Conheço a "Hora da Estrela" de Clarice. Um livro dificílimo de ir até o fim. Mas com alguma concentração e parando para refletir, às vezes a cada parágrafo, e relendo alguns trechos, é possível alcançar a dimensão da figura humana de Clarice. Mas na entrevista, é patente seu perfil depressivo. Quase diagnóstico. Que não consigo evitar a tentação de citar. Uma mania de médico, admito. Mas também característico das pessoas que adentram na profundidade das reflexões da vida e seu cotidiano "n"dimensional. Clarice é um mistério para mim. Ainda hoje, mantenho uma relação de amor e ódio com seus escritos, que inclusive foi pauta de discussões com minha psicanalista há alguns anos. Acabou por ser surpreendentemente um fio condutor de muitas descobertas pessoais. Uma mágica.
Inexistem informações biográficas de Clarice Lispector ser depressiva. Ao contrário, tinha uma vida intensa de mãe, escritora e jornalista, como bem demonstra a obra que deixou. Os depoimentos dos amigos e familiares são unânimes sobre ela ignorar a doença e a condição de inoperabilidade, mas eu duvido que assim fosse, tão sem pistas para uma mulher habituada a ver onde não se quer enxergar. Esse é um momento muito delicado para ser resumido em certezas. E isto nos demonstra Clarice nessa entrevista: as certezas são ilusões de ótica ou de rótulos, como bem demonstrou. Embora resumisse que a vida para ela estava no ato de criar, sua afirmação referenciada de que falava naquele momento do próprio túmulo é inquietante, porque primeiro ilumina a dimensão de existirem mortes temporárias do psíquico em um corpo que se movimenta como invólucro de dores. Se, por outro lado, assumimos que a escritora sabia de sua condição de saúde, a entrevista adquire uma dimensão ainda mais profunda de significados, por que se articula com a inquietude e a voz do morrer, essa dimensão que nós, médicos, pouquíssimo compreendemos
Oi Oliver,concordo com a sua forma de conceber a entrevista da escritora Clarice. Ontem, quando li o seu texto e a sua indicação da entrevista, fiquei pensando, e retornei ao passado,quando ainda era bem jovem.Naquela época li alguns poemas da autora que demonstravam que a vida é feita de incertezas, e muitas vezes ficamos sem respostas. Esses momentos reflexivos contribuiram com a forma que passei a enxegar o mundo. Considero que você está de parabéns pelo seu comentário no qual transparece que é sensível.Estou sua fã no blog. Abraços, Consuelo.
Parabéns! Linda postagem. Admiro Clarice, seu mistério e mundo. Seus escritos se fazem presente em meu blog, sempre, inclusive foi uma de minhas últimas postagens.
6 comentários:
Conheço a "Hora da Estrela" de Clarice. Um livro dificílimo de ir até o fim. Mas com alguma concentração e parando para refletir, às vezes a cada parágrafo, e relendo alguns trechos, é possível alcançar a dimensão da figura humana de Clarice.
Mas na entrevista, é patente seu perfil depressivo. Quase diagnóstico. Que não consigo evitar a tentação de citar. Uma mania de médico, admito.
Mas também característico das pessoas que adentram na profundidade das reflexões da vida e seu cotidiano "n"dimensional.
Clarice é um mistério para mim. Ainda hoje, mantenho uma relação de amor e ódio com seus escritos, que inclusive foi pauta de discussões com minha psicanalista há alguns anos.
Acabou por ser surpreendentemente um fio condutor de muitas descobertas pessoais.
Uma mágica.
Abs
Inexistem informações biográficas de Clarice Lispector ser depressiva. Ao contrário, tinha uma vida intensa de mãe, escritora e jornalista, como bem demonstra a obra que deixou.
Os depoimentos dos amigos e familiares são unânimes sobre ela ignorar a doença e a condição de inoperabilidade, mas eu duvido que assim fosse, tão sem pistas para uma mulher habituada a ver onde não se quer enxergar. Esse é um momento muito delicado para ser resumido em certezas. E isto nos demonstra Clarice nessa entrevista: as certezas são ilusões de ótica ou de rótulos, como bem demonstrou.
Embora resumisse que a vida para ela estava no ato de criar, sua afirmação referenciada de que falava naquele momento do próprio túmulo é inquietante, porque primeiro ilumina a dimensão de existirem mortes temporárias do psíquico em um corpo que se movimenta como invólucro de dores.
Se, por outro lado, assumimos que a escritora sabia de sua condição de saúde, a entrevista adquire uma dimensão ainda mais profunda de significados, por que se articula com a inquietude e a voz do morrer, essa dimensão que nós, médicos, pouquíssimo compreendemos
Oi Oliver,concordo com a sua forma de conceber a entrevista da escritora Clarice. Ontem, quando li o seu texto e a sua indicação da entrevista, fiquei pensando, e retornei ao passado,quando ainda era bem jovem.Naquela época li alguns poemas da autora que demonstravam que a vida é feita de incertezas, e muitas vezes ficamos sem respostas. Esses momentos reflexivos contribuiram com a forma que passei a enxegar o mundo.
Considero que você está de parabéns pelo seu comentário no qual transparece que é sensível.Estou sua fã no blog.
Abraços,
Consuelo.
Obrigado, Consuelo. Sempre benvinda.
Flanar,
Parabéns! Linda postagem. Admiro Clarice, seu mistério e mundo. Seus escritos se fazem presente em meu blog, sempre, inclusive foi uma de minhas últimas postagens.
Adorei!!!!
Bjs.
Mari (Pedra de Alquimia)
Ficamos agradecidos por sua presença. Clarice sem dúvida é uma viagem literária; o convite a uma aventura sem tempo ou lugar onde parar.
Abs.
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