sábado, 1 de abril de 2006

E os saudosistas param avião

Tem horas que a gente imagina que todos estão unidos contra a democracia. Um prato cheio para teorias conspiratórias. Mas interessante que o General que parou o avião na semana passada, é o mesmo que diz se orgulhar do Golpe de 64.
Para que você não veja seu avião ser parado manu militare, interessante ler a reportagem da folha de hoje, que reproduzo abaixo.

HERANÇA MILITAR

42 anos após tomar poder, Força afirma orgulhar-se do passado; quem assina nota é general que parou avião

Golpe alicerçou democracia, diz Exército

PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No aniversário de 42 anos do golpe militar de 1964, a ordem do dia do Exército, lida para cerca de 200 mil soldados em quartéis de todo o país ontem, exalta sua atuação ao dizer que "esse Exército orgulha-se do passado". Diz ainda que o golpe ajudou a "alicerçar, em cada brasileiro, a convicção perene de que preservar a democracia é dever nacional".
"O 31 de Março insere-se, pois, na História pátria e é sob o prisma dos valores imutáveis de nossa Força e da dinâmica conjuntural que o entendemos. É memória, dignificado à época pelo incontestável apoio popular, e une-se, vigorosamente, aos demais acontecimentos vividos, para alicerçar, em cada brasileiro, a convicção perene de que preservar a democracia é dever nacional", diz o final do texto, assinado pelo comandante do Exército, general Francisco Albuquerque.
Antes, em seis pontos começados sempre com "Esse Exército, o seu Exército", a nota destaca o que considera "valores" da Força. "Esse Exército, o seu Exército, orgulha-se do passado, porque nele os valores e postulados da instituição, que se confundem com os da própria nação brasileira, nasceram e se consolidaram", diz o primeiro dos pontos.
O novo ministro da Defesa, Waldir Pires, nomeado ontem para o cargo, disse respeitar a posição de cada um, ao comentar a ordem do dia do Exército. Pires foi um exilado político justamente pelo golpe militar de 1964
"Não tenho nada a contestar à posição de quem interprete dessa forma [a exaltação ao golpe militar]. Tenho que respeitar a posição de cada um", afirmou.
Segundo ele, "na história temos que consolidar a soberania popular, a idéia de liberdade e a garantia dos direitos dos cidadãos".
Em outro trecho, a nota de ontem diz que o Exército "considera que esse passado pertence à história e volta-se para o futuro, trabalhando pelo desenvolvimento nacional e empregando a mão amiga de sua gente toda vez que necessidades, urgências e emergências clamam por sua presença".
A nova manifestação do Exército ocorre num momento delicado, já que seu signatário, o comandante Albuquerque, foi alvo de críticas nas últimas semanas, depois de ter supostamente usado o cargo para conseguir embarcar em um avião lotado que já se preparava para decolar. Ele nega e diz que agiu como um cidadão.
Mas não é a primeira vez, já depois da redemocratização, que o Exército utiliza a ordem do dia para defender o golpe. Em 2000, a ordem do dia afirmava que o movimento militar de 64 foi um ato de "coragem moral" para "restaurar a democracia". Contra a "insensatez" e o "destempero", dizia a nota, os militares mantiveram-se "ao lado da razão".
No ano passado, porém, o Exército adotou, no ano passado, tom bem mais ameno sobre o golpe em sua ordem do dia de 31 de março. Uma nota de meses antes, de outubro de 2004, exaltava a atuação do Exército no golpe e tentava justificar a violência dos militares contra grupos que se opunham à ditadura. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva obrigou o general Albuquerque a se retratar, mas o militar ficou. Quem caiu foi o então ministro da Defesa, José Viegas.
Escaldado com a repercussão da nota de apenas seis meses antes, em 2005 o Exército disse apenas que, quando chamado a agir, "sempre o fez objetivando exclusivamente os mais elevados interesses nacionais".

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