“Andei
por abrigos extensos.
Mas não
encontrei sombra senão nas palavras”
Mia
Couto, em: “A confissão da leoa”
Após ver o Momo passar,
tentando renascer das cinzas do último texto, e do estio das palavras que me
depletaram as circunvoluções cerebrais, encontrei em, “De mãos dadas com Sr. Parkinson”, uma enxurrada de
sentimentos de uma relação orgânica interligada pela veia-artéria umbilical,
que leva-e-trás a pureza do amor consanguíneo conjugado no verbo “to be” hamletiano,
do tempo imperativo.
Eis a questão!
É um resgate de
sentimento que se fingia de morto e andava espreitando minh’alma feito fantasma
atrás da cortina ou em porta de cemitério. Eis que de repente uma sístole
verborrágica inundou esse cérebro engelhado e jorrou para um plano cibernético cujo esguicho atingiu a velocidade dos mil terabytes por milissegundo. O jorro
ganhou o infinito sentimento das palavras e atingiu cada um que flutuva pelo
www.
Dá-lhe, coração!!!
Cada resposta uma
torrente de serotonina dentro de mim, seja nas redes sociais, telefonemas ou
num abraçaço, diria Caetanaço. Mas deixa que também senti um-muito em cada um,
em cada resposta sincopada de ternura. Pareceu-me algo vivo, como se todos fossem
meus irmãos de artérias e, de mãos dadas, estivessem lendo em sincronia, de
modo a formar uma corrente larga e sólida desprendida da vasta estrada do tempo.
Pareceu que todas aquelas mães e leitores estavam regidas pelo mesmo
parkinsonismo e todos os filhos sentissem o tiritar do Mal e das mãos. Foi um pulsar incomum
que calafetou as brechas deixadas pela distância, agora locupletadas por aquela
Macondo escondida na paisagem interiorana de cada um de nós, tal como um rio de
águas diáfanas, diria Gabo.
Alguns me disseram que
o texto os remetera à ternura de nossa infância que o tempo tratou de guardar
num baú esquecido lá no velho sótão daquela casa no interior do Acre. Ainda sob
a poeira do esquecimento, descemos todos os degraus da velha escada e sentimos
ranger a tampa do velho baú, ao abri-lo compassadamente. Ao fundo a felicidade de reencontrar
aquela velha fantasia de carnaval, feita à mão - quando ainda tesa -, que havia
desbotada no escurão da memória.
Zé disse que aquelas
palavras incisaram o peito, feito bisturi lâmina 11, deixando,
paradoxalmente, cada um sangrar para se ver mais vivo, exatamente por nos
sentirmos impotentes diante do caos de nossa relação com o tempo e a doença.
Depois virou jornal.
Foi Paulo (Bandeira) o culpado. Transformou tudo em amor umbilical na quintessência de seu
cotidiano de escritor às quintas que se achega às quintas de Antonio, Corisco. Arou e cortou, diria Sodré, o de Xapuri, onde
o Acre existe e carrega minhas águas diáfanas.
Eis o que tenho por
fazer diante dessa relação com todos vocês: rezar com palavras lavradas fora e
dentro da minha ciência preferida; também continuar recolhendo borboletas azuis
a cada novo ciclo, logo que botar o pé na rua ou no próximo tema. Depois desse novo ciclo:
prolongar-se em busca de novas asas e voar no laivo da palavra, que faz sombra
para esse filho perdido na imensidão desse sentimento. Por isso escrevinho
desse desajeitado jeito, que lembra um sonâmbulo.
Para agradecer sempre
me faltaram palavras... Para isso servem as flores.
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