários são arrogantes e pretensiosos", desabafa leitor


Trago aqui para o Flanar o desabafo de um leitor da folhaonline  chamado Ito Mechaber, que foi publicado no painel do leitor. É sobre a greve dos professores das universidades públicas brasileiras. Ele fala na condição de aluno  diante da greve dos professores; e dos prejuízos que os alunos terão. Vale a pena ler o "desabafo" do  aluno; e a visão que ele tem do papel do professor universitário, no Brasil. Eu sou um desses professores universitários que ele está citando, apenas não estou na USP, nem no sistema universitário paulista. Sem dúvida, uma greve como essa, que está em curso, acarreta muitos prejuízos aos estudantes, principalmente em seu retorno. É visível a baixíssima mobilização dos professores durante a greve. É mais evidente, ainda, que se trata de uma greve por inércia. Vamos aderindo a greve, mas não vamos nos mobilizando em uma greve de ocupação e proposição. Concordo com ele nestes dois aspectos. Mas discordo da noção de arrogância e pretensão, que ele utiliza para descrever o professor universitário. Eu imagino o quanto é difícil para um aluno se ver na condição de produtor de conhecimento. Nesse sentido, estamos diante de um deficit histórico da relação Aluno x Estado. O que tem sido oferecido aos alunos - da educação básica ao ensino superior -  é decepcionante. Mas não é culpa apenas do professor. A perversidade do sistema é bem anterior ao professor. Está na sociedade como um todo. Em como ela enxerga a educação e seus processos. Quiça estivesse no professor universitário a culpa de tudo isso. Eu sou favorável a greve, porque ela está levando nacionalmente a discussão da carreira docente nas universidades. Para o professor que não tem mestrado ou doutorado, a situação é de indigência. E o que vem se constituindo entre alunos e professores, nas graduações, é uma situação de indigência mental decorrente, entre outras, da ausência de um estimulo à carreira universitária. Alunos encenam  que estudam e professores fingem que ensinam. E isto há décadas. Os sistemas de avaliação estão aí para tentar melhorar os indicadores. Os movimentos estudantis refletem o mesmo patamar de ação política. Como mudar? Este é um desafio dos maiores! A mera contraposição de papéis não vai resolver o problema. É necessário ter investimentos pesados na estrutura das universidades públicas; e isto passa por um plano de carreira docente. Não vejo como manter o quadro atual; e não temos outros instrumentos de negociação mais eficazes, pois a história do movimento sindical docente é a história do corporativismo docente. O próprio governo errou ao não apresentar o reajuste em março. Esperou muito prá acenar com soluções. Quando apresentou o reajuste, já estávamos em maio. É claro que oito anos de governo Lula significou cooptação dos sindicatos às políticas governamentais; e isto está arrebentando no governo Dilma. Imagino a situação do ministro Mercadante -  que vem do sindicalismo docente - e que agora está diante de um expressivo movimento grevista que está parando as universidades públicas. A visibilidade dada ao movimento grevista é negativa em todo o Brasil. Paciência! Os professores tem que responder pelo corporativismo que tem pautado a prática docente; com pouquíssimo espaço para a crítica e argumentação sobre o nosso papel. E os estudantes tem que responder pela conivência com que tem aceitado as políticas educacionais, no Brasil.  
Espero que os resultados nos levem a  avançar  para a constituição de um  processo mais crítico e menos corporativo: carreira docente já!

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