sábado, 10 de novembro de 2012

No céu de Violeta

Em março de 2006, fizemos uma viagem ao Chile. Entre os maiores acasos da minha de vida de viajante, chegamos a Santiago no dia da posse de Michelle Bachelet. Foi umas das mais emocionantes  festas cívicas que asssiti. Afinal, a posse de Bachelet foi um marco: era a primeira mulher presidente do Chile, ex-exilada, filha de um militar assassinado pelo regime de Pinochet, e ainda, a primeira presidente de esquerda, desde o fim da mais sanguinária  ditadura das Américas. Foram dois dias de celebração, ali, no mítico palácio de La Moneda, onde Salvador Allende se matou em meio ao bombardeio das tropas golpistas em setembro de 1973. Assistimos o discurso da nova presidente e  um mega-show com artistas de toda a América Latina (pelo Brasil,  Gilberto Gil, ainda ministro, cantou Soy Loco por ti, América).
Mas, passados alguns dias, tentei percorrer lugares marcantes da minha paixão pelo Chile. Um deles era a calle Carmen n° 340. Esse endereço abrigou La peña de los Parra,  no começo dos anos 60, e foi onde nasceu o movimento chamado La Nueva Canción,  tendo como figura da proa  Violeta Parra (1917-1967), compositora, cantora, pesquisadora, artista plástica, ceramista. Pois, o casarão ainda estava lá, com a indicação de ser a residência e consultório de um médico. Nenhuma referência à peña.
Um dia depois, fomos procurar a Fundación Violeta Parra, num prédio municipal. Depois de perguntar a várias pessoas, que nada sabiam,  chegamos a um funcionário que pôde nos informar: todo o acervo da fundação estava sob cuidados do Centro Cultural Palacio de La Moneda. "Eles devem fazer uma grande exposição sobre Violeta Parra, ano que vem, pelos 40 anos de morte da artista".
Mas esses dois contra-tempos não foram o que mais me frustou na minha tentativa de fazer um percurso artistico-sentimental por Santiago. O pior foi entrar numa loja de CDs e perguntar por discos de Violeta. A vendedora, de uns 30 e poucos anos, nos olhou e disse: "De quién? Violeta Parra? No conozco." Saí, com um nó na garganta e disse à minha mulher: Madame Bachelet tem ainda muita coisa para resolver, e uma delas é evitar que enterrem Violeta!!!
Bem, soube depois que, em 2007, o La Moneda fez mesmo a grande exposição sobre a artista. E agora, para minha alegria, chegou às telas da Europa Violeta se fue a los cielos, o novo filme de Andrés Wood (que fez o excelente Machuca, em 2004). O filme conta a história da mãe de todas as canções de protesto. E como diz um dos cartazes, muito antes de Bob Dylan e Joan Baez, Violeta foi a voz dos oprimidos.
Violeta se fue a los cielos, ganhou o prêmio do juri do Sundance Festival deste ano. É uma livre adaptação da biografia de Violeta escrita pelo filho dela,  Angél Parra. A crítica daqui se derrete para a atuação de Francisca Gavilán que é o rosto e a voz da cantora chilena.
Espero ver em breve e poder desfrutar do céu de Violeta.

Um comentário:

Marise Rocha Morbach disse...

Que bela lembrança Edvan; também sou fã desta cidadã. Que pena não teres encontrado nada em Santiago. Vi o anúncio sobre o filme e, se puder, vou assistir.