vê o outro lado, é solene
sondando o indefinível.
Dramática a paciência
do olho através da lente,
buscando o mundo da lâmina.
A tosse espera a sentença,
o leito aguarda a resposta.
O tísico pensa na morte.
O silêncio é puro e o frio
envolve o laboratório.
Os frascos tremem de susto.
O infinito dos germes
reflete o olho imenso
que pousa na objetiva.
O avental se levanta.
Os dedos inconscientes
escrevem a palavra rápida.
O resultado terrível
entra nos óculos do médico
e ele diz: positivo.
O doente tira o lenço.
Aperta a mulher e o filho,
chora no ombro da esposa.
Imagina a reclusão
no sanatório, a saudade
e o vento no quarto branco.
Olha o papel: positivo.
Cresce a palavra com a tosse.
A febre queima a esperança.
O microscopista, no entanto,
conta anedotas no bar.
Está alheio e feliz.
Não sabe que o olho esquerdo
ditou a sentença e a morte.
Paga o café e caminha.
*Bueno de Rivera - Mundo Submerso (1944).
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