Em março de 2006, fizemos uma viagem ao Chile. Entre os maiores
acasos da minha de vida de viajante, chegamos a Santiago no dia da posse
de Michelle Bachelet. Foi umas das mais emocionantes festas cívicas que
asssiti. Afinal, a posse de Bachelet foi um marco: era a primeira
mulher presidente do Chile, ex-exilada, filha de um militar assassinado
pelo regime de Pinochet, e ainda, a primeira presidente de esquerda,
desde o fim da mais sanguinária ditadura das Américas. Foram dois dias
de celebração, ali, no mítico palácio de La Moneda, onde Salvador
Allende se matou em meio ao bombardeio das tropas golpistas em setembro
de 1973. Assistimos o discurso da nova presidente e um mega-show com
artistas de toda a América Latina (pelo Brasil, Gilberto Gil, ainda
ministro, cantou Soy Loco por ti, América).
Mas, passados
alguns dias, tentei percorrer lugares marcantes da minha paixão pelo
Chile. Um deles era a calle Carmen n° 340. Esse endereço abrigou La peña de los Parra, no começo dos anos 60, e foi onde nasceu o movimento chamado La Nueva Canción, tendo
como figura da proa Violeta Parra (1917-1967), compositora, cantora,
pesquisadora, artista plástica, ceramista. Pois, o casarão ainda estava
lá, com a indicação de ser a residência e consultório de um médico.
Nenhuma referência à peña.
Um dia depois, fomos procurar a
Fundación Violeta Parra, num prédio municipal. Depois de perguntar a
várias pessoas, que nada sabiam, chegamos a um funcionário que pôde nos
informar: todo o acervo da fundação estava sob cuidados do Centro
Cultural Palacio de La Moneda. "Eles devem fazer uma grande exposição
sobre Violeta Parra, ano que vem, pelos 40 anos de morte da artista".
Mas
esses dois contra-tempos não foram o que mais me frustou na minha
tentativa de fazer um percurso artistico-sentimental por Santiago. O
pior foi entrar numa loja de CDs e perguntar por discos de Violeta. A
vendedora, de uns 30 e poucos anos, nos olhou e disse: "De quién?
Violeta Parra? No conozco." Saí, com um nó na garganta e disse à minha
mulher: Madame Bachelet tem ainda muita coisa para resolver, e uma delas
é evitar que enterrem Violeta!!!
Bem, soube depois que, em 2007, o La Moneda fez mesmo a grande exposição sobre a artista. E agora, para minha
alegria, chegou às telas da Europa Violeta se fue a los cielos, o novo filme de Andrés Wood (que fez o
excelente Machuca, em 2004). O filme conta a história da mãe de todas
as canções de protesto. E como diz um dos cartazes, muito antes de Bob
Dylan e Joan Baez, Violeta foi a voz dos oprimidos.
Violeta se fue a los cielos,
ganhou o prêmio do juri do Sundance Festival deste ano. É uma livre
adaptação da biografia de Violeta escrita pelo filho dela, Angél Parra. A crítica daqui se derrete para a atuação de Francisca Gavilán que é o rosto e a voz da cantora chilena.
Espero ver em breve e poder desfrutar do céu de Violeta.
Um comentário:
Que bela lembrança Edvan; também sou fã desta cidadã. Que pena não teres encontrado nada em Santiago. Vi o anúncio sobre o filme e, se puder, vou assistir.
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