Segismundo vivia aprisionado. Filho do rei polonês Basílio, dado à astrologia, desde a infância foi desterrado e preso em uma torre, por causa de um vaticínio
que seu pai recebeu.
Tal como no mito da caverna, Segismundo só sabia da vida
aquilo que aprendeu pelas grades da prisão, pelas sombras nas paredes e pela
única pessoa com quem tinha contato – Clotaldo, seu guardião.
Descoberto por uma estrangeira que chegou ao reino foragida,
Segismundo é posto em liberdade. No entanto, a previsão de Basílio se confirma
e logo no primeiro dia fora da prisão o príncipe revela-se um tirano e mata,
sem que nem porquê, um serviçal com quem se desentendera.
Decidido a prendê-lo novamente – a próxima vítima seria ele
próprio – o rei, para não ser alvo da ira do filho, decide dar-lhe uma poção. Assim,
ele dormiria e ao acordar estaria de novo na torre, sua velha cela, sem saber
se aquilo que vivera fora da prisão tinha sido sonho ou não.
Novamente na cadeia, ao despertar da vida fora da torre – ou adormecer
novamente para a vida na cela – Segismundo declama um solilóquio. A vida seria
sonho?
Sonha o rei que é rei, e vive
com este engano mandando,
dispondo e governando;
e este aplauso, que recebe
emprestado, no vento escreve,
e em cinzas converte-lhe
a morte, desdita forte!
Que há quem tenta reinar,
vendo que há de despertar
no sonho da morte?
Sonha o rico em sua riqueza,
que mais cuidados lhe oferecem;
sonha o pobre que padece
sua miséria e sua pobreza;
sonha o que a medrar começa,
sonha o que afana e pretende,
sonha o que agrava e ofende,
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
embora nenhum o entenda.
Eu sonho que estou aqui
destas prisões carregado,
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção,
e o maior bem é pequeno:
que toda a vida é sonho,
e os sonhos, sonhos são.
com este engano mandando,
dispondo e governando;
e este aplauso, que recebe
emprestado, no vento escreve,
e em cinzas converte-lhe
a morte, desdita forte!
Que há quem tenta reinar,
vendo que há de despertar
no sonho da morte?
Sonha o rico em sua riqueza,
que mais cuidados lhe oferecem;
sonha o pobre que padece
sua miséria e sua pobreza;
sonha o que a medrar começa,
sonha o que afana e pretende,
sonha o que agrava e ofende,
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
embora nenhum o entenda.
Eu sonho que estou aqui
destas prisões carregado,
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção,
e o maior bem é pequeno:
que toda a vida é sonho,
e os sonhos, sonhos são.
(A Vida é Sonho – Calderón de la Barca)
2 comentários:
caro amigo, eu diria e digo sempre que a vida é uma mera ilusão... Ainda bem que confio em Deus e Jesus Cristo, senão o meu colóquio seria bem mais acentuado!
Alan, essa é a discussão: o que é verdade (ou qual é a Verdade) na vida?
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