Umberto Eco dispensa apresentações. O professor de semiótica da Universidade de Bolonha, a despeito de todas as previsões, tornou-se um best-seller quando o livro O Nome da Rosa (no Brasil, editado pela Nova Fronteira) ganhou as telas do cinema com Sir Sean Connery no papel de William de Baskerville, o padre-detetive, e Christian Slater como seu discípulo que cai em tentação.
Carlo Maria Martini é um Cardeal italiano, Arcepispo Emérito de Milão, e foi, na sucessão de João Paulo II, o concorrente mais forte de Joseph Ratzinger.
Umberto Eco se define como um agnóstico de formação fortemente influenciada pelo Catolicismo, e cujo rompimento com a Igreja se deu aos 22 anos, não sem um certo sofrimento. A par da auto-definição religiosa, Eco é um humanista, cujas preocupações ético-filosóficas têm muitos pontos de encontro com a doutrina cristã.
Martini é jesuíta, alinhado a pensamentos mais liberais que os da ala conservadora de Bento XVI.
Entre 1995 e 1996, Eco e Martini trocaram cartas públicas através de uma revista italiana chamada Liberal (nada a ver, obviamente, com O Liberal que conhecemos), questionando-se mutuamente sobre assuntos de interesse comum e confrontando opiniões do pensador laico e de um eminente membro da Igreja.
As oito cartas trocadas foram reunidas na obra O que crêem os que não crêem (Ed. Record, 2004, 8ª ed.). O livro possui três capítulos: o primeiro reúne as correspondências – na verdade, artigos que tratam sobre milenarismo, misticismo e fim dos tempos, bioética, sacerdócio feminino e restrições eclesiais, pontos comuns para a formação de um código ético universal, dentre outros assuntos correlatos; no segundo, pensadores italianos debatem os temas objeto dos diálogos entre os autores; o terceiro, finalmente, apresenta uma conclusão de Carlo Maria Martini, tratando de ética e direito à verdade.
Além dos temas, o livro prima pela elegância da linguagem que cada missivista impõe a seus escritos. Eco e Martini, em temas espinhosos, esgrimam argumentos com lógica, argúcia e convicção, em textos muitas vezes belíssimos. Vale a pena ler.
4 comentários:
Li este livro por volta do ano de 2002. E posso te afirmar que foi a mais profunda definição de ética que pude acessar. Principalmente aquela derivada de Eco, agnóstico que nem eu.
O livro é sensacional!
Boa sugestão.
Francisco, o Barretto me indicou esse livro nos primeiros tempos do meu blog e, desde então, li alguma coisa sobre a obra - menos a obra, porque nunca a encontrei. Graças à internet, porém, hoje em dia não é difícil comprar essas preciosidades.
Já que o Flanar insiste, vou ver se hoje mesmo boto o livro no carrinho virtual. Abraços aos dois.
Barretto, gosto muito do pensamento de Martini também, apesar de ser um católico somente de formação. Poucos religiosos do alto clero têm um pensamento tão humanista e tolerante, na medida dos ensinamento do Cristo.
Yúdice, recomendo e muito o livro. Comprei o meu pela Saraiva virtual (www.livrariasaraiva.com.br). Depois de adquiri-lo, encontrei-o também na Ponto e Vírgula da Conselheiro, quase esquina com a Dr. Moraes.
Postar um comentário