terça-feira, 5 de junho de 2012

Que o espelho não se quebre


Foto: facebook Raiz do Samba

“E o meu medo maior é o espalho se quebrar”

Costumam me passar coisas. Tento me acostumar com a passagem delas. Às vezes me dão medo. Às vezes me dão raiva. Às vezes me emocionam. Ainda bem que passam. Mas quando ficam, rumino e tento saber o que essas coisas querem de mim. Essas divagações me acometeram as ideias quando me deparei com a data de hoje, que não é de se comemorar. Afinal, ficar 12 anos só ouvindo a produção que ficou de um dos grandes gênios do samba, o mestre João Nogueira, não é assim tão consolador. Ele morreu, né?, e eu não moro no México, onde fazem bonita festa para comemorar seus mortos.

Na minha modesta bagagem de mudança para Buenos Aires, um disco do João Nogueira teve espaço garantido. Veio sem capa, pra ocupar menos espaço. Mas veio a voz e a poesia que me sacodem a alma.

“E o meu medo maior é o espelho se quebrar”. Esse é um dos versos que, vira e mexe, preciso ouvir e ouvir e ouvir... como criança, que pede pra ver repetidamente o mesmo filme ou uma passagem específica do filme. É que nesse momento, algo muito capcioso nos atravessa. A identificação nunca é à toa. Então eu dou passagem, como um médium abre alas ao seu cavalo.

Meu pai ainda é vivo. Ufa! Mas esse medo eu tenho, o de o espelho se quebrar. Quanto afeto tenho por esse cara?! Como sou parecida com ele em tantas coisas?! Quantas vezes aqui em Buenos Aires, nesses poucos três meses, já chorei e pensei em escrever a ele?! Não sei quantas. Vou deixando as águas rolarem. E acho que vou me arrepender depois. Mas deixo pra lá. Deixo passar de novo.

Minha formação musical, por exemplo, tão eclética, “é ele todinho, minhina (sic - hehehe)”. Por isso, João Nogueira me lembrou meu pai. Meu espelho pra muitas coisas. Não todas. Mas muitas delas. E eu continuo com medo de que o espelho se quebre.

2 comentários:

Francisco Rocha Junior disse...

Linda postagem, Erika.

João Nogueira tem outro fã no Flanar, como podes ver aqui: http://blogflanar.blogspot.com.br/2008/06/avs-pais-e-filhos.html

Erika Morhy disse...

Obrigada, Francisco.
E, olha, fiquei "pretérita" com o texto. Quantas semelhanças?! E de 2008! Fantástico.
Ah, o filho Diogo tem uma diferença, e que é uma virtude: é bonito pra caramba [rs]
Grande abraço pra ti.