Entre os maiores problemas de saúde pública global está o insuficiente fomento à pesquisa de novos tratamentos para as chamadas doenças negligenciadas, que acometem a mais de cinco bilhões de pessoas no planeta.
A razão para esse insuficiente aporte de recursos em pesquisa e desenvolvimento de novas drogas, ou na melhoria da segurança e eficácia daquelas hoje disponíveis, decorre do interesse marginal ou nenhum interesse da grande indústria farmacêutica em investir num segmento com margem de lucro bem estreita.
São classificadas como doenças negligenciadas a Tuberculose, a Dengue, a Malária, a Hanseníase, a Doença do Sono, a Doença de Chagas e a Leishmaniose.
Como elementos para reflexão cito algumas informações:
Das 1.233 novas drogas desenvolvidas entre 1975 e 1997, apenas 1% eram destinadas ao tratamento das doenças neglicencidas, de maior prevalência nos países pobres.
90% dos recursos para investigações farmacológicas são destinados a pesquisas científicas sobre problemas que afetam apenas 10% da população mundial.
Até 2020 calcula-se que existirão quase 2 bilhões de infectados pelo bacilo da Tuberculose, dos quais 200 milhões adoecerão e 35 milhões morrerão. De acordo com a OMS, somente em 2000 foram quase 9 milhões de casos de tuberculose, dos quais 80% em 22 países pobres.
No Brasil, calcula-se que ocorra a perda de 16.500 anos de vida/ano por Malária, cálculo obtido a partir da notificação de 600 mil casos com perda de 10 dias de trabalho por ano.
Segundo a Organização dos Médicos Sem Fronteiras dos US$ 70 bilhões aplicados em pesquisas de medicamentos nos países industrializados, apenas 5% são destinados a pesquisas para o tratamento de doenças prevalentes nos países em desenvolvimento.
Trata-se, portanto, de uma brutal iniqüidade social que tem requerido atenção redobrada dos organismos multilaterais de desenvolvimento e de saúde pública, de ONGs como a dos Médicos sem Fronteiras e de governos nacionais. O Ministério da Saúde do Brasil, em 2006/07, estará aplicando aproximadamente U$ 10 milhões de dólares em pesquisa para o tratamento das doenças negligenciadas.
Contudo, cabe registrar, a chamada Big Pharma acusou recentemente atitude positiva para o assunto. O poderoso Laboratório SANOFI-AVENTIS iniciou em escala mundial o seu programa de acesso a medicamentos para doenças negligenciadas, produzidas ou a serem desenvolvidas pelo grupo, com o compromisso de fazê-lo a custo alinhado com o nível de renda dos países do Hemisfério Sul.
Se der certo essa iniciativa estaremos no limiar de um novo momento na história das relações entre Norte e Sul, entre países ricos e países pobres, entre indústria farmacêutica e mercado de saúde.
5 comentários:
Ótimo post.O "reino da Dinamarca" nas pesquisas médicas está em adiantado estado de putrefação.
asf@web
Desconheço qualquer negociação em torno de patentes sobre medicamentos para doenças negligenciadas, e, por conseqüência, de transferência tecnológica para países em desenvolvimento com capacidade inovadora.
Obrigado pela visita e comentário.
Juvêncio, compadre.
Por onde se olha o fosso entre países ricos e pobres é tão grande que a grande mídia não consegue ve-lo.
Quem sabe por isso nada publica, não é mesmo? É míope, a tadinha.
Abs.
Desde os tempos da faculdade eu ouvia falar da diferença entre as doenças dos ricos - muitas das quais ligadas ao consumo -, típicas do Hemisfério Norte (leia-se: América do Norte e Europa) e as doenças dos pobres, aquelas mesmas de sempre: diarréia, malária, cólera, etc., aqui muito acertadamente chamadas "doenças negligenciadas".
Compare quanto se investe na indústria cosmética, p. ex., e em tratamentos para essas doenças. Naturalmente, há um mercado inesgotável e crescente para produtos anti-envelhecimento, mas os pobres sul-americanos e africanos não têm dinheiro para comprar remédios. Então, quando a indústria se interessa, é porque pode fazer negociatas com governos corruptos de países miseráveis.
Vale a pena ver o filme "O jardineiro fiel", do nosso Fernando Meirelles, que trata do tema.
Bem lembrado O jardineiro fiel, um excelente filme que trata com seriedade a exploração da população africana por multinacionais farmaceuticas inescrupulosas.
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