Já sei, já sei. O Museu Paraense Emílio Goeldi tem um trabalho de extrema importância e já reconhecido no âmbito da pesquisa e extensão, inclusive internacionalmente. É louvável e desejo vida longa, com muito mais atenção do Estado a este gênero de trabalho. Mas, de fato, quando se fala em museu, fora de muros científicos e acadêmicos em geral, tratamos logo de imaginar a variedade da fauna e flora e qualidade da estrutura que oferece a sede da instituição em Belém, para passearmos, com turistas ou não.
Não sei como andam os investimentos em pesquisa, geralmente mais sacrificados na região Norte do país na ocasião da divisão do bolo financeiro. Mas o parque de visitações não me dá boa impressão. Há muito a reserva parece mofina. Certamente não deve ser por falta de comprometimento e dedicação dos gestores. Ainda assim, volto lá, vez ou outra.
Dia desses em que retornei ao parque foi para visitar as exposições na Rocinha. Um encanto. Cada pedacinho de informação esconde um volume muito maior do que se pode sorver ali naquele espaço. Sobre “A festa do Cauim”, do povo Ka´apor, de pronto lembrei do cajuaçu – pra quem não conhece, é uma cachaça feita de um tipo caju, muito comum na cidade de Bragança durante o inverno amazônico. E minha imaginação foi bater lá na zona do salgado porque os índios também fermentam um suco de caju para a festa.
A festa reúne uma série de rituais importantes para a vida comunitária, desde a apresentação das novas meninas que viraram moças até o que seria para os católicos o batizado das crianças, quando se dá o nome às crias.
Vi tantas semelhanças, ainda que diante de tantas diferenças culturais, que quase paralisei, perguntando a mim mesma que diabos fazemos com gente como a gente. A hidrelétrica de Belo Monte é apenas uma das atrocidades, e das grandes, contra os povos indígenas. Imaginei como reagiríamos em Belém se um projeto desses fosse ser implantado dentro da cidade, com todos os danos previstos e com as condicionantes não cumpridas e as leis, como a de consulta prévia, desobedecidas...
O mais incrível foi ver, ainda na Rocinha, que assim como há uma cultura fincada na floresta, há outra metida numa geografia árida. “Visões. Arte rupestre em Monte Alegre” é de saculejar os miolos. O Pará tem um terço dos cerca de 300 sítios arqueológicos já identificados no Brasil. Ainda que cheio de mistérios para a Arqueologia e outros saberes, chegou-se à informação de que a gruta do Pilão ou da Pedra Pintada está marcada há mais de 11 mil anos.
Só posso desejar vida longa a trabalhos como esses. E que mais gente possa beber dessa água, enquanto ela ainda não está em falta.
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