terça-feira, 12 de março de 2013

O Mapinguari e a Criptozoologia: o que é isso mesmo, hein?



A criptozoologia é o ramo da Biologia que investiga seres de existência incerta – literalmente: estudo dos animais ocultos. A julgar pela reação do ornitólogo David Oren, que co­nheceu em suas próprias pesquisas o desdém que a criptozoologia desperta nos cientistas, esta nova ciência, que recentemente (2012) lançou Journal of Cryptozoology, está fadada aos descrédito. Oren nasceu nos Estados Unidos, mudou-se para o Brasil em 1977 e trabalhou mais de 25 anos como pesquisador do Museu Emílio Goeldi, aqui em Belém. Em 1996, tornou-se brasileiro - costuma dizer que é papa-chibé. É desde 2009 coorde­nador de ecossistemas e biodiversidade do Ministerio da Ciência.
Oren tem uma hipótese para explicar um dos mais emblemáticos personagens do folclore amazônico: o mapinguari, descrito em muitos relatos como uma criatura gigante e malcheirosa de pela­gem avermelhada, que solta urros pavoro­sos e pode passar de 2 metros de altura.
Numa viagem ao Acre nos anos 90, Oren conheceu um bomem que disse ter visto uma fêmea do Mapinguari com fi­lhotes e descreveu como eram as fezes do do animal, qual era a sua comida predileta e outros detalhes de sua biologia. “Eu estava diante de uma pessoa que claramente não estava mentindo”, disse o pesquisador num português sem sotaque. “A luz acendeu: o que esse homem estava descrevendo só podia ser uma preguiça gigante.”
Oren se referia a um grupo de mamíferos que povoou o continente Americano há cerca de 10 mil anos. Ao contrário das preguiças atuais, que vivem em árvores, eram animais terrestres, alguns maiores até que os ele­fantes de hoje. Se uma espécie desse grupo tivesse sobrevivido até nossos dias, raciocinou, poderia explicar as aparições do Mapinguari.
O pesquisador conseguiu da Fundação O Boticario um valor que ele calcula ser o equivalente a 15 mil reais em di­nheiro de hoje para organizar viagens de campo em busca de vestígios do animal. Fez cerca de dez expedições por vários estados, investigando as pistas dos relatos que ouviu. Encontrou sete caçadores que diziam ter matado um mapinguari e compilou mais de oitenta relatos de en­contros com o animal. Coletou amostras de pelo, mais tarde atribuídas a cotias e tamanduás, e de fezes, que provavelmen­te eram de anta. Certa vez ouviu, mas não gravou, um grito assustador que po­dia ser de um mapinguari. 0 que Oren trouxe de mais convincente é uma pega­da "absolutamente consistente" com a pata traseira de uma preguiça-gigante. A hipótese e a busca foram relatadas em dois artigos publicados em 1993 e 2001.
Oren disse que foi ridicularizado par mais de um colega por sua hipótese, mas não teve sua reputação comprometida. Admitiu que seu estudo "nao deixa de ser criptozoologia, no sentido em que tratou de urn animal nao formalmente revelado ao mundo". Mas se mostrou reticente quanto à ideia de publicar no Journal of Cryptozoology. "Tem um monte de doido nessa área", disse ele. "Você não imagina os e-mails que recebo."

Fonte: Bernardo Esteves. Ciência dos seres imaginários. Uma iniciativa britânica quer transformar a criptozoologia em coisa séria. Revista Piauí 78, março de 2013. 

6 comentários:

Scylla Lage Neto disse...

Super-legal, Roger!

Geraldo Roger Normando Jr disse...

Também gostei muito. No passado, nem tão remoto, escrevi uma pequena fábula sobre o Mapinguari. Não sei se lembram, mas era a relação de descrédito que ele tinha com o seu ecosistema e com o próprio homem. Só não tentei publicar no Journal of Cryptozoology. Vai que o Oren pensa que sou maluco; até pensei em mandar um emeio para ele, mas...

Scylla Lage Neto disse...

Rss.
Eu mandaria, Roger.
Reconsidere e pode até vir a se surpreender com a resposta dele.

Geraldo Roger Normando Jr disse...

Posso ser laureado,não? Vai que os suecos acreditem, hein!

Geraldo Roger Normando Jr disse...

Oxalá Spielberg não abicore por essas bandas. Aí eu fico bem na fita, ou melhor, todos os direito são reservados ao Flanar.

Scylla Lage Neto disse...

Eu topo!!!
Rss.