segunda-feira, 3 de abril de 2006

Porta tumultuada

No RD de hoje, sobre a porta de entrada no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência.

Depois de sofrer um acidente que resultou em dois cortes profundos na perna, o marítimo Augustinho Bahia, morador da avenida Mário Covas, em Ananindeua, procurou atendimento no Hospital Metropolitano de Belém, ontem, por volta das 21h. O médico que estava de plantão se recusou a atendê-lo alegando que o osso não estava exposto e o encaminhou ao Pronto Socorro do Jaderlândia. O curioso é que, no mesmo momento, uma mulher conseguiu atendimento para o filho que estava com dor de cabeça. O médico sequer olhou o ferimento. Ao chegar no Jaderlândia, não pôde ser atendido e foi encaminhado para a Cremação. Revoltado e sangrando, às 23h ele decidiu procurar atendimento de urgência e emergência em um Hospital Particular.


É preciso realmente deixar mais claro à população sobre qual de fato é a clientela deste hospital. Ostentar o título de Hospital de 'Urgência e Emergência" e obrigar os médicos de porta de entrada a comunicar ao paciente dentro da ambulância, que ele não será atendido, é no mínimo uma solução tensa. Que ainda pode sujeitar os profissionais de primeiro atendimento a todo tipo de tensões, incluindo agressão física e as mais inesperadas violências, por parte dos pacientes e familares inconformados. Mesmo informando à população, ainda assim estas tensões continuariam. Esperar ocorrer a primeira agressão na porta de entrada do hospital para só então tomar providencias, é no mínimo uma impropriedade. Considerando-se a flagrante ineficiencia e falta de resolutividade das unidades básicas de saúde, pode-se até argumentar que todas as portas de entrada públicas estão sob tensão. O que é verdade. Mas não há motivos para acrescentar mais uma sem as devidas garantias de segurança à equipe de saúde, que deve estar protegida dos mais exaltados. É preciso também reforçar ao SAMU 192 sobre a clientela do hospital evitando-se que as ambulâncias cheguem até o hospital levando casos que sabem não ser daquela referência. Ou então que se rediscuta o papel do hospital no sistema de saúde. Mas o médico não poderá ser o "boi de piranha" mais uma vez desta velha história.

4 comentários:

Unknown disse...

Seu comentário inaugura uma discussão lúcida,Carlos.Pelo que entendi o metropolitano é um hospital de média e alta complexidade.Desse modo não é um pronto socorro.Ora, se fosse para ampliar o desastre seria construído mais um.
A intenção foi complementar serviços à estrutura já existente, o que me parece correto.
É preciso "dizer", inclusive ao Repórter Diário, que o Metropolitano não é um PS,não devendo atender,portanto, casos de PS.
Daí sua recopmendação para que o SAMU drene os casos compatíveis acada degrau na cadeia hierárquica dentre as casas de saúde da rede.
É isso, doutor?

Carlos Barretto  disse...

Mais ou menos, Juvêncio. Mas vejo o problema sob a ótica do usuário e do médico de porta. Perceba o nome atribuído ao hospital: Hospital Metropolitano de "Urgência e Emergência". O que quero dizer é que mais uma vez, monta-se um hospital, de portas semi-abertas (a exemplo do Hospital das Clínicas), achando que a população vai entender, em toda sua carência, que não deve procurá-lo para isso e somente para aquilo. Ora. O HPS Guamá começou assim também mas rapidamente viu-se invadido por enorme volume de atendimentos, que a rede básica de saúde, nunca resolve. Mais grave é montar mais um hospital semi-aberto, atribuir-lhe funções de Urgência e Emergência e conferir ao médico da porta de entrada o risco de negar alguns atendimentos (de gente das mais variadas procedências e atitudes) e à população o sapo para engolir. A meu ver, é preciso estruturar definitivamente as unidades básicas de saúde para que tenham o mínimo de efetividade e principalmente resolutividade. Com remédios e médicos faltando de forma intermitente nestas unidades, o que se vê é a enxurrada de casos simples aos grandes hospitais. Mas sem dúvida, o SAMU precisa ser mais regulado para que não seja um mero distribuidor de doentes. E o Metropolitano deve reforçar sua porta de entrada com mais médicos e seguranças para lidar com a demanda expontânea que sempre se vê nestes primeiros dias de funcionamento.
E o RD precisa ser realmente informado dos reais propósitos do HMUE.
Mas como dizem, "Vc tem agora um caminhão cheio de melancias. E as melancias só se acomodam quando o caminhão dá a partida". Prefiro observar mais o andamento do sistema antes de afirmar que a idéia de hospitais semi-abertos seja boa, com a rede básica do jeito que ainda está. E com os 2 únicos hospitais de UE abertos (HPSM 14 de Março e HPS Guamá) do jeito que estão.

Carlos Barretto  disse...

Sobre o caso específico do paciente recusado no HMUE, citado no RD, apurei que ele foi recusado impropriamente pela equipe de ortopedia do hospital, tendo inclusive a equipe sido advertida pelo Chefe da Emergência, Dr. José Miguel.
Parece tratar-se de um problema pontual. Contudo, tenho informações que muita gente ainda não está muito inteirada dos casos que devem ou não ser mantidos no hospital. E mesmo que saibam, entenda que é difícil para o médico, passar a vida correndo riscos deste gênero, trazendo desestímulo para uma área tão importante quanto a Urgência e Emergência. O que em curto prazo, pode significar a saída dos profissionais qualificados da área e a entrada daqueles que precisam do emprego, embora não tão bem qualificados. Melhor mesmo talvez seja porta aberta. E a meu ver, a rede básica enfrenta forte crise de credibilidade por parte da população que já nem perde seu tempo procurando-a. E se continuarmos mantendo a rede básica insípida, inodora e incolor, nem se construirmos hospitais abertos e semi-abertos, conseguiremos melhorar estas tensões. Este é o desafio atual da saúde em urgência e emergência. Resultado de anos de obras eleitoreiras, corrupção e mesmo de irresponsabilidade de nossas autoridades.

Anônimo disse...

Acho que o problema vai mais além de haver mais um Pronto Socorro. A questão é que a rede básica não funciona a contento, com resolutividade. Os postos de saúde não estão estruturados para os atendimentos mais simples; os profissionais mais facilmente "rebocam" o problema para outra porta, no caso os PS.
O mesmo acontece com os pacientes oriundos do interior, que só encontram atendimento, de imediato, ou pelo menos abrigo, nas unidades de urgencia e emergencia (leia-se Pronto Socorros.
Enquanto não houver uma política de saúde integrada, nos vários níveis, ficaremos fingindo que oferecemos assistencia à saúde dos cidadãos e estes continuarão achando que tem o melhor atendimento.