É claro que eu acredito que um grupo de fazendeiros se concorciou e, através de intermediários, contratou pistoleiros para executar a freira Dorothy Stang. Isso é o que acontece a todo momento na Amazônia, notadamente no Pará, desde que começou o processo de ocupação no modelo explorador-predatório que vivemos até hoje. Todos sabemos que incontáveis fazendeiros grilaram terras ou as ocuparam à custa de violência, esbulho e assassinatos. Não há nada de novo nesse cenário. Daí resulta que a absolvição de Vitalmiro de Bastos Moura, o "Bida", acusado de ser um dos mandantes do crime, acolhida a tese ridícula de que os executores o fizeram de livre e espontânea vontade e iniciativa, foi um choque para o bom senso, revigorando as críticas à instituição do tribunal do júri.
A despeito disso tudo, penso que a imprensa está dando uma ênfase exagerada ao documento comprobatório de que outro suposto mandante - Regivaldo Galvão, o "Taradão", único ainda não julgado - se consideraria dono das terras objeto dos conflitos, em contrariedade às declarações dele mesmo, de que se desfizera delas anos antes. Digo isso porque, embora esse documento seja um importante desmentido, com ou sem ele a conjuntura sócio-econômica da região está delineada, assim como os interesses dos envolvidos. Stang era um empecilho a todos os "proprietários" rurais desonestos de Anapu, tivessem eles ou não problemas com ela. Eliminá-la, em última análise, seria útil para todos, sobretudo numa região em que se vive um faroeste caboclo, pois aí uma mão lava a outra.
Penso que o documento em apreço ajuda, mas não é uma prova incontestável de nada. Com o tratamento que se está dando ao caso, talvez se pretenda influenciar nos ânimos dos futuros jurados, tomando como verdade uma premissa construída. Nada garante que isso seria bom para a acusação. Pode ser um tiro no pé, a depender de como o outro lado explore a atuação da mídia. E o outro lado está, como sempre, muito bem assistido.
De minha parte, não preciso desse documento para formular minha opinião.
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