quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Dantas, o onipresente

Daniel Dantas continua fazendo das suas. Saiu do foco das investigações da operação Satiagraha, onde os investigadores viraram investigados, e começou a derrubar, por intermédio de outros personagens, um a um dos que conseguiram colocá-lo em prisão.

Primeiro, como todos sabem, foi o delegado da PF, Protógenes Queiroz. A seguir, caiu a cúpula da Agência Brasileiro de Inteligência (ABIN), na pessoa do diretor-geral Paulo Lacerda e seu vice, Milton Campana. O general Jorge Félix, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, está sob a mira dos amigos do banqueiro.

Por fim, o juiz Fausto de Sanctis, que mandou prender Dantas, deverá ser o próximo alvo da ira do Zeus brasileiro. Na última edição da revista Veja, cada vez mais porta-voz dos interesses do baiano, a reportagem assinada por Otávio Cabral manda um recado direto ao magistrado:

Há um testemunho muito interessante que pode ajudar a esclarecer a existência de grampos de conversas do ministro Gilmar Mendes. Na última quarta-feira, durante a solenidade de posse do novo presidente do Superior Tribunal de Justiça, o ministro encontrou-se com a desembargadora Suzana Camargo, do Tribunal Regional Federal de São Paulo. Ela voltou a dizer ao ministro ter ouvido do juiz Fausto de Sanctis, o magistrado responsável pela Satiagraha, que o STF "era uma sujeirada só".

De Sanctis afirmou à desembargadora ter recebido "informes" segundo os quais advogados de Dantas haviam participado de um jantar com assessores do ministro em Brasília, numa insinuação de que algum acerto entre eles tinha sido feito. "O ministro ainda me criticou, disse que eu era incompetente", reclamou o juiz, de acordo com o relato da desembargadora. Exatamente nesse dia, 10 de julho, a segurança do STF detectou indícios de grampo dentro do gabinete do ministro Gilmar Mendes. Também nesse dia os telefones do ministro já estavam grampeados. A Operação Satiagraha contou com a participação clandestina de agentes da Abin. "Disse à desembargadora que ela precisava contar isso à polícia", afirma Gilmar Mendes. O que se conversava no interior do gabinete do ministro Gilmar Mendes chegava a São Paulo, pelo que se depreende, como "informes" – jargão que os espiões usam para identificar uma informação extra-oficial.

O ministro Gilmar Mendes, nesta semana, peitou o presidente da República, chamando-o às falas, na grosseira expressão que ele próprio cunhou. Lula baixou-lhe a cabeça, sob a desdita fiscalização de seu próprio ministro da Defesa, o marechal Nelson Jobim. Agora, Gilmar amplia sua ira, e certamente em breve cobrará explicações do juiz de Sanctis. Enquanto isto, Dantas retoma sua rotina de trabalho, atrapalhada por uma operaçãozinha que ousou interromper seu sono, às 6 da manhã.

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