quinta-feira, 27 de março de 2008

Epidemaia*

Nos últimos dias, 54 pessoas morreram em decorrência da dengue no Rio de Janeiro. O prefeito da cidade, César Maia (DEM) nega os índices, embora o desmintam as estatísticas de atendimento dos serviços hospitalares de urgência e, infelizmente, a dos morgues. Nesse sentido, a Folha de São Paulo (Cotidiano, C1, 26/03/2008) traz uma informação gravíssima, que denuncia a subestimação dos executivos fluminense e carioca no tratamento de uma doença grave, capaz de afetar seriamente o bem-estar e a economia da sociedade: o governo Sérgio Cabral reduziu em 48,6% (R$19 milhões) a previsão de gastos com a prevenção e o combate à dengue para o ano de 2008, enquanto o Prefeito César Maia, no mesmo período, não planejou nenhuma ação direta ou programa de trabalho específico contra a dengue.
Por sua vez, o legislativo carioca compareceu com moral elevada. O vereador Carlos Eduardo (PSB) entrou com representação no Ministério Público contra a Prefeitura do Rio de Janeiro. Alega o vereador que César Maia aplicou verba do programa de combate à dengue, transferida fundo a fundo pelo Ministério da Saúde, em outras rubricas programáticas; isto é, dos 12 milhões de reais recebidos, 50% dos recursos ele destinou a contratos de aluguel de ambulâncias e prestação de serviços de limpeza hospitalar.
Apesar da gravidade da situação (422 casos/100 mil/cidade Rio ou 24.000 casos), o prefeito dedica-se a atacar o Ministro da Saúde, que reputa como preguiçoso e incompetente. Mas, antes de cometer seu besteirol habitual, César Maia deveria inspirar-se em Robert de Niro, intérprete de um fictício prefeito de Nova Iorque em City Hall (Conspiração no Alto Escalão, 1999). Nesse filme, o personagem, nada politicamente correto, ensina ao assessor que, independente de qualquer justificativa a ser pensada sobre um problema público, um prefeito é responsável por tudo que acontece numa cidade, até mesmo por um pardal que caísse morto no Central Park.

* o título do post remete a chiste do cronista Zé Simão, que publica na Folha de São Paulo e em outros jornais brasileiros.

3 comentários:

Yúdice Andrade disse...

Mas esse espírito público que mencionas não existe nos políticos brasileiros. Ou existe em algum tão obscuro que não tomamos conhecimento de sua existência.
No mais, Maia dispensa apresentações. Não pode queixar-se de ser chamado de doido.
Ótima postagem.

Francisco Rocha Junior disse...

Uma pequena correção, Oliver: no filme, quem vive o prefeito de NY é Al Pacino, e não Robert De Niro.

Itajaí disse...

Exato, Francisco. Obrigado pela correção.