Artigo originalmente publicado no jornal "Diário do Pará" de 7 de setembro de 2014
Quem caminhava pelos largos corredores
do vistoso HANGAR CENTRO DE CONVENÇÕES E FEIRAS DA AMAZÔNIA,durante o XVII
Congresso Médico Amazônico (CMA, 14 a 17 de agosto), deparou-se com alguns dos
mais célebres cirurgiões torácicos do Brasil. Dentro do grandioso CMA ocorreu o
CONNECT BELÉM (Congresso Norte-Nordeste e Centro-Oeste de Cirurgia Torácica)
organizado arduamente por cirurgiões locais e contou com a presença de cerca de
50 especialistas brasileiros que perfilavam seus conhecimentos numa área da medicina
que a cada dia ganha mais apelo social e tecnológico. O portfólio do congresso foi a contemporaneidade do tratamento das doenças torácicas, incluindo enfisema, câncer,
transplante de pulmão e outros temas fulgurantes.
Nascida a fórceps– por necessidade de
tratar tuberculose -, a Cirurgia Torácica de hoje envereda por um caminho de
alta tecnologia e refinada técnica, com objetivo de diminuir a dor pós-operatória
e seus efeitos deletérios. Para este
fim, dois convidados internacionais enriqueceram o evento: Paula Ugalde (Canadá) e Diego
González Rivas (Espanha).
A clássica exposição de temas
atualizados ocorreu no centro de convenções, porém o teor mais ensandecido
estava nas operações ao vivo transmitida da sala de operações para um auditório
de 100 lugares, com intensa interatividade. Os pacientes foram selecionados por
nós dentro de rigor clínico. E tudo fluiu bem, apesar da complexidade dos
casos. Mais que isso, González Rivas (Universidade La Corunha, Espanha), cirurgião de
notável destreza, conseguiu realizar três operações sem utilizar entubação em dois casos. As operações foram comentadas por Rivas, em rede
social: Cirugia en directo single port en paciente sin intubar desde el
Hospital Porto Dias de Belém. Tengo
que felicitar al anestesista por el excelente manejo anestésico.
Rivas realizou procedimentos por
vídeo (conhecidos popularmente como cirurgia a laser)
por abertura única de 3cm, entre as costelas, por onde consegue passar todos os
instrumentos e manipular com toda segurança e habilidade as estruturas
pulmonares através de intrumental específico, câmera e monitor de vídeo em alta definição. Conhecida como Cirurgia Minimamente
Invasiva o resultado é agressão orgânica menor, desjejum precoce e sem necessidade
de UTI, além de pouca dor e alta hospitalar precoce. A bem comparar, o normal é
realizar o procedimento com duas ou três incisões a mais, entubar o paciente,
encaminhar ao CTI e alta somente após 72 horas. Quando não, por acesso amplo de cirurgia aberta (toracotomia), com agressão orgânica bem maior e dor lancinante.
O lampejo de Rivas, denominado de “acesso uniportal
sem entubar”(Single
port VATS surgery), presenciado por nós, é perfeitamente exequível,
desde que se tenha treinamento em minimamente invasiva. Ou seja, é um caminho mais apurado de realizar a mesma operação por vídeo.
Divulgar e ensinar o método in locu é objetivo de Rivas, que
costuma abandonar sua Galícia e sair mundo afora com esta missão ímpar e audaz. O
mundo já começa a reverenciar a idéia e aceitá-la como caminho novo nas
veredas do progresso. Ao conversar com Rivas e tentando entender seu olhar para este cenário, deixei no seu alforje de andarilho uma frase de Thiago de Mello, poeta amazônico, para que seja reverenciada como sinônimo do
que vimos em Belém, e mui bem representa esse trejeito simples de inovar: “Não, não tenho caminho novo, o que tenho de novo é o
jeito de caminhar".
Por conta de sua jovialidade –aniversariou
em Belém -, Rivas não para. Antes de pousar no solo paraense esteve na Colômbia,
e depois de Belém seguiu para Rio de Janeiro e São Paulo para operar outros
casos. Ainda este ano visita China, Canadá e Grã-Bretanha para difundir o novo.
Felizes fomos nós que tivemos a
oportunidade de aprender, em nossas aragens, com o próprio criador.Foi batismo
com a água benta da ciência.
Roger Normando
Prof. Cirurgia Torácica – UFPA e Presidente da Sociedade Norte-Nordeste e Centro-Oeste de Cirurgia Torácica
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