Lúcio Flávio Pinto, na
abertura de sua agenda amazônica, assim define Belém (e por quê não o Brasil?), frente a onda de violência que acarpeta de sangue a cidade: “Já não se sabe com exatidão quem está
matando e quem está morrendo nesses homicídios por atacado. A confusão é
grande. Podem ser milícias ou o tráfico acertando contas [...]. Até investigar a sério ficou difícil, tão
numerosas são as ocorrências...”
Os textos do jornalista escapelam o couro cabeludo da grande mídia e
afronta os senhores do poder. Seus pensamentos críticos cortam mais que faca amolada em
esmeril. Quem lê suas dissecações textuais, vive com as idéias em constante fagulhamento.
Lembrei dele ao encontrar um adolescente, na BR, vendendo
o jornal de domingo, numa gaza que separa a “civilização” da periferia - onde se diz que a barbárie tem a chamejante cor vermelha. A manchete berrava:
“Belém do Pará, refém do crime”. Eu lia enquanto semáforo vermelho. Espirrei com um gosto de epistaxe. Não era alergia, mas elegia - esse poema policial enclausurado na
melancolia das manchetes nossas de todo dia.
Como todo retorno de BR, o semáforo demora. Baixei o vidro do carro e uma lufada de ar quente veio no meu rosto, até o jornaleiro se aproximar. Puxei assunto, para amenizar o sol do equador - queimando a moleira do garoto, protegida apenas por um boné.
- “Com essa minha alergia, quase espirro sangue
com a manchete de hoje”.
- “O governo não faz nada, chefia”, respondeu ele em tom de propaganda eleitoreira, e já me oferecendo o periódico, quiçá um voto.
- “A gente também não ajuda... Você, sim, está
ajudando”.
Ele soltou um “obrigado”, sem eu saber se foi pelo troco que deixei ou pelo elogio.
Fui. Ao chegar ao hospital
Metropolitano de Urgência e Emergência, onde se recebe as vítimas da violência urbana, quis saber o saldo do
sanguinário sábado, rutilante naquela manchete. Sobre o dito saldo, mais vale o
silêncio das calçadas lavadas após a passagem do rabecão.
Sigo na visita, cadenciada pelos residentes e estudantes. A convivência com eles me faz esquecer aquela estampa de jornal, aquele sol na moleira do menino, assim como a segunda-feira, vigiando o saldo de domingo. Tudo na vã esperança que a terça-feira seja véspera do amanhã e um elo do branco com o amarelo e outros azuis e verdes à sombra da esperança de outras cores.
Na volta pra casa, redescubro que a violência viola as cores da vida: do vermelho ao violeta; do branco ao preto - principalmente.
Sigo na visita, cadenciada pelos residentes e estudantes. A convivência com eles me faz esquecer aquela estampa de jornal, aquele sol na moleira do menino, assim como a segunda-feira, vigiando o saldo de domingo. Tudo na vã esperança que a terça-feira seja véspera do amanhã e um elo do branco com o amarelo e outros azuis e verdes à sombra da esperança de outras cores.
Na volta pra casa, redescubro que a violência viola as cores da vida: do vermelho ao violeta; do branco ao preto - principalmente.