O interminável embate entre a criminalidade e a sociedade vitimizada por ela se caracteriza, muitas vezes, por ações, reações, novas ações e conseqüentes novas reações, numa alternância em que cada jogada está um nível acima da anterior. Foi assim com os furtos de automóveis. Para se defender deles, criaram-se travas, mas os ladrões aprenderam a rompê-las. Então vieram os alarmes, mais sensíveis à simples violação do habitáculo. Mas também é possível desabilitá-los. Até que se os criminosos perceberam que era mais fácil esperar a vítima se aproximar do veículo para rendê-la. E o furto virou roubo, com maiores prejuízos emocionais e perigos potenciais à vida e à incolumidade pessoal das vítimas. Obviamente que isso não se deu nessa seqüência linear: tento apenas identificar os lances de cada lado.
Algo semelhante aconteceu com os ataques a usuários de caixas eletrônicos. Antes, podia-se sacar quaisquer quantias ou, pelo menos, valores bem altos. Devido aos assaltos, o sistema bancário criou limitações de saque por máquina. Então os criminosos passaram a seqüestrar as vítimas, levando-as de caixa em caixa, por vários pontos da cidade. Criaram, assim, o horário especial e a limitação de um único saque, em valor baixo (em geral 100 reais, hoje), por conta. E a bandidagem passou a manter o correntista seqüestrado por horas, até o término do horário especial e a possibilidade de realizar um saque elevado.
Recordei-me disso ontem, ao me lembrar que hoje precisaria votar. É que os cada vez mais audaciosos criminosos organizados do Rio de Janeiro, aproveitando-se de que atualmente um celular com câmera é item trivial, determinaram às comunidades que dominam que fotografassem a tela da urna eletrônica, para provar que haviam votado nos candidatos destinados a dar sustentação ao crime. Informada disso, a Justiça Eleitoral agiu rápido e proibiu câmeras fotográficas e celulares na seção eleitoral. Muito bom, mas eu me preocupo com as conseqüências.
Como a nova proibição foi divulgada há vários dias, os traficantes & cia. tiveram tempo para reagir. Não li nada a respeito, mas temo que a conseqüência seja, como normalmente é, uma agressão ainda mais violenta, que no caso seria passar a dizer, às comunidades, que se o candidato bandido não for eleito, haverá pesadas retaliações. Com isso, os moradores, apavorados, além de votar no mau elemento, ainda se tornarão multiplicadores da coação, arregimentando outros eleitores para ele. O medo consegue muita coisa.
Espero que este seja um dia de democracia, não de terror e ausência de liberdade. Um bom domingo de eleição para todos, a despeito de este ser o pleito mais vagabundo de que me recordo.
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