Daqui de onde vejo, gostaria de comentar duas iniciativas que têm a Copa do Mundo de 2014 na mira e com portes e alcances diferentes. Uma é a da rede TeleSur, a outra da revista Hecho em Bs.As.
A rede pública de televisão venezuelana fez um pacote para cobertura do empreendimento Fifa no Brasil e colocou juntos duas feras: o tarimbadíssimo jornalista e narrador esportivo Victor Hugo e ninguém mais ninguém menos que o quase mitológico Don Diego Maradona. Os dois vão capitanear informações sobre a Copa e já lançaram sua conta no tuiter: @De_Zurda. Bem, oficialmente, não encontrei a explicação para a escolha deste nome para o perfil, mas talvez não esteja longe do significado mesmo da palavra “zurda”, que quer dizer “esquerda”; neste caso, faria uma alusão à habilidade do craque argentino com a canhota, ou ainda aos seus posicionamentos explícitos a uma visão de mundo mais à esquerda e frontalmente crítica ao neoliberalismo. Apesar disso, a proposta até agora não se mostrou lá muito questionadora. Vai no ritmo da oportunidade de acompanhar a agenda futebolística. Com vocês: “a dupla perfeita para o Mundial do Brasil”. Adianto que sou fã dos três: de Victor Hugo, de Maradona e de TeleSur.
Mas entram em campo também as mídias alternativas. E são elas que trazem à tona as manifestações políticas e partidárias em ebulição em paragens canarinhas. Aqui em Buenos Aires, salta aos olhos a quantidade de publicações vendidas nas ruas a preços módicos ou nem tanto. E tem pra todo gosto. A que me chegou às mãos e que estava sendo vendida em um trem da grande Buenos Aires é resultado de um projeto de apoio a desempregados. Não exatamente resultado, mas inclui em seu processo de produção uma etapa de comprometimento social; no caso, a distribuição, que é feita por quem estava desempregado e foi capacitado para esta tarefa. O fato é que Hecho em Bs.As traz, na sua edição 166 de maio, um informe sobre o mundial. Matéria bem escrita e apurada junto a fontes precisas, diretamente ligadas às disputas não-futebolísticas, como Associação Nacional de Movimentos Sociais, União de Movimentos por Habitação, Observatório de Favelas, Justiça Global, deputado Chico Alencar (Psol), Ibase, Datafolha, entre outras. Autor da matéria, Manuel Cullen entrevistou ainda pessoas que não estão diretamente ligadas às entidades, como moradores de áreas impactadas pelos despejos no Rio de Janeiro, por exemplo. Há ainda espaço dedicado à questão indígena e não tem perdão: expõe as feridas abertas no Brasil.
No intuito de responder à pergunta que muitos brasileiros se fazem – Copa Pra Quem? – a matéria é encerrada com pequenos lances sobre o Marco Civil da Internet. Ainda que festejada pelas bandas de cá também, a recente regulamentação é sugerida na matéria como uma forma de manobra governamental. Chega a propor que o novo slogan para o mundial seja “Proteste da sua casa, não nas ruas” e que os vizinhos estão dispostos a enfrentar uma partida mais importante que as de futebol: Brasil com o próprio Brasil.
De quién sos hincha?
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