quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Abril despedaçado

Gustav Jung elaborou a teoria do inconsciente coletivo em um livro chamado Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo (no Brasil, editado pela Vozes, de Petrópolis). Antes, já havia desenhado suas idéias na obra Psicologia do Inconsciente (também no catálogo da Vozes).

De acordo com Jung, a humanidade, para além do consciente e do inconsciente individuais cujos conceitos foram elaborados por Freud, teria uma faixa de idéias inconscientes manifestadas por símbolos universais – os arquétipos – que se expressariam, muitas vezes, em temas mitológicos.

Utilizando-se deste conceito, Walter Salles, cineasta brasileiro com importante carreira no exterior, dirigiu Abril Despedaçado, fundamentado em romance homônimo do escritor albanês Ismail Kadaré.

Na história de Kadaré, um jovem é instado a vingar o assassinato de seu irmão mais velho pelo pai, recorrendo este ao argumento de um velho costume da região: a morte do familiar deverá ser vingada antes que seque e desapareça o sangue da camisa do morto, estendida no varal da casa. O assassino é de família vizinha e a tradição é tratada, inclusive pelos parentes deste, com a sina da inevitabilidade. Algo que tem que ser feito.

Kadaré situa o romance nas montanhas de seu país natal. Salles transfere o cenário para o sertão nordestino. Sem se conhecer o livro, é impossível saber que a história original passa-se em lugar tão miserável quanto o sertão, mas com um oceano entre ambos. No nosso inconsciente coletivo, a história de sangue e vingança entre famílias no Sertão é velha: basta lembrar da famosa briga entre famílias rivais na paupérrima Exu, no interior de Pernambuco, uma das quais na origem do maravilhoso cantor, sanfoneiro e compositor Luiz Gonzaga.

4 comentários:

Yúdice Andrade disse...

Na opinião deste zé ninguém em matéria de cinema, um dos melhores filmes nacionais já feitos. Belo e emocionante, com Rodrigo Santoro mostrando que seus méritos como ator superam participações banais em novelas ou acidentes de percurso tipo entrar em função em Lost.
Agora falta ler o livro. Estas dicas culturais estão ótimas.

Francisco Rocha Junior disse...

Concordo contigo, Yúdice: um dos melhores - e mais emocionantes - filmes da chamada "retomada" do cinema nacional, no qual brilha Rodrigo Santoro, ao lado de um monstro chamado José Dumont (se ainda não assististe, não perde, com ele, "O Homem que Virou Suco").
Obrigado pela presença e incentivo constantes. Abraços.

Anônimo disse...

Concordo com o Yúdice, ótima dica, vou tentar assistir. Obrigada pela visita e pelos parabéns, mas o blog ainda tem que melhorar muuuito... srsrrss
Abs!
Lu.

Francisco Rocha Junior disse...

Luciane, volte sempre. Tente assistir sim, vale muito a pena.