domingo, 16 de novembro de 2008

Beleza e bondade



Em O Véu Pintado (Record, 2005, trad. Hamilcar de Garcia), romance do inglês W. Somerset Maugham, de quem já falei aqui antes, Walter e Kitty Fane formam um casal inglês que vive em Hong Kong. Kitty trai Walter com um alto funcionário da administração britânica da colônia. Descoberto o adultério, Walter põe em prática um macabro plano de vingança: médico bacteriologista, resolve partir para a longínqua Mei-tan-fu, em uma remota província chinesa, disposto a cuidar de uma epidemia mortal de cólera que infesta a cidade. Leva a esposa na intenção de que ela contraia a doença e morra.

Alguns dias depois de sua chegada, Kitty é levada a conhecer o convento da localidade, cuidado por freiras francesas. Lá, experimenta a necessidade de uma busca interior de que ela não fazia idéia, e cuja resposta pode estar junto às religiosas. Assim é que pede e consegue um trabalho no claustro, cuidando de crianças chinesas abandonadas pelos pais e recolhidas pelas irmãs.

Em determinado momento, a Madre Superiora, ao entrar na sala onde Kitty estava, depara-se com ela brincando eufórica com as pequeninas, feliz como se tivesse a idade destas. Elogia-lhe a beleza e diz que certamente esta particularidade é um dos motivos pelos quais as crianças a adoram. Kitty cora, envergonhada. Então, a Madre lhe diz:

Ora, não seja tola. A beleza também é um dom de Deus, um dos mais raros e preciosos, e devemos ser gratos se temos a sorte de possuí-lo e, se não temos, gratos porque outros o possuam para o nosso prazer.

Beleza e bondade, no imaginário popular, ora andam juntos, ora são incompatíveis. São várias as histórias em que vilãos têm sua beleza destacada. O mito é muito bem explorado por Oscar Wilde em seu Dorian Gray, para ficarmos em um exemplo clássico.

Pois nesta segunda-feira, a atriz sul-africana Charlize Theron dará um golpe, senão fatal, fortíssimo no eventual preconceito contra pessoas (em especial mulheres) bonitas. Charlize será nomeada Mensageira da Paz pela Organização das Nações Unidas. Além da beleza inegável, a atriz fundou o Projeto Social África Charlize Theron, que se dedica a cuidar de crianças sul-africanas pobres, dando-lhes oportunidades de ascensão social.

6 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto. Belo gesto. Bela moça.

Um abraço.

Anônimo disse...

Francisco ,
Vive me ligando pra gente sair mas já falei que sou casado.
Abs
Tadeu

Anônimo disse...

Mas não é esta moça a atriz do filme, ou é? Não lembro seu nome, mas é linda. Naomi Watts, será?
Abs

Francisco Rocha Junior disse...

Linda mesmo, Bia. Linda e de bom coração.

Francisco Rocha Junior disse...

Tadeu,
Fui eu que dei a ela seu telefone, amigo. Pedi a ela que parasse de me importunar e pensei que você pudesse me ajudar nisso. Hehehehe...
Abração.

Francisco Rocha Junior disse...

Edyr,
Acertou na mosca. Há uma versão filmada do livro, chamada "O despertar de uma paixão", com a Naomi Watts (tão linda quanto a Charlize) e o excelente Edward Norton.
Há ainda uma outra versão cinematográfica, homônima do livro, com a Greta Garbo no papel de Kitty.
Abração.