Eu ainda nem tinha dez anos de idade quando, ainda no interior do Acre, havia sido sorteado para férias no Rio de Janeiro. Como meu pai tinha um amigo carioca que era sargento do Exército, ele se prontificou a catalisar essa felicidade. Viajei num Bufalo da FAB, sob a tutela do militar. O Sargento, por nome Renato, que também era vascaíno, proporcionou-me ir ao Maracanã para ver um novo ídolo do Vasco que acabara de chegar: Tostão, tricampeão mundial. São fios de lembranças, mas o Vasco ganhou, e quem fez o gol foi um garoto que estava surgindo: Roberto. Depois descemos até o bairro de Botafogo e fomos comemorar numa churrascaria chamada Pavão, que hoje não mais existe.
Numa outra arrumação, agora em São Januário, era fim de tarde no Rio, e eu havia levado meus dois filhos, ainda muito pequenos, para conhecer a colina e ver o treino da Cruz de Malta, antes da estreia no mundial de clubes de 2000. Foi quando Dinamite cruzou à minha frente no portão principal da entrada de São Januário. Roberto, então da diretoria do Vasco. Eu dirigi-lhe a frase: - Eis o motivo de eu ser vascaíno... Ele ouviu e, claro, voltou, após se distanciar cerca de um metro. Apertou minha mão e agradeceu as palavras. Sempre sorridente, aproveitei e pedi para que posássemos para foto. Abraçamo-nos de lado e, de frente para minha Pentax K1000, deu-se o clique. Minha esposa registrou aquele momento. No mesmo cortejo ele me perguntou o que significava Vascoalhada, grafado logo acima do escudo da camisa que eu usava. Disse-lhe que era um time de peladeiros em Belém, que prestava homenagem ao personagem Coalhada, do vascaíno Chico Anísio. Num tom de brincadeira, por conta do nome, disse que gostaria de jogar naquele time. Despedimo-nos. Ficou a lembrança.
Herdei esse carinho por Roberto e pelo Vasco por meio de meu Pai que, assim como eu, gostava muito de futebol. Certo dia perguntei a ele o porquê de ser vascaíno, já que não tivera nenhuma relação com a colônia portuguesa e nunca tinha ido ao à cidade Maravilhosa. Prontamente respondeu: por ser o primeiro time de futebol a receber negros em seu elenco. Se o não foi o primeiro, não há dúvida que adotou uma atitude que contribuiu decisivamente para a inclusão de atletas negros, mulatos e demais brasileiros que não pertenciam à elite. Naquela época, o racismo imperava no futebol brasileiro.
Foi nesse clima que Roberto, oriundo de Duque de Caxias, viveu sua
vida de paixão pelo Vasco da Gama e conquistou o coração de diversos
brasileiros. A sua forma de dar atenção aos seus fãs revela o berço humilde de
seu criadouro, que se estendeu à política e à presidência do clube.
Descanse em paz, Roberto.
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