Eu já lembro dele assim, com essa imagem que me parece ser a eterna imagem dele: a de um doce senhor; com os poucos cabelos que lhe restavam já praticamente todos alvinhos; uma indefectível pança, resultado de companheiros etílicos de longa data, tão companheiros quantos aqueles que lhe provocam ciúmes. Famosos ciúmes do poetinha por seus parceiros.
Quando Vinícius de Moraes, tão cara de vovô pra mim... quando ele, que casou nada mais nada menos que nove vezes... quando ele nasceu, há precisos 99 anos... ah, eu não era espectro.... E quando ele morreu, em 1980, eu possivelmente começava a largar as fraldas. Apesar dessa diferença cronológica, lembro dele com muita admiração e afeto. Que grande poeta e músico! Mas não é só, não. Sempre que lembro dele, lembro da paixão que minha mãe tem por ele, como por poucos. Ah, sempre foi um presente certeiro pra ela – qualquer livro, disco ou adereço que trate de Vinícius. E foi aí que eu a coloquei frente a frente à decepção com o branco mais preto da Bahia. Quando leu um dos livros sobre ele e soube que seu tão admirado artista havia casado nove vezes... foi demais pra ela. Ficou arrasada. Ainda assim, ela guarda até hoje, nos seus alfarrábios, alguns vinis; poucos, mas entre eles estão os de Vinícius. Ficam guardados em lugar especial, longe dos outros que ainda arriscamos na vitrola de casa.
Certo dia, dona Izabel chamou a mim e meu irmão, levou até o lugar sagrado de seus ídolos, apontou para os vinis seletos e disse com calma e firmeza: Quando eu morrer, quero que toquem esses discos durante o velório. Se não, venho puxar os pés de vocês! Éramos jovens jovens e aquelas palavras foram fortes para nós.
De todo modo, a mensagem foi dada e eu continuo apaixonada por Vinícius. E com a convicção de que... devo realizar o desejo da dona Izabel. Melhor assim.
5 comentários:
Querida, quem em sã consciência poderá esquecer de Canto de Ossanha: "Pergunte pro seu Órixa, o amor só é bom se doer! Vai, vai, vai: não vou!.... Não, eu só vou se for prá ver uma estrela aparecer na manhã de uma novo amor". E, prá completar, coloque o Baden Powell - parceiro dele - prá tocar. Salve a Vovó e o Vinicius.
Olha, Marise, só lamento por esses insanos, esses que não são capazes de conhecer Vinícius e suas obras generosíssimas. Não consigo eleger uma pra dizer: é esta a minha predileta! Baden Powel, realmente, foi um parceiro incrível, mas devo admitir que eu tinha mesmo era uma "quedinha" pelo Toquinho. Sempre achei que ele era "um pão", daí... o olhar preciso pro talento musicial ficava meio comprometido rs
É-GU-A! "um pão" é ótimo!
Rsss
Não é Barreto? Também achei, rsrsrs
Ô, gente, "sou de 1932", como diria minha querida Silvia Sales hehehe. Certa vez falei pra minha irmã (há alguns anos): "olha! que jóia!". Ele vai de pronto: "Jóia? Tu estás muito out". Coisas da vida...
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